18/04/2023 às 07h04min - Atualizada em 18/04/2023 às 07h04min

Conselho a Lula: por que não muda de assunto?

Mediação não move impérios, ensina a História

Ricardo Noblat
Metrópoles

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que ontem reuniu-se com o chanceler russo Sergey Lavrov, o segundo homem mais poderoso do seu país, insiste em dizer que o Brasil não arredou pé da posição que adotou na Organização das Nações Unidas de condenar a Rússia por ter invadido a Ucrânia.

Segundo Vieira, ele defendeu junto a Lavrov um cessar-fogo imediato na Ucrânia e uma solução pacífica para o conflito. E recordou as manifestações recentes de Lula a favor da formação de um grupo de países para mediar as negociações entre a Rússia e a Ucrânia. “Tratamos de paz, não de guerra”, pontuou Vieira.

Pode ter sido. Mas o ministro precisa combinar com Lula para que ele não reforce a impressão de que o Brasil, sob o seu comando, começa a abandonar a neutralidade que é a marca registrada de sua política externa. Nos 4 anos de Bolsonaro, o Brasil alinhou-se incondicionalmente aos Estados Unidos de Trump.

Agora, ao desalinhar-se dos Estados Unidos de Biden, não tem porque alinhar-se ao outro lado. Quando Lula afirma que nem o presidente Vladimir Putin toma a iniciativa de parar a guerra, nem o presidente Zelensky, ele estabelece uma falsa equivalência. A Ucrânia é quem foi invadida, e é legítimo que se defenda.

Lula é ingênuo – ou simula ser – ao imaginar que mediação move os impérios. Nunca moveu. Impérios ganham ou perdem guerras. Ou na impossibilidade de ganhá-las, negociam um cessar-fogo com seu oponente ou batem em retirada. Foi assim no Vietnam. Na Coreia, nenhum dos lados se deu por vencido até hoje.

A China tem um plano de 36 pontos para mediar a guerra na Ucrânia e se ainda não o levou adiante é porque não conseguiu, ou porque a hora de fazê-lo ainda não chegou. Que plano tem Lula? Que importância tem o Brasil no cenário mundial para liderar um esforço de mediação? Se Lula tem algum plano, esconde.

Os Estados Unidos recusam-se a credenciar Lula para mediar qualquer coisa; valem-se da Ucrânia para enfraquecer a Rússia. É a guerra terceirizada. A China recebeu Lula com toda pompa e circunstância, mas também não o credenciou para ser mediador. Lula tenta obter da Rússia essa credencial.

Falta no governo Lula quem se disponha a fazer o papel que em 2007, em Santiago do Chile, durante a XVII Conferência Ibero-Americana de chefes de Estado, fez o rei Juan Carlos 1º, da Espanha, ao irritar-se com o presidente venezuelano Hugo Chávez que não parava de falar. A certa altura, o rei gritou:

“¿Por qué no te callas?”
Lula tem uma saída para o imbróglio em que se meteu, demasiadamente encantado com si mesmo, a pensar que só deve a eleição aos próprios méritos: hoje ou amanhã, o governo enviará ao Congresso o plano de gastos para os próximos anos. A agenda de assuntos internos poderá obrigá-lo a mudar de assunto. A ver.


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