Em entrevista coletiva, o porta-voz do Exército israelense Daniel Hagari afirmou ter desmontado, no sábado, a infraestrutura militar do grupo terrorista Hamas no norte da Faixa de Gaza.
O militar garantiu que o grupo não opera mais de forma organizada na área, apesar de combates dispersos na região ainda serem esperados, já que militantes "sem estrutura e sem comandantes" ainda podem estar à solta. Segundo Hagari, as forças israelenses fortalecerão as defesas ao longo da fronteira e passarão a se concentrar no centro e no sul do território palestino.
O governo norte-americano tem pedido a Israel que encerre a ofensiva aérea e terrestre em Gaza e adote ataques mais direcionados contra os líderes do Hamas para evitar danos aos civis palestinos.
O porta-voz israelense, no entanto, reiterou que os ataques continuarão ao longo de 2024, dando coro às declarações do primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, que voltou a afirmar que a guerra não deve ser interrompida até que o Hamas seja eliminado.
O conflito entrou, ontem, no seu quarto mês sem mostrar quaisquer sinais de trégua, com novos bombardeios israelenses em Gaza e o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em viagem ao Oriente Médio para tentar evitar uma conflagração regional.
Cerca de 132 reféns dos 250 sequestrados pelo grupo terrorista permanecem cativos no território palestino. A ofensiva que Israel lançou em Gaza deixou até agora pelo menos 22.835 mortos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
Os bombardeios israelenses também deixaram bairros inteiros de Gaza em ruínas, forçaram 85% dos habitantes de Gaza a abandonar as suas casas e causaram uma grave crise humanitária, segundo a ONU.
Internamente, Netanyahu e sua cruzada para eliminar o Hamas não são uma unanimidade. Na noite de sábado, manifestantes saíram às ruas de Tel Aviv para exigir a renúncia do governo e eleições antecipadas. "Estamos fartos!", disse Shachaf Netzer, 54 anos, à agência de notícias France-Press (AFP). "Precisamos de novas eleições. Precisamos de um novo líder", afirmou.
Criança
A polícia israelense informou ontem que atirou contra uma palestina durante uma operação para evitar que um carro colidisse com um posto de controle na Cisjordânia. Mais tarde, médicos confirmaram a morte de uma menina de 3 anos.
Imagens de câmeras de segurança divulgadas pela polícia israelense mostram uma caminhonete cruzando o posto de controle de Biddu, área localizada entre Jerusalém e Ramallah. Outra caminhonete, menor, seguiu rapidamente a primeira, atingiu os agentes do posto e se afastou. As imagens mostram a polícia atirando contra os dois veículos.
"Como resultado dos disparos contra os terroristas, uma menina, que estava em outro veículo no posto de controle, ficou ferida", explicou a polícia israelense, sem informar se os autores do ataque estavam vivos.
As autoridades detalharam que uma avaliação preliminar indicou que o veículo em que a menina estava foi, de fato, atingido, e que uma investigação seria realizada.
Imprensa
O Ministério da Saúde do Hamas afirmou que dois jornalistas palestinos, Mustafa Thuria, um cinegrafista freelancer que trabalhava para a agência AFP, e Hamza Wael Dahdouh, um repórter do canal Al Jazeera, morreram em um bombardeio israelense. Os repórteres haviam ido filmar o bombardeio de uma casa em Rafah, no sul de Gaza, e o seu veículo em que estavam foi atingido quando retornavam.
A AFP solicitou uma posição do Exército israelense, e os militares responderam pedindo as coordenadas geográficas do local do ataque. Thuria trabalhava como freelancer para a Agence France-Presse desde 2019 e também colaborava com outros veículos de comunicação.
Em comunicado, a rede Al Jazeera condenou "veementemente o ataque realizado pelas forças de ocupação israelenses contra o veículo de alguns jornalistas palestinos."
O pai de Hamza, Wael al Dahdouh, editor-chefe do escritório da Al Jazeera na Faixa de Gaza, foi recentemente ferido em um bombardeio. A esposa e outros dois filhos do editor haviam sido mortos em um ataque israelense nas primeiras semanas da guerra.
"Hamza era tudo para mim", disse Dahdouh. "Espero que o sangue do meu filho seja o último derramado pelos jornalistas e pelo povo da Faixa de Gaza", acrescentou.
O secretário-geral da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Christophe Deloire, expressou a sua comoção com as mortes: "Estamos chocados com a notícia da morte de Moustafa Thuraya e Hamza Wael Dahdouh.Realmente é um massacre interminável", disse ele em sua conta na rede social X.
Entre outubro e dezembro passados, pelo menos 77 jornalistas e trabalhadores da imprensa morreram, de acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, com sede em Nova York. Dos repórteres mortos, 70 eram palestinos, quatro israelenses e três libaneses.
Retaliações
O fim de semana foi de represálias entre Israel e países árabes. O Hezbollah, movimento libanês apoiado pelo Irã, lançou 62 foguetes contra uma base militar no norte de Israel no sábado, em retaliação à morte do número dois do Hamas, Saleh al-Aruri, em Beirute, nesta semana.
Em contrapartida, o Exército israelense realizou ataques aéreos durante toda a noite de sábado, incluindo pelo menos seis na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza. Na manhã de ontem, testemunhas relataram bombardeios em Khan Yunis, também no sul do território, novo epicentro dos combates.
Tentando contornar a expansão do conflito no Oriente Médio, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, se encontrou ontem com o rei Abdullah II, da Jordânia, que, segundo um comunicado do Palácio, apelou aos Estados Unidos que pressionem Israel para um cessar-fogo imediato em Gaza, alertando para "repercussões catastróficas" se as hostilidades continuarem.
Blinken afirmou que era imperativo maximizar a ajuda humanitária a Gaza. Ele também pediu que o monarca ajudasse a evitar uma conflagração regional e trabalhar para uma paz duradoura e "avançar para a criação de um Estado palestino."
Depois da Jordânia, Blinken viajou para o Catar, país que mediou a trégua do conflito no final de novembro. O secretário terminou o dia em Abu Dhabi, antes de seguir, hoje, para a Arábia Saudita e Israel, mas antecipou que as negociações "não serão fáceis."