30/10/2016 às 07h08min - Atualizada em 30/10/2016 às 07h08min

Motel na prisão de Aparecida teria lucro mensal de R$ 120 mil

A Lei de Execuções Penais determina que é direito do preso ter um local para encontros íntimos em dia determinado pela direção da unidade prisional

O Popular

Em menos de 20 dias, 112 quitinetes foram construídas no final do ano passado e estavam em fase de acabamento no pátio da Ala C, da Penitenciária Odenir Guimarães (POG), no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. A existência do motel na penitenciária foi revelada com exclusividade pelo POPULAR na edição de sábado.

 

As quitinetes seriam usadas para as visitas íntimas de presos e teriam custado, segundo investigação da Polícia Civil, cerca de R$ 200 mil, sendo R$ 120 mil para a compra de material de construção em uma empresa de Aparecida de Goiânia e R$ 70 mil para o pagamento de propina ao então diretor da unidade, Marcos Vinícius Alves, afastado do cargo na época.

 

Em depoimentos, há relatos de que ele pessoalmente teria ido a uma empresa em Aparecida de Goiânia para negociar a compra de materiais para a construção das quitinetes. O pagamento, segundo funcionários da empresa ouvidos na investigação, era feito em dinheiro. Cada quitinete deveria render depois de pronta pelo menos R$ 1 mil de lucro ao traficante Thiago Topete, aponta a investigação, o que resultaria em uma movimentação de quase R$ 120 mil ao mês.

 

A Lei de Execuções Penais determina que é direito do preso ter um local para encontros íntimos em dia determinado pela direção da unidade prisional. De acordo com a legislação, é necessário que haja um desses locais para cada grupo de cem presos, e ele deve ser diverso da cela de convivência com outros detentos. A exigência é cumprida. No ano passado, existiam na ala C cerca de 400 presos e, segundo o então chefe do serviço de inteligência da Superintendência de Administração Penitenciária (Seap), capitão Murilo Rodrigues Felício, havia entre 12 e 20 quartos de alvenaria para as visitas íntimas na unidade.

 

Apesar disso, o motel foi construído. Foram equipes do serviço de inteligência da Seap que descobriram a existência da construção ilegal no interior do presídio e denunciaram o caso à superintendência. “Fizemos a descoberta e informamos ao superintendente. Foi feito um relatório sobre a existência do motel e anexamos as filmagens”, afirma o capitão Felício.

 

O coronel Edson Costa Araújo, atual secretário interino de Segurança Pública e Administração Penitenciária, havia assumido a Seap na época e determinou a destruição das unidades construídas.

 

A existência do motel faz parte de uma investigação maior da Delegacia Estadual de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), que culminou na Operação Livramento. Foram cumpridos 134 mandados, 35 prisões preventivas, 28 prisões temporárias, oito conduções coercitivas e 63 de busca e apreensão. Nos seis meses de investigação, descobriu-se que a organização criminosa formada por servidores públicos, advogados e detentos, envolvia esquemas fraudulentos de saída de presos, pagamentos de propina, falsificação de documentos, tráfico de drogas e de influência e o cometimento de crimes de corrupção ativa e passiva. Entre os presos estava o ex-diretor da POG, Marcos Vinícius Alves. Ele já foi solto, mas O POPULAR não conseguiu contato com ele para falar sobre a construção do motel dentro da unidade no final do ano passado.


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