Dados divulgados pelo Serviço de Limpeza Urbana do DF (SLU) apontam que os resíduos orgânicos, como sobras de alimentos, cascas de frutas e folhas, correspondem a aproximadamente metade do lixo produzido no Brasil. Apesar de serem considerados recicláveis para a produção de fertilizantes, a maior parte acaba encaminhada para aterros sanitários, reduzindo a vida útil desses locais.
Uma solução sustentável para reutilizar esses materiais e reduzir o impacto negativo é a compostagem, prática que consiste em aproveitar os micro-organismos presentes na matéria orgânica para transformar os resíduos em fertilizantes.
A compostagem traz diversos benefícios para o meio ambiente e para a sociedade, como redução do volume de lixo enviado aos aterros sanitários e diminuição dos custos de transporte e disposição final. Além disso, evita a emissão de gases de efeito estufa e produz adubo rico em nutrientes e matéria orgânica.
Composteira comunitária
Para auxiliar na adoção da compostagem de resíduos orgânicos, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) elaborou um manual para condomínios domiciliares. O documento ensina como montar e operar uma composteira utilizando materiais simples e acessíveis e explica os benefícios ambientais, sociais e econômicos da compostagem, além de orientar sobre a separação e destinação adequada dos demais tipos de resíduos gerados nas residências.
O Sudoeste foi a primeira região administrativa de Brasília a receber uma composteira pública urbana a partir desse modelo. O equipamento foi construído pela administração regional em parceria com o SLU e inaugurado em junho do ano passado. A composteira é utilizada para transformar resíduos orgânicos em adubo e atende a produção da horta comunitária, próxima ao Parque Bosque do Sudoeste. O equipamento segue modelo construído na Usina de Tratamento Mecânico Biológico do SLU no P Sul, em Ceilândia.
Processo da compostagem
O tempo para o adubo ficar pronto depende de alguns fatores, como o tamanho da compostagem, a quantidade de água e o tipo de resíduos orgânicos. Normalmente, o processo completo leva 90 dias. Quanto menores forem os pedaços dos resíduos, mais rápida será a decomposição. Também é importante manter a umidade adequada, nem muito seca nem muito molhada, para facilitar a ação dos micro-organismos que transformam o material orgânico em adubo.
Após esse período, a camada inferior do sistema estará pronta para ser retirada, gerando um adubo orgânico de alta qualidade que pode ser utilizado em áreas verdes de condomínios, hortas, vasos de plantas, entre outros.
A compostagem não gera mau cheiro, desde que seja feita de forma correta. Na composteira, os resíduos orgânicos se decompõem na presença de oxigênio, evitando geração de odores desagradáveis. Para isso, é preciso fazer uma mistura equilibrada entre os resíduos úmidos (como cascas de frutas e verduras) e os secos (como folhas secas e serragem), que ajudam a arejar o sistema e evitar o excesso de umidade. Também é recomendável cobrir cada camada de resíduos com uma camada de terra ou composto pronto, para evitar o contato direto com o ar e atrair insetos indesejados.
A compostagem também não gera chorume, mas um líquido que pode ser utilizado como fertilizante de solo e pesticida natural. Esse líquido contém nutrientes e enzimas que ajudam no crescimento e na proteção das plantas contra pragas e doenças. Para utilizá-lo como fertilizante nas plantas, é preciso dissolver cada parte do material em dez partes de água.
O uso do composto orgânico não tem nenhuma contraindicação ou intolerância para as plantas. É recomendado para culturas em geral, como de hortaliças, viveiros de flores ou de mudas, jardins e vasos de plantas. O composto melhora as características físicas, químicas e biológicas do solo, aumentando a fertilidade e a capacidade de reter água e nutrientes, além de reduzir o uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos.
Minhocário caseiro
A compostagem domiciliar com minhocário caseiro também é uma forma simples e ecológica de transformar os resíduos orgânicos domiciliares em adubo para as plantas. O SLU disponibiliza também um material sobre a construção de um minhocário em casa para o aproveitamento dos resíduos orgânicos.
Para fazer um minhocário caseiro, são necessários três baldes com tampa e minhocas. Os baldes devem ser empilhados de forma que o de cima receba os resíduos orgânicos e as minhocas, o balde do meio sirva como reserva quando o balde de cima encher, e o balde de baixo colete o líquido produzido pela decomposição dos resíduos. As minhocas são responsáveis por transformar os resíduos orgânicos em húmus, um adubo rico em nutrientes e benéfico para o solo.
Compostagem obrigatória
No Distrito Federal, a Lei nº 6.518, de 12 de março de 2020, tornou obrigatória a compostagem dos resíduos orgânicos para entidades públicas, privadas e condomínios residenciais e comerciais. A lei estabeleceu um cronograma progressivo para que esses geradores destinem seus resíduos orgânicos para tratamento por processos biológicos, como a compostagem. A meta é que, até junho de 2024, 100% dos resíduos orgânicos sejam tratados dessa forma.
Composto de lixo
Nos primeiros seis meses de 2023, SLU processou uma média mensal de quase 25 mil toneladas de resíduos nas usinas de tratamento mecânico biológico (UTMBs) da Asa Sul e do P Sul.
Nesses locais, os resíduos da coleta convencional passam por triagem para a retirada dos recicláveis e rejeitos, enquanto a parte orgânica é triturada para a produção do composto. O material produzido é doado para produtores rurais do Distrito Federal, em parceria com a Emater-DF.
Apesar dessa iniciativa, o SLU ainda estima que a quantidade de resíduos orgânicos recebidos no Aterro Sanitário de Brasília pode chegar a 65% das cerca de 2 mil toneladas de resíduos aterradas diariamente.
*Com informações do SLU