A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, desembarcou no Aeroporto Internacional de Taoyuan, em Taipei, na sexta-feira. Dois dias antes, ela havia se reunido com o líder da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Kevin McCarthy, em uma escala na Califórnia, ao fim de uma visita a Guatemala e Belize — dois aliados declarados da ilha democrática e capitalista. A resposta da China veio ontem, com três dias de exercícios militares no Estreito de Taiwan e um ensaio de "cerco total" à ilha.
Os testes ocorrem em áreas marítimas e no espaço aéreo do estreito, nas costas norte e sul da ilha, e no leste de Taiwan.
Pequim considera Taiwan parte indissolúvel do território chinês e uma província rebelde. Por isso, o governo de Xi Jinping e o Partido Comunista Chinês (PCC) vem a aproximação com os Estados Unidos como uma ameaça aos seus interesses e à sua soberania. Xi chegou a dizer que a "reunificação" com Taiwan "deve ser cumprida". Por sua vez, Taiwan entende ser um Estado soberano, com Constituição própria e governantes.
"As manobras servem como advertência severa contra o conluio entre as forças separatistas, que buscam 'a independência de Taiwan', e as forças externas e contra suas atividades provocadoras", advertiu, por meio de um comunicado, Shi Yin, porta-voz militar chinês. Ele acrescentou que atividades são "necessárias para salvaguardar a soberania nacional e a integridade territorial da China".
Pouco tempo depois, em declaração ao canal estatal CCTV, Shi deu mais detalhes sobre as manobras. "O exercício de hoje se concentra na capacidade de tomar o controle do mar, o espaço aéreo e da informação (...) para criar uma dissuasão e um cerco total de Taiwan", admitiu.
A agência de notícias estatal chinesa Xinhua informou que o Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação Popular Chinês (PLA) lançou "exercícios militares e patrulhas de prontidão para combate em torno da Ilha de Taiwan", os quais devem ser concluídos amanhã. Não foram divulgados números de embarcações e aeronaves envolvidas nas simulações de guerra. No entanto, a emissora CCTV anunciou que contratorpedeiros, navios rápidos com lança-mísseis, navios-tanque, rebocadores e caças foram mobilizados.
Alerta máximo
Em nota, o Ministério da Defesa de Taiwan alertou que os exercícios chineses "minam gravemente a paz, a estabilidade e a segurança da região". De acordo com a pasta, as Forças Armadas taiwanesas monitora a situação e permanecem em alerta máximo. Até às 16h de ontem (5h em Brasília), as autoridades de Taiwan tinham detectado nove navios de guerra e 71 aviões militares ao redor de seu território. "A China tem utilizado a visita da presidente Tsai e o trânsito nos EUA como desculpa para realizar os testes militares", denunciou a pasta.
Segundo o jornal Taipei Times, o Ministério da Defesa publicou um vídeo de 75 segundos no qual aparecem soldados municiando lança-mísseis e caças decolando. "Não buscamos escalada nem conflito, mas nos mantemos firmes, racionais e sérios para reagir", afirma o vídeo.
Em agosto, a China reagiu a uma visita da então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taipei com uma semana de manobras. Ontem, um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano pediu à China "moderação" e manutenção do status quo da ilha.