28/06/2017 às 11h01min - Atualizada em 28/06/2017 às 11h01min

​Excesso de provas

Para absolver Michel Temer, é preciso imitar o TSE e jogar fora todas as provas contra ele. É o que diz Merval Pereira, em O Globo:

O Antagonista



“O excesso de provas anda prejudicando a efetividade de nosso sistema judicial. Já aconteceu antes no julgamento da chapa Dilma-Temer pelo TSE, está acontecendo agora na Câmara em relação ao processo apresentado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Temer.
Nesse caso, temos não apenas as delações dos executivos da JBS, mas, também, a gravação do próprio presidente combinando, de viva voz, encontros clandestinos ‘sempre pela garagem, viu’, manobras escusas para garantir o silêncio de um preso (‘O Eduardo também?’) e a indicação de um intermediário, o ex-assessor Rodrigo Rocha Loures (‘Pode passar por meio dele, viu?’). Passar o que, cara-pálida?
Dias depois, aparece o mesmo Rodrigo, ‘da minha mais estrita confiança’, segundo Temer, correndo apressado com uma mala pelas ruas de São Paulo, mala que, devolvida depois que soube que havia sido filmado pela Polícia Federal, continha R$ 500 mil, primeira parcela de muitas, negociação que a polícia também gravou, para que a JBS pudesse comprar diretamente gás da Bolívia para uma termelétrica cujo fornecimento era exclusivo da Petrobras.
O presidente Temer foi à televisão para dizer que a denúncia está baseada em ‘ilações’… Mas os novos diálogos surgidos da perícia no áudio são mais do que reveladores.
Quando o empresário Joesley Batista diz que zerou as pendências, aparece pela primeira vez Temer dizendo ‘tudo’. Antes de dizer a famosa frase onde tudo começou (‘tem de manter isso, viu?’), Temer diz: ‘Muito bem’, para comemorar o relato de que tudo estava acertado, de que estava bem com o Eduardo (Cunha). E pela primeira vez surge a voz de Temer perguntando, quando Joesley relata que todo mês está dando um dinheiro para manter o doleiro Funaro calado na prisão: ‘O Eduardo também?’, o que o interlocutor confirma.
Depois, tem Temer falando sobre os juízes, que Joesley diz que está controlando: ‘Essa situação é perigosíssima’, como que ensinando. E aparece pela primeira vez Temer dando o nome de ‘Rodrigo’ como o interlocutor da mais estrita confiança. Antes sabíamos que era o Rodrigo apenas pela pergunta do Joesley: ‘É o Rodrigo?’
Para fechar a conversa, em um trecho do áudio entre Michel Temer e Joesley Batista periciado pela Polícia Federal, o presidente recomenda ao executivo da JBS que sempre entre pela garagem do Palácio do Jaburu. Temer: ‘Pela garagem’. Joesley: ‘Pela garagem’. Temer: ‘(lninteligível) ...Sempre pela garagem, viu?’ (…).
Não é preciso muita ilação para entender o que se passou naquela noite nos porões do Jaburu que suscitou o processo da Procuradoria-Geral da República”.
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