Em discurso mais moderado sobre a Guerra da Ucrânia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, durante visita oficial Portugal no sábado (22), que "nunca igualou" as responsabilidades de Rússia e Ucrânia no conflito.
A fala contrasta com declarações anteriores do petista, que causou mal-estar entre aliados do Ocidente ao dizer, mais de uma vez, que os dois países eram responsáveis pela guerra e que EUA e União Europeia incentivavam, de certo modo, sua continuidade.
"Eu não fui à Rússia e não vou à Ucrânia. Eu só vou quando houver possibilidade de efetivamente ter um clima de construção de paz. Eu sempre fui uma pessoa que quer integridade territorial", afirmou ele.
Ainda assim, questionado por jornalistas Lula voltou a dizer que, a despeito da posição brasileira de condenar a agressão contra um Estado soberano, nem Kiev nem Moscou parecer querer parar o conflito.
"É melhor encontrar a saída em torno de uma mesa do que no campo de batalha", disse o petista. Questionado se ainda sustenta que a União Europeia colabora para a manutenção do conflito, disse que "se você não fala em paz, você contribui para a guerra".
Ele lembrou, claro, sua proposta pouco concreta de "clube da paz", que envolveria países como Brasil e China para buscar uma mediação para o cessar-fogo permanente. O presidente chegou a enviar Celso Amorim, seu assessor para política externa, a Moscou, onde o ex-chanceler vendeu a ideia a Putin.
Na sexta-feira (21), já durante a ida de Lula a Portugal, o governo sinalizou que Amorim, agora, deve ir a Kiev conversar com autoridades ucranianas. O presidente Volodimir Zelenski mais de uma vez convidou Lula a visitar seu país.
Em entrevista à revista americana Time, ainda quando era pré-candidato à Presidência, Lula disse que o presidente Zelenski era tão responsável quanto Putin pela guerra.
Ele também afirmou que os EUA e a União Europeia estimularam o conflito e fez duras críticas à ONU, que, segundo ele, "não representa mais nada" e "não é levada a sério pelos governantes".
Meses depois, durante rápida passagem por Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, Lula disse que tanto Moscou quanto Kiev são responsáveis pela guerra e por prolongar o conflito no Leste Europeu.
"Putin não toma a iniciativa de parar. Zelenski não toma a iniciativa de parar. A Europa e os EUA continuam contribuindo para a continuação desta guerra. Temos que sentar à mesa e dizer para eles: 'Basta'", disse. Ele acrescentou que a "decisão pelo conflito foi tomada por dois países".
Em seu primeiro compromisso oficial da viagem a Portugal, Lula foi recebido pelo chefe de Estado luso, Marcelo Rebelo de Sousa, que ouviu do brasileiro, ambos os países são ameaçados pelo extremismo político.
As declarações surgem no contexto em que o partido português de ultradireita liderado por um apoiador declarado de Jair Bolsonaro (PL), convocou manifestações nas ruas contra a presença de Lula em Portugal.
Em sua fala, o presidente brasileiro comparou o comportamento da extrema direita ao fascismo.