No último dia de sua agenda na Europa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente as exigências ambientais da União Europeia (UE) para finalizar o acordo comercial com o Mercosul — bloco formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Lula classificou como "uma ameaça" a carta enviada pela UE ao Mercosul, em março, na qual faz uma série de imposições. Segundo ele, o documento "não permite que se faça um acordo". As negociações para o pacto já duram mais de 20 anos.
"Os acordos comerciais têm de ser mais justos. Estou doido para fazer um acordo com a União Europeia, mas não é possível. A carta adicional que foi feita pela UE não permite que se faça um acordo", frisou Lula no discurso de encerramento da Cúpula Por um Novo Pacto Financeiro Global, que teve início na quinta-feira. "Vamos mandar a resposta, mas é preciso que a gente comece a discutir. Não é possível que nós tenhamos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo uma ameaça a um parceiro estratégico. Como a gente vai resolver isso?", questionou, ao lado do presidente francês, Emmanuel Macron.
A França é um dos países que cobram obrigações e punições para os países caso não cumpram os termos de proteção do meio ambiente, inclusive os previstos no Acordo de Paris.
O presidente brasileiro vem criticando reiteradamente as exigências. Entre os pontos questionados por ele está o fato de a UE ficar responsável por determinar se os termos foram seguidos, quando o próprio bloco europeu não os cumpre.
A Cúpula em Paris reuniu chefes de Estado de todo o mundo para reforçar os mecanismos de apoio aos países do Sul Global no combate à desigualdade e às mudanças climáticas.
No encontro, Macron prometeu que as nações desenvolvidas vão pagar às que estão em desenvolvimento os US$ 100 bilhões acordados em 2009 para o financiamento de medidas ambientais.
Em eventos internacionais, tanto Lula quanto a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, pressionam publicamente pelo pagamento. Macron anunciou, ainda, a criação de um fundo mundial destinado à proteção da biodiversidade e das florestas.
O petista também voltou a defender uma reforma dos mecanismos internacionais, incluindo as instituições financeiras e o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para fomentar a participação dos países em desenvolvimento.
Ele ainda celebrou os esforços para negociações em moedas que não sejam o dólar. "Tem gente que se assusta quando eu falo que é preciso criar novas moedas para a gente fazer comércio. Por que eu tenho que comprar dólar? Essa discussão está na minha pauta e, se depender de mim, vai acontecer na reunião dos Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em setembro. E vai acontecer também na reunião do G20", frisou.
Além do acordo UE-Mercosul, no almoço de trabalho que tiveram, Lula e Macron conversaram sobre a guerra na Ucrânia, o combate às mudanças climáticas e a parceria estratégica entre os países na área de defesa, especialmente em torno do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub).
Príncipe saudita
Havia um jantar previsto na Residência Oficial da Arábia Saudita, em Paris, com o príncipe saudita Mohammed bin Salman al Saud, o mesmo que deu joias em diamante para o então presidente Jair Bolsonaro, em 2021, e que foram apreendidas pela Receita Federal. O encontro, porém, foi retirado da agenda em cima da hora.
Mohammed bin Salman é o premiê de seu país e acusado de violações dos direitos das mulheres e das pessoas LGBTQIAPN , além de ter autorizado o assassinato de um jornalista em 2018.