17/05/2023 às 06h59min - Atualizada em 17/05/2023 às 06h59min

Países limitam publicidade e criam restrições diante de escândalos de apostas esportivas

Nos EUA, as apostas legais ultrapassam R$ 1 trilhão desde 2018

​O West Ham é um dos clubes ingleses que tem uma casa de apostas como patrocinador master. Foto: Divulgação - West Ham
 

Legisladores e autoridades regulatórias que deram início à expansão descontrolada dos jogos de azar legalizados nos Estados Unidos estão agora se movimentando, em diversas regiões do país, para reforçar a fiscalização do setor. O principal alvo é publicidade, que pode influenciar apostadores menores de idade.

As medidas de repressão se estendem aos apostadores, já que pelo menos três estados americanos, diante do salto no número de casos de comportamento abusivo, responderam com medidas para barrar apostadores que ameaçam ou assediam atletas depois de perder apostas.

Essa abordagem mais agressiva com relação às apostas online é evidente em países do mundo todo, como Austrália, Bélgica, Canadá, Holanda e Reino Unido, onde as autoridades nos últimos meses colocaram em vigor ou propuseram novas restrições às apostas online –em alguns casos proibindo o uso de celebridades na divulgação bem como quase todas as formas de publicidade.

Nos Estados Unidos, 33 estados e o distrito de Columbia (a região da capital, Washington) oferecem apostas esportivas legais. Kentucky, Maine, Nebraska e Flórida estão a caminho de legalizá-las. Isso significa que mais da metade dos americanos vive em locais onde as apostas esportivas são permitidas, cinco anos depois de a Suprema Corte ter derrubado uma lei que proibia a maioria dos estados de legalizar a prática.

Coletivamente, as apostas legais dos americanos em esportes ultrapassaram US$ 220 bilhões (R$ 1 trilhão, na conversão atual) desde o processo judicial de 2018.

Nos Estados Unidos, os ajustes nas regulamentações e leis estaduais começaram no primeiro trimestre deste ano em estados como Nova York, onde as apostas esportivas móveis por meio de celulares atingiram um total de US$ 16,5 bilhões (R$ 81 bilhões), e extraordinários US$ 909 milhões (R$ 4,4 bilhões) em arrecadação de impostos e taxas de licenciamento foram registrados no primeiro ano em que a prática foi legalizada.

Mas o crescimento explosivo das apostas esportivas online também gerou preocupações crescentes de que elas possam causar danos. Nova York reagiu propondo novas regras que proíbem qualquer publicidade em campi universitários. Também impediu que a publicidade seja “destinada a pessoas com idade inferior à mínima” –21 anos, no estado. Já Ohio intensificou as ações de fiscalização.

“As pessoas estão despertando para a necessidade de intervir, e não esperar uma década e sofrer todo o impacto dos efeitos nocivos disso, especialmente sobre os menores de idade”, disse Matt Schuler, diretor executivo da Comissão de Controle de Cassinos de Ohio, que afirmou estar extremamente decepcionado com o conteúdo da publicidade em seu estado quando as apostas começaram, este ano. “O setor certamente nunca será capaz de se policiar sozinho.”

A estimativa é de que US$ 1,8 bilhão (R$ 8,8 bilhões) tenha sido gasto em publicidade de jogos de azar online no ano passado, nos mercados locais dos Estados Unidos, de acordo com a BIA Advisory Services –empresa que coleta dados sobre o setor. Isso representa um aumento de quase 70% em apenas um ano, o que contribuiu para a sensação de algumas autoridades regulatórias estaduais –e de muitos espectadores de esportes– de que as ondas de rádio e TV estão saturadas de publicidade sobre apostas esportivas.

Nos últimos seis meses, Maryland, Maine, Massachusetts, Ohio e Connecticut promulgaram ou propuseram novas regras relacionadas a apostas esportivas, algumas das quais já estão em vigor ou aguardando aprovação final. As medidas diferem de estado para o estado, mas a maioria visa impedir o marketing enganoso ou as promoções de apostas esportivas dirigidas a menores de idade.

O Maine propôs regras que permitiriam que comerciais televisivos de apostas esportivas fossem exibidos somente durante transmissões de jogos ao vivo, o que seria a norma mais restritiva dos Estados Unidos. O estado também proibiu anúncios que ofereçam bonificações para apostas e proibiu o uso de “personagens de desenhos animados, atletas profissionais ou olímpicos, celebridades ou artistas” na publicidade.

No mês passado, Massachusetts proibiu formalmente o marketing em campi universitários e a publicidade dirigida a menores de idade. Neste mês, o estado também se uniu a Nova York ao proibir que as empresas que fazem marketing de apostas esportivas recebam uma comissão sobre as apostas feitas por clientes que elas encaminham às plataformas, com base na preocupação de que esses acordos possam alimentar o problema do vício em jogo.

Brian O’Dwyer, presidente da Comissão de Jogos de Azar do Estado de Nova York, disse que as apostas esportivas em seu estado estavam gerando uma receita tributária inesperada. Mas, acrescentou, “temos de nos certificar de que não viciemos as pessoas, não promovamos o jogo problemático e certamente de que não promovamos o jogo para menores de idade”.

Maryland e Connecticut estão agindo, separadamente, para proibir as empresas de apostas de assinarem acordos com universidades públicas, sob os quais paguem às escolas para ajudá-las a comercializar suas plataformas de apostas esportivas.

“Em minha opinião, é revoltante”, disse Amy Morrin Bello, deputada estadual democrata pelo distrito de Wethersfield, em Connecticut, sobre os acordos que empresas assinaram com oito universidades em todo o país. Seu projeto de lei proibindo essas parcerias foi aprovado este mês por 142 votos a 0.
 
Morrin Bello e O’Dwyer disseram que as medidas regulatórias propostas por eles foram motivadas por uma reportagem do The New York Times no ano passado sobre o crescimento explosivo das apostas esportivas nos Estados Unidos, que destacava sua comercialização em campi universitários.

A comissão de controle de cassinos de Ohio impôs mais de US$ 800 mil (R$ 3,9 bilhões) em multas a empresas de apostas esportivas de janeiro para cá. Entre os infratores estava a DraftKings, uma das plataformas de apostas de maior destaque, que admitiu ter afirmado, ilegalmente, que os apostadores poderiam fazer apostas “grátis” e enviou por engano 2.582 anúncios para residentes do estado com menos de 21 anos de idade, instando-os a baixar seu app e receber US$ 200 (R$ 980) em apostas grátis.

A Penn Entertainment, outra grande empresa de apostas esportivas que opera sob a marca Barstool, foi multada separadamente, em fevereiro. No final do ano passado, no campus da Universidade de Toledo, a Barstool organizou um evento de futebol americano universitário para promover o app de apostas esportivas da empresa, apesar da proibição de publicidade direcionada a menores de 21 anos.
 
Nenhuma das duas empresas quis comentar.

Schuler disse que a aplicação da lei resultou em maior respeito às normas por parte dos anunciantes. Mas ele disse que ainda tinha preocupações, como os logotipos das empresas de apostas afixados nas camisas dos jogadores do time de futebol profissional sediado em Columbus, uma prática que ele classificou como “totalmente ofensiva”, já que esses jogadores são heróis para muitos jovens. “A ganância deles supera o bom senso que deveriam empregar para prevenir danos aos menores de idade”, ele disse, acrescentando que atualmente não tem autoridade para proibir os serviços de apostas patrocinadores de estampar sua marca em uniformes esportivos.

 
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »