23/06/2017 às 23h09min - Atualizada em 23/06/2017 às 23h09min

Em áudio, Alberto Fraga reclama do valor de suposta propina no transporte

Conversa foi gravada em 2009, quando ele era secretário da gestão Arruda, e obtida pela TV Globo com exclusividade. Deputado foi denunciado pelo MP e aguarda julgamento; defesa nega

TV Globo

Gravação obtida com exclusividade pela TV Globo mostra o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) supostamente discutindo propina. Os áudios mostram uma conversa do político com representantes de cooperativas de micro-ônibus e foram gravados em 2009, quando Fraga era secretário de Transporte do governo de José Roberto Arruda (PR).


No diálogo, Fraga questiona interlocutores sobre o valor dos repasses. Segundo o Ministério Público, essas cifras se referem a propina paga por cooperativas, no processo de substituição das vans por micro-ônibus. A defesa de Fraga nega as acusações.


Em um dos áudios obtidos pela TV Globo, segundo o MP, Alberto Fraga questiona porque estaria recebendo valores menores que seu assessor à época, o subsecretário Júlio Urnau. O interlocutor é identificado pelo Ministério Público como Jefferson Magrão, representante do político junto às cooperativas. A TV Globo não conseguiu contato com as defesas de Urnau e Magrão.


Alberto Fraga: Agora tá explicado, as coisas acontecendo e eu com cara de babaca aqui, entendeu? E o cara, você veja, o cara ganhou com isso aí, o que é que acontece? Ele, ele ganhou muito mais dinheiro, vamos dizer assim, do que o próprio secretário.


Jefferson Magrão: Deitou e rolou.


Fraga: Deitou e rolou. É por isso que o Arruda, constantemente, me dá uma 'espetada'.


A denúncia
A operação Régin foi deflagrada pelo Ministério Público e pela Polícia Civil do DF em 2011. Citados no inquérito, Fraga, Urnau e o ex-assessor José Geraldo de Oliveira Melo são acusados por organização criminosa e concussão – quando um agente público exige vantagem própria para realizar uma contratação.


Segundo o inquérito, o grupo chegou a receber mais de R$ 800 mil de uma única cooperativa, a Coopatag. Na época, a entidade conseguiu uma decisão judicial para retornar à licitação, depois de ser considerada "inabilitada" para o contrato. Mesmo com a sentença em mãos, a Coopatag teve de pagar propina para voltar a concorrer, diz o MP.

 

O valor de R$ 800 mil – supostamente reajustado para cima pelo próprio Fraga – teria sido pago em três parcelas, entregues no Aeroporto JK, no Jardim Zoológico e no Núcleo Bandeirante. De acordo com as investigações, a Coopatag só voltou para a disputa da licitação quando a primeira parte do valor já tinha sido paga.


A denúncia contra Fraga foi apresentada ao Tribunal de Justiça do DF em 2011. Em 2014, quando ele foi eleito deputado federal e ganhou foro privilegiado, o processo "subiu" para o Supremo Tribunal Federal. A ação penal está nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, mas ainda não foi julgada.


Intimidação
Segundo o inquérito, Fraga também intimidou representantes de cooperativas, na tentativa de entender a suposta propina recebida por Júlio Urnau. Em outro áudio, o deputado conversa com Magrão e o então presidente da Associação das Cooperativas de Ônibus do DF, Fontidejan Santana.


Na conversa, Fraga pergunta a Santana sobre um repasse de R$ 1,5 milhão que teria sido feito a Júlio. Em resposta, ouve que o valor real era ainda maior, de R$ 1,7 milhão.


Fraga: Bem, eu acho que... tem um tititi danado, né, na cidade e aí talvez (...) existe os comentários. Mas o que me disseram, Santana, é que você teria dado pro Júlio um milhão e quinhentos mil reais.


Santana: Hunrum.


Magrão: E aí?


Santana: E não foi só eu que dei, né?


Magrão: [Repete] E não foi só eu que dei.


Ouve-se risos ao fundo, e um dos envolvidos fala: "Isso, eu gostei de ver".


Fraga: Aí, aí é que tá. Mas aí, o outro seria então o Noel. Diz que o Noel deu um milhão e setecentos?


Magrão: O [Manco].


Santana: Eu num sei quanto é que ele deu, mas...


Magrão: O [Manco], o [Manco deu].


Fraga: Agora, Santana, como é que você, sabendo o meu jeito de ser, como é que você entra numa dessa?

 

Santana: Você não estava aqui. Você não estava aqui. Se você estivesse aqui, eu num teria feito. Eu tinha vindo aqui conversar, você não estava.


Magrão: Você se lembra aquela vez que o Santana pagou... quando nós entramos na licitação, o Santana num pagou um milhão e setecentos, foi? Foi um milhão e setecentos. Um milhão e setecentos que ele depositou e depois num conseguiu o resto e o dinheiro ficou preso?


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