09/07/2017 às 17h36min - Atualizada em 09/07/2017 às 17h36min

AO AGREDIR REPÓRTER, DORIA REVELOU FACE AUTORITÁRIA

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O que dizer de um prefeito que utiliza o peso do cargo para ir às redes sociais agredir um jornalista que contestou, com dados, promessas não cumpridas de sua gestão? Este é João Doria, do PSDB, saudado por setores da direita brasileira como "o novo"; inconformado com o fato de o jornalista Artur Rodrigues ter demonstrado que as doações privadas para a prefeitura de São Paulo são típicos pastéis de vento – peças mais de propaganda do que realidade – ele decidiu gravar um vídeo em que agride o repórter; Doria recebeu uma dura resposta do sindicato dos jornalistas, mas o episódio mostrou que ele é um político autoritário e perigoso; antes mesmo da reportagem que o enfureceu, ele já havia sido criticado pelo próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que disse que Doria age muito mais no Facebook do que na vida real dos paulistanos

 "Não, não é apenas um 'mimadinho', "playboy" ou coisa que o valha. Não são essas as palavras precisas. Ele sabe muito bem o que está fazendo, ao 'não aceitar críticas'. João Dória é um político perigoso. Uma ameaça. Uma das piores coisas que surgiram na política nacional nos últimos tempos. Mais do que oportunista: um oportunista truculento", escreveu o jornalista Alceu Luis Castilho, em seu Facebook.

Alceu se referia à mais recente estupidez do prefeito de São Paulo, João Doria, que vem sendo apontado como "o novo" por setores da direita nacional. Doria, aquele que dizia que iria visitar o ex-presidente Lula em Curitiba e que foi capaz de atirar no chão flores recebidas de uma cicloativista, agrediu o jornalista Artur Rodrigues, da Folha de S. Paulo. Tudo porque o repórter demonstrou, com dados, que as doações privadas anunciadas por Doria à prefeitura de São Paulo são uma farsa (leia aqui sua reportagem). 

Como já ficou evidente que Doria é muito mais marqueteiro do que gestor, crítica feita pelo próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e também pelo ex-governador José Serra (leia mais aqui), o prefeito se destemperou. Postou um vídeo no Facebook agredindo o jornalista. Ou seja: usou o peso da prefeitura da maior cidade do País para atacar o repórter e a própria liberdade de expressão.

Doria foi imediatamente rebatido pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, mas explicitou, mais uma vez, sua face autoritária.

Abaixo, a nota do Sindicato:

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) repudia a manifestação agressiva e descabida do prefeito de São Paulo, João Doria, contra a reportagem “Doações prometidas por Doria empacam”, publicada na edição desta sexta (7) do jornal Folha de S.Paulo, e contra seu autor, o repórter Artur Rodrigues.

A reportagem, correta e bem apurada, mostra que, de um total de R$ 626,5 milhões em doações de empresas anunciadas pela Prefeitura de São Paulo para a cidade, neste ano, apenas R$ 47,7 milhões foram de fato realizadas até o momento. Do restante, R$ 352,1 milhões estariam “em tramitação”, R$ 225,3 milhões não têm sequer uma “proposta oficial”, além de R$ 1,4 milhão sem informação.

O texto expõe um conjunto de dados mostrando detalhes aos leitores, exemplifica diversas situações (como empresas que dizem não ter conhecimento de doações atribuídas a elas) e dedica uma parte considerável do espaço às afirmações da própria Prefeitura a respeito da questão (o chamado “outro lado”). Sua base são os números divulgados pelos órgãos oficiais.

A matéria confirma a justeza das preocupações com a falta de transparência nas doações à Prefeitura, questão já levantada em reportagem da Rádio CBN mostrando que as doações de laboratórios farmacêuticos incluíam remédios perto da data de vencimento – inviáveis, portanto, para a comercialização.

Lamentavelmente, em resposta à reportagem, o prefeito João Doria posta em rede social um depoimento destemperado, que não contesta diretamente nenhum dado apresentado, e busca simplesmente, com base no poder que emana de seu cargo, desqualificar o repórter e a reportagem.

O SJSP considera que os governantes têm como obrigação primeira prestar todas as informações de relevância pública que envolvem a sua gestão. A agressão a um repórter, que fez com diligência o seu trabalho de divulgar fatos de amplo interesse, mostra um governante avesso a uma análise séria de seus procedimentos, e que acredita que com base no ativismo em mídia social e na agressividade consegue calar qualquer abordagem crítica.

Da próxima vez, senhor prefeito, responda à reportagem com fatos e dados, e não com falatório no Facebook.

Expressamos nossa solidariedade ao repórter Artur Rodrigues, bem como a defesa da liberdade de imprensa, essencial para superarmos o difícil momento que vivemos em nosso país.


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