Amigos e familiares se despediram, na tarde deste domingo (11/5), de Alexandre Ribondi. O velório aconteceu na Casa dos Quatro, na Asa Norte, onde Ribondi era um dos sócios e trabalhava como ator e diretor.
Grande nome da cena cultural de Brasília, o ator, dramaturgo, jornalista, professor e escritor Alexandre Ribondi morreu no sábado (10/6), aos 70 anos, devido a complicações de um AVC (Acidente Vascular Cerebral).
“Perder Ribondi é se sentir pobre”
A atriz Iara Pietrikowski, 69 anos, é uma antiga amiga de Ribondi: “Meu relacionamento com Alexandre começou no final dos anos 1960, quando o desenvolvimento da cultura de Brasília estava muito centrado por conta de Laísa Derne, que liderou a formação dos artistas, atores, artistas plásticos que hoje estão na minha geração”.
A parceria que começou nos palcos se estendeu para a vida. “A gente carrega aqueles amigos que ficam dentro da gente, a gente vai carregando até o fim da nossa vida também porque eu sou o que eu sou, porque também encontrei o Ribondi na minha frente”, considera Pietrikowski.
A artista relembra do amigo como um homem muito consciente da vida no Brasil, que provocava e produzia arte com a acidez necessária. Por isso, o falecimento de Ribondi, que ocupava um “lugar insubstituível”, é também se “sentir mais pobre, é ficar com aquele vácuo”.
“Éramos como pai e filho”
Morillo Carvalho, de 38 anos, foi aluno e, “dois minutos depois”, se tornaram melhores amigos de infância. Na sequência, viraram sócios e abriram a Casa dos Quatro para iluminar a cena cultural de Brasília, onde trabalharam juntos nos últimos anos.
“O Ribondi me dava um trabalho do caramba porque a gente brincava que éramos pai e filho, numa relação no qual eu era o pai e ele era o filho. Era um brincalhão, uma das pessoas mais generosas que eu tive o prazer de conviver. Alguém capaz de refletir sobre todas as circunstâncias que nós vivemos em Brasília e no mundo, com criatividade, humor, generosidade, poesia”, diz Carvalho.
O amigo relembrou a importância do ator para o movimento LGBTQIAP+ no Brasil. Além de ter dedicado grande parte de sua carreira para tratar temas relacionados à causa, foi um dos fundadores do grupo homossexual Beijo Livre, na década de 1970, criado para ir contra a repressão contra pessoas da comunidade.
Por sua atuação artística e militância política, depois de ser preso e torturado, Alexandre precisou se exilar na Europa durante a Ditadura Militar, que durou de 1964 a 1985. Compreendendo a necessidade de sorrir após esse período da história do Brasil, passou a se dedicar nas comédias teatrais: “A gente tá aqui e, quando a gente lembra de alguma história, rimos. Pode observar, está todo mundo, mas em algum momento começa a rir”.
“O amor da vida de muita gente”
Sócio e ex-marido de Ribondi, Rui Miranda, de 58 anos, se despediu neste domingo do “maior piadista que já conheceu”. Eles se conheceram nos anos 90, em Portugal, quando o ator também atuava como jornalista, e depois seguiram suas vidas juntos.
Miranda relembra rindo que, durante uma viagem para Londres, pegaram uma mala por engano. Na hora de devolver, cercado por seguranças e funcionários do aeroporto, conseguiram ir embora “de fininho”.
“São muitas lembranças, muita coisa engraçada. A gente nunca tá preparado pra esse momento, inclusive ele era uma pessoa que não falava assim muito sobre a morte, evitava, mas é a única certeza que temos. Era uma pessoa muito querida e muito amorosa. Foi amor de muito tá gente aqui em Brasília, inclusive o meu”, fala.
“Uma Brasília que sente a falta dele”
Ludovico Ribondi, irmão do ator, diz que, mesmo com toda a dor por conta da perda, sente um certo alívio: “Estou assim mais leve porque o cara que estava lá na cama do hospital não era o Alexandre”.
“Desde 1977, ele estava aqui dizendo milhares de coisas. A marca dele está na cidade, não só no Plano Piloto, mas principalmente na periferia, com gente que ele trabalhou. Existem Brasílias e tem uma Brasília que sente falta dele”, considera.
Relembre a Trajetória de Ribondi
Ribondi nasceu no Espírito Santo, em 1952, e se mudou para Brasília em 1968. Estudou jornalismo na Universidade de Brasília e, em 1974, mudou-se para França, onde estudou História da Arte na Université de Provence. Passou os anos 1990 em Portugal, onde foi editor de polícia de um jornal em Porto.
De volta a Brasília, adentrou na área teatral, se unindo a pessoas que topavam encenar peças em espaços públicos, em espetáculos mambembes, improvisados. O artista tem cerca de 30 peças escritas e apresentadas por todo Brasil.
Seja em suas peças teatrais ou seus trabalhos como escritor, Ribondi sempre deixou claro sua luta em prol dos direitos da comunidade LGTQIAP+.