Após dois dias consecutivos de ataques a instalações portuárias na cidade ucraniana de Odessa, Moscou advertiu que, a partir de hoje, vai considerar como possíveis alvos os navios que navegarem nas águas do Mar Negro em direção ao país vizinho, invadido por ordem do Kremlin em fevereiro do ano passado. Em comunicado, o Ministério da Defesa da Rússia assinalou que esses barcos serão considerados potenciais transportadores de carga militar para a Ucrânia. "Os países de bandeira dessas embarcações serão considerados parte do conflito", frisou a nota.
No início da semana, a Rússia anunciou o fim do acordo que garantia a exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro. A medida, embora já especulada, foi divulgada após um ataque com drones à Ponte Kerch, na península ucraniana da Crimeia, anexada por Moscou em 2014. Kiev assumiu a investida. A partir daí, começou a ofensiva em Odessa, de onde saem exportações ucranianas de cereais, essenciais para o abastecimento mundial.
Ontem, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou Moscou de mirar "deliberadamente" contra as infraestruturas de exportação de grãos, criando riscos de abastecimento para os países mais vulneráveis. Kiev contabilizou 60 mil toneladas de grãos prontos para exportação destruídas no porto de Chornomorsk.
O exército russo, por sua vez, diz que os ataques em Odessa tinham como alvo locais militares ucranianos, incluindo "infraestrutura para combustível e depósitos de munição".
Exigências
A recusa de Moscou em estender o acordo, firmado em julho do ano passado, reavivou os temores de uma crise alimentar. Ontem, durante reunião com sua equipe de governo, transmitida pela tevê estatal russa, o presidente Vladimir Putin cogitou a possibilidade de retomada do acordo. Insistiu, porém, que isso só ocorrerá se a "totalidade" de suas demandas for aceita, caso contrário, o acerto "não faz mais sentido".
"Vamos considerar a possibilidade de voltar (ao acordo), com uma condição: que todos os princípios sob os quais a Rússia concordou em participar do acordo sejam levados em consideração e totalmente cumpridos", disse o líder russo.
Alvo de fortes sanções ocidentais desde o início de sua intervenção na Ucrânia em fevereiro de 2022, exige o cumprimento da disposição do acordo que lhe permite exportar seus produtos agrícolas e fertilizantes. Segundo Moscou, suas entregas foram prejudicadas pelas punições impostas pela comunidade internacional.
"Em vez de ajudar os países que realmente precisam, o Ocidente usa o acordo de cereais com fins de chantagem política e como ferramenta de enriquecimento de multinacionais e especuladores no mercado mundial", afirmou Putin.
O governo de Putin reivindica que bancos e instituições financeiras possam recuperar o acesso ao sistema bancário internacional SWIFT, do qual foram banidos após o início da invasão à Ucrânia. O setor agrícola russo, um dos maiores exportadores de grãos do mundo junto da Ucrânia, também enfrenta falta de peças de reposição para maquinário e indústria, além de problemas com seguros de navios.
O Kremlin requer ainda que o oleoduto que liga a cidade russa de Togliatti à cidade portuária ucraniana de Odessa, usado para a exportação de amônia, um componente essencial dos fertilizantes, volte a funcionar.
Remoção de civis
Em meio a essa queda de braço, a Rússia tenta controlar um importante incêndio em um terreno militar na Crimeia, que provocou a evacuação de 2 mil moradores. As autoridades não informaram a origem do fogo, mas alguns meios de comunicação russos mencionaram terem ouvido explosões na área.
Kiev não se pronunciou sobre o assunto, e as autoridades russas afirmaram ontem que ainda estavam investigando a situação. A Crimeia tem sido frequentemente alvo de ataques desde o início da operação militar russa contra a Ucrânia.