02/12/2023 às 06h35min - Atualizada em 02/12/2023 às 06h35min

Milei confirma o peronista Scioli no Brasil e manda recado para Lula

Ida de Lula não é desejada por argentinos que temem o constrangimento de Milei, durante a posse, em um Congresso com maioria de esquerda. Mesmo depois dos discursos inflamados da campanha, eleito vem sinalizando querer manter uma boa relação com o Brasil.

​Embaixador Daniel Scioli, em encontro com o ex-presidente Bolsonaro: mantendo relações com o Brasil - (crédito: Marcos Corrêa/PR )

O embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, seguirá no cargo durante o governo do presidente eleito Javier Milei. O peronista Scioli, que quase ganhou a presidência argentina em 2015 — quando concorreu contra Maurício Macri, mas perdeu no segundo turno por uma pequena margem —, é mais uma sinalização de Milei de que pretende manter em bom tom as relações bilaterais com o Brasil.

“O presidente Milei convidou em uma carta especial ao presidente Lula para a sua posse e espera que os dois países recomecem um trabalho renovado, com novos objetivos em comum”, disse o embaixador sobre a postura do presidente que assume no dia 10 de dezembro.

Scioli acredita que as relações entre os dois países devem seguir com normalidade. Mesmo antes da confirmação de que Milei o manteria no cargo de embaixador, ele já vinha conversando com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e com o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, além de outros integrantes do governo Lula com o objetivo de distensionar as relações com o presidente eleito.

Brasil e China
A confirmação de Daniel Scioli como embaixador no Brasil agradou muito aos integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi vista como um sinal de boa vontade do presidente eleito, que segue dando provas que deve abandonar as bravatas eleitorais e assumir uma política bem mais convencional nas relações bilaterais tanto com o Brasil quanto com a China. Somadas, as duas economias representam mais de 70% das exportações do vizinho.

“Assim foi interpretado também por parte do governo brasileiro que me conhece e sabe da minha experiência na defesa dos interesses argentinos e na relação com o Brasil”, respondeu Scioli quando questionado pelo Correio se via a sua manutenção no cargo como um gesto de boa vontade de Milei para com o governo brasileiro.

Apesar dessas demonstrações de boa vontade, ainda é considerada improvável a ida do presidente Lula à posse do novo mandatário da Argentina. Do lado brasileiro, o entendimento é de que Milei não se desculpou pelas agressões pessoais que fez contra Lula durante a campanha eleitoral.

Mas também há objeções do lado argentino. Aliados do futuro chefe de Estado argentino temem que a presença de Lula possa ser constrangedora, não para o brasileiro, mas para Milei.

Como a posse ocorrerá no parlamento, onde a maioria dos deputados é peronista, há o receio de que na festa que deveria ser de Milei, seja Lula o celebrado como um protesto do peronismo.

Reservadamente, um diplomata comentou que a segurança para Lula não seria problema, mas um protesto dos deputados peronistas, responsáveis por dar posse ao novo líder argentino, seria incontrolável e constrangedor.

Cúpula do Mercosul
Com o Brasil na presidência rotativa do Mercosul, integrantes do governo, preocupados em aproximar Milei das discussões do bloco, sinalizavam com a possibilidade de o eleito participar da próxima reunião da Cúpula do Mercosul, em 7 de dezembro, no Rio de Janeiro, como convidado. A possibilidade já foi descartada pelo embaixador argentino.

Segundo fontes ouvidas pela reportagem, Milei busca distensionar as relações exteriores e se dedicar apenas aos assuntos internos. A meta imediata é o grande pacote de choque econômico que espera apresentar ao congresso ainda na sessão extraordinária que será chamada no seu segundo dia de mandato.

Sem comentar sobre a participação da Argentina nos Brics, Scioli disse que seu papel é de cuidar da relação entre o Brasil e a Argentina e demonstrou confiança na ampliação das relações bilaterais.

“Esperamos uma etapa de muitos investimentos na Argentina, de parcerias em setores estratégicos como os novos desafios da eletromobilidade, temos muitas expectativas de parcerias”, disse.


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