O vice-presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Ricardo Vale (PT), vai requisitar as informações do inquérito aberto pela Polícia Civil (PCDF) para investigar um episódio envolvendo um deputado, um assessor e uma prostituta. A garota de programa, de 25 anos, fez registrou boletim de ocorrência acusando Marco Aurélio Oliveira Barboza, assessor do distrital Daniel Donizet (PL), de agressões físicas e sexuais. Segundo ela, o deputado teria ouvido e percebido os crimes, que ocorreram em um motel.
Em nota, Ricardo Vale chamou a denúncia de grave e prometeu acompanhar as apurações. “A denúncia de violência física e sexual contra uma garota de programa por um assessor da CLDF é grave e, além da investigação criminal, contará com o olhar atento da Comissão de Direitos Humanos e da Vice-Presidência da Casa.”
Afirmando ainda que “nenhum tipo de agressão à mulher será tolerada”, o vice-presidente da CLDF adiantou que vai pedir informações do inquérito, “para acompanhar passo a passo desse caso”, nessa segunda-feira (17/7).
Socos, tapas e stealthing: o que aconteceu entre prostituta e assessor de deputado em motel
Quem também pediu informações sobre o crime foi a Procuradora Especial da Mulher da Câmara Legislativa, doutora Jane (MDB). Ex-delegada, ela solicitou à Polícia Civil dados relacionados à ocorrência, informações sobre auxílios prestados à vítima e colocou a Procuradoria da Casa “à disposição como instrumento na garantia dos direitos constitucionais da mulher e no combate à violência contra a mulher”.
Entenda o caso
O crime teria ocorrido em um motel, no Núcleo Bandeirante, em março deste ano. Para a polícia, a acompanhante de luxo disse que, além de ter recebido tapas e socos, Marco Aurélio teria retirado o preservativo e forçado sexo com ela contra a sua vontade. A prática é denominada de “stealthing” e pode caracterizar crime de violação sexual mediante fraude. Dentro do quarto de motel, estariam outras duas garotas de programa e o deputado Daniel Donizet.
A vítima registrou boletim de ocorrência dias após os supostos crimes, que foram investigados pela 11ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante). Em depoimento, outra acompanhante contou que um homem, desconhecido dela, a convidou para ir ao motel. A mulher não se recorda das características do referido carro, mas que nele estavam dois homens, sentados na frente, e três mulheres. Em determinado momento, diz ter ouvido a pronúncia dos nomes “Daniel Donizet” e “Marco Aurélio” , sendo ditos pelos indivíduos.
O grupo ocupou um único quarto, dividido em três andares. Segundo a acompanhante, a vítima e um homem ficaram no primeiro andar, de onde ouviu que eles mantinham relações sexuais, tratando-se de gemidos altos, e não de gritos como os de alguém que estaria sendo violentada física ou sexualmente.
Após cerca de uma hora, a suposta vítima e o homem se juntaram ao resto do grupo. A testemunha detalha que, em momento algum, a mulher disse ou demonstrou ter sofrido as agressões relatadas posteriormente. No entanto, a garota de programa que denunciou os crimes alegou que estava cansada e não se sentia bem, indo embora do local.
Logo depois, a testemunha recebeu a ligação de uma gerente do motel onde estavam, pois a outra acompanhante de luxo havia afirmado que foi agredida. Ela contou desconhecer as ocorrências.
Segundo a acompanhante de luxo apontou, momentos antes de deixar o quarto do motel, a vítima ligou para que um conhecido a buscasse. Por fim, a testemunha recebeu o pagamento da colega e o repassou, via Pix, para um amigo desse conhecido.
De acordo com a funcionária do motel, a vítima frequentou poucas vezes o ambiente e, após o ocorrido, trocou mensagens com a mulher. Na situação, a acompanhante disse apenas que “algo havia acontecido com ela”, sem especificar o que seria.
Homens negam crime
Durante as investigações, informações iniciais apontaram que o homem que acompanhou Marco Aurélio, junto às prostitutas no motel, não era Daniel Donizet, mas, na verdade, um corretor de imóveis que trabalhou na campanha eleitoral. Ele, inclusive, seria o dono do carro que levou o grupo. O homem acredita que a vítima pode ter se confundido por ouvir o nome de Donizet durante conversas.
O corretor de imóveis informou ter feito sexo com duas garotas de programa, mas que em nenhuma das ocasiões praticou alguma violência sexual, física ou psicológica contra as mulheres. Além disso, nega ter visto, ouvido e percebido qualquer crime.
Marco Aurélio não se recorda do nome de Donizete ter sido objeto de conversas mantidas pelo mencionado grupo na noite dos fatos investigados. O assessor informou que não fez nenhum ajuste do encontro com as prostitutas, e que outro colega teve relações sexuais com a suposta vítima; das quais ouviu apenas gemidos normais.
Momentos depois, a vítima pediu para fazer sexo com o assessor e ele aceitou. Marco Aurélio afirma que não houve agressões físicas ou gritos, mantendo apenas uma relação sexual normal. Segundo ele, a prostituta não apresentava marcas de agressões após o ato.
Nota de Daniel Donizet
O gabinete do deputado Daniel Donizet se pronunciou por meio de nota. “Trata-se de uma denúncia infundada. O deputado Daniel Donizet não estava presente no local e não participou do evento. O inquérito policial corre em sigilo e, por essa razão, não pode passar outras informações sob pena de atrapalhar as investigações. Marco Aurélio segue lotado no gabinete.” O Metrópoles não conseguiu contatar a defesa de Marco Aurélio. O espaço segue aberto para manifestações.