19/04/2023 às 07h35min - Atualizada em 19/04/2023 às 07h35min

Discursos de Lula sobre a Rússia repercutem entre diplomatas

Lula deixou embaixadores de democracias consolidadas "surpresos e decepcionados" ao criticar os EUA, gratuitamente, nos Emirados Árabes, culpar a Ucrânia pelo confito e ainda receber o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov

​(crédito: Reprodução / TV Brasil)

Ao fazer declarações favoráveis à Rússia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou uma saia justa que pode comprometer a imagem do país no exterior. Provocou reações indignadas dos Estados Unidos e da União Europeia, chegando a ser chamado de "papagaio" de Moscou — sobretudo quando acusou-os de estarem prolongando a guerra ao ajudarem militarmente a Ucrânia.

Embaixadores em Brasília ficaram em dúvida sobre o que levou Lula a fazer um discurso na contramão das regras da diplomacia justamente quando visitava países com regimes autoritários — como China e Emirados Árabes Unidos. Lula deixou embaixadores de democracias consolidadas "surpresos e decepcionados" ao criticar os EUA, gratuitamente, nos Emirados Árabes, culpar a Ucrânia pelo confito e ainda receber o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov.

Para o diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, Lula está queimando um capital político que acredita ter. "Os EUA e a União Europeia têm razão ao criticar o governo brasileiro objetivamente, porque Lula fez o jogo da propaganda da Rússia", destacou. Ele criticou, inclusive, o fato de o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, evitar usar a palavra "guerra" para falar da invasão na Ucrânia. "Só falta ele falar em 'operação especial' como faz Putin. Ele está recebendo críticas de todo o mundo. Acho que não vi até agora nenhuma manifestação de apoio, a não ser de russos e chineses", destacou.

O diplomata Renato Marques, ex-embaixador na Ucrânia e em Belarus, ressaltou que o saldo da confusão diplomática — que fez Lula recuar, ontem, no discurso em relação à Ucrânia — será ruim para as ambições do Brasil de ser um pacificador. O país, segundo ele, poderia ser um candidato natural a integrar um esforço multinacional de paz quando as condições estiverem maduras, "mas está mais equidistante".

Para o economista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Simão Silber, o governo "está perdido". "O Brasil do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já era um pária global por causa dos retrocessos no Meio Ambiente e por negar a ciência durante a pandemia da covid-19. Ao sinalizar apoio à Rússia, não é posição de estadista, mas de sindicalista", lamentou.


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