28/05/2023 às 07h31min - Atualizada em 28/05/2023 às 07h31min

Brasileiros são espancados por seguranças de bar em Lisboa

Dois jovens, Luís Almeida e Jefferson Tenório, foram agredidos com chutes e socos apenas porque um deles insistiu em ir ao banheiro do bar Titanic Sur Mer. A prima de um dos jovens também levou um murro no rosto

​Jefferson Tenório, de 29 anos, é um dos agredidos pelos seguranças de bar em Lisboa - (crédito: Reprodução)

Lisboa — Dois brasileiros foram brutamente agredidos por seguranças de um bar, o Titanic Sur Mer, na madrugada de 22 de maio, na capital portuguesa. Luís Almeida, 30 anos, e Jefferson Tenório, 29, escolheram o local para encerrar um dia de muita diversão. Eles estavam mostrando Lisboa para a prima de Luís, Cinara, que mora da Itália, e resolveram encerrar a noite num dos pontos mais badalados da cidade. Não imaginavam que a noite acabaria em violência e num hospital, tamanha as agressões que sofreram.

Passava das três horas da manhã, quando Jefferson, com o bar já fechando, decidiu ir ao banheiro. Luís, que já estava do lado de fora com a prima, decidiu adentrar o estabelecimento novamente para também ir ao toilete, mas foi impedido por um dos seguranças, que o empurrou, dando início à confusão. O jovem explicou que o companheiro dele estava no banheiro e que ele aproveitaria para fazer o mesmo ante de seguirem para casa. Novamente ele foi empurrado. Ouvindo o burburinho, Jefferson saiu do bar e tentou se inteirar do que estava acontecendo. A partir daí, as cenas foram de selvageria.

Luís ainda tentou apaziguar os ânimos, dizendo para o segurança que o havia empurrado duas vezes que não tinha motivos para agir daquela maneira. Neste momento, outros dois seguranças do Titanic apareceram e começaram a agredir os rapazes. Um dele veio por trás e deu um soco na cara de Luís e um murro no rosto da prima dele. Jefferson tentou apartar a briga, mas também foi agredido. Ele, então, pegou uma pedra e jogou contra a vidraça do bar, que quebrou. Os três seguranças partiram para cima dele e o levaram para os fundos do estabelecimento. Os funcionários do Titanic não economizaram nas agressões.

Um casal que vinha em direção a Luís e Cinara disse aos dois que não fossem para atrás do bar, pois uma pessoa estava sendo violentamente espancada. Era Jefferson, que, para tentar escapar da surra, se jogou dentro do rio Tejo. Os seguranças também entraram na água e continuaram dando socos e chutes no rapaz. A barbárie só parou quando a polícia chegou. Jefferson estava com o rosto desfigurado. Os funcionários do Titanic tinham quebrado o nariz dele. Luís estava com hematomas em todo o corpo.

Descaso da polícia
Em vez, no entanto, de manterem os seguranças no local da violência para dar as devidas explicações, os policiais se preocuparam apenas em pedir a documentação das vítimas, tratadas, a todo momento, com rispidez e ironias. Mesmo com várias testemunhas por perto, os agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) só identificaram um agressor.

“Foi inacreditável. Nós éramos os agredidos, mas estávamos sendo tratados como bandidos. Em nenhum momento, os policiais foram atrás dos seguranças que nos bateram, só queriam saber se estávamos em situação regular em Portugal. Nos sentimos muito mal com tudo isso. Afinal, somos trabalhadores, pagamos impostos em Portugal, estávamos naquele bar somente para nos divertir”, diz Luís.

Como os dois brasileiros estavam muito machucados, acabaram sendo levados para um hospital. Jefferson teve de passar por uma cirurgia de mais de três horas para recompor o nariz. Ficou internado dois dias. Quando saiu do hospital, ele e Luís pediram ajuda ao Consulado do Brasil em Lisboa, que deu suporte jurídico e psicológico aos jovens. Os dois também foram à delegacia do Bairro Alto, onde a ocorrência foi registrada. Quando chegaram lá, encontraram os policiais que nada fizeram para protegê-los.

 “Quando nos viram chegar, se dirigiram a nós e perguntaram o que estávamos fazendo lá. Dissemos que queríamos ser ouvidos, pois, durante a elaboração do boletim, na porta do Titanic, praticamente não haviam nos deixado falar”, conta Luís, que, por anos, viveu em Brasília, onde mora parte da sua família. “Os policias nos disseram que o nosso caso não daria em nada”, acrescentou.

Mas, mesmo diante da pressão dos policiais, eles conseguiram ser atendidos pelo delegado de plantão, que anotou todo o relato dos brasileiros. Os dois alegaram que eram as vítimas no caso de violência e que gostariam que, no boletim de ocorrência, constasse o tratamento inadequado que tinham recebido dos policiais, pois isso seria importante quando o assunto chegasse aos tribunais.

O delegado, porém, se recusou a fazer esse registro sob a alegação de que o caso se viraria contra eles, que seriam malvistos. “Optamos, então, por deixar a delegacia. Estávamos nos sentimos desprotegidos. Quero acreditar que o tratamento que recebemos não tem nada a ver com homofobia nem com xenofobia e racismo”, afirma Luís.

Os dois jovens asseguram que, apesar da má-vontade dos policiais, vão levar esse caso até o fim. “Temos convicção de que fomos agredidos sem qualquer motivo. Não estávamos bêbados, não agimos com desrespeito. Só reagimos quando fomos alvos de violência”, ressalta Luís, nascido em Fortaleza, Ceará. Eles já contrataram advogados e têm vídeos e fotos do horror do qual foram vítimas e os laudos médicos, que descrevem as sequelas dos socos e pontapés que levaram.

“Neste momento, estamos fora de Lisboa. Precisamos nos afastar porque estamos assustados e revoltados”, frisou Luís. Jefferson natural de Arapiraca, Alagoas, ainda levará tempo para se livrar das sequelas. Procurada pelo Correio por meio de um celular divulgado em sua página na internet, a direção do Titanic não retornou à ligação. Também a PSP não se manifestou.

 
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