Israel estava em alerta máximo, na noite desta quinta-feira, após o Irã ameaçar uma retaliação direta ao bombardeio do consulado iraniano em Damasco. Em 1º de abril, caças F-35 israelenses lançaram seis mísseis contra o prédio da representação diplomática, na capital da Síria, matando 16 pessoas, incluindo sete membros da Guarda Revolucionária Iraniana, o exército ideológico da República Islâmica.
Na quarta-feira (10/4), o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, discursou em alusão ao Eid Al-Fitr — feriado que marca o fim do mês sagrado do Ramadã — e prometeu castigar o Estado judeu. "Consulados e embaixadas de qualquer país são considerados como solo daquele país. Quando atacam nosso consulado, isso significa que atacam o nosso território. O regime do mal cometeu um erro, deveria ser punido e será punido", declarou.
Segundo a agência de notícias France-Presse, nos últimos dias, Israel reforçou sua defesa antiaérea e suspendeu as autorizações de descanso para unidades de combate designadas para atuarem na Faixa de Gaza. Os governos de EUA, França, Alemanha e Reino Unido advertiram o Irã contra um ataque ao território israelense.
Os ministros alemão e britânico das Relações Exteriores conversaram com o chanceler iraniano, Hossein Amir-Abdollahian e pediram a ele que Teerã desista da retaliação. O presidente francês, Emmanuel Macron, advertiu Teerã a não atacar Israel, reportou o jornal The Jerusalem Post. O regime iraniano garantiu a Washington que agirá de forma a não escalar o conflito regional.
Fundador e diretor do Centro para o Oriente Médio e a Ordem Global, em Berlim, Ali Fathollah-Nejad admitiu ao Correio que o ataque israelense ao consulado do Irã, em Damasco, deixou Teerã ainda mais encurralado. "Uma eventual retaliação iraniana proporcional, visando Israel, poderia levar a um confronto militar direto. Os iranianos temem esse cenário, pois isso poderia colocar em perigo a segurança do regime", observou.
O estudioso adverte que os riscos associados a essa "linha vermelha" iraniana aumentam ante a falta de apoio popular ao regime de Teerã, o que torna pouco provável um efeito de "reunião dos iranianos em torno da bandeira", no caso de guerra.
Por outro lado, Fathollah-Nejad entende que, se o Irã não atacar diretamente Israel e incumbir seus aliados regionais — o chamado "eixo da resistência" — dessa tarefa, a relutância da República Islâmica seria interpretada como fraqueza. "Não se pode excluir a possibilidade de ataques dirigidos por Teerã contra postos avançados em Israel ou em outros países do Oriente Médio", disse. Nesse sentido, ele vê três cenários prováveis para uma retaliação. Em primeiro lugar, o Irã poderia retomar ataques por procuração contra bases dos EUA ou contra "alvos suaves" no Iraque e na Síria. "Uma intensificação de disparos de mísseis de longo alcance, inclusive, contra Israel, também está dentro do escopo das possibilidades", alertou. Durante meses, mísseis balísticos e de cruzeiro iranianos, além de drones suicidas, atingiram alvos israelenses e norte-americanos no Iraque, na Síria e no Golfo Pérsico.
Gravidade
Para Ilai Saltzman, professor de Estudos Israelenses da Universidade de Maryland, o Irã tem capacidade para atacar alvos israelenses, tanto direta quanto indiretamente. Há antecedentes. Em janeiro de 2020, forças iranianas dispararam vários mísseis contra duas bases iraquianas que abrigavam tropas dos EUA, em retaliação a um ataque americano que matou Qassem Soleimaini, general da Guarda Revolucionária Iraniana. No início deste ano, Teerã também lançou mísseis balísticos contra alvos em Erbil, no Curdistão iraquiano, atingindo uma base da Mossad — o serviço de inteligência israelense.
"A ameaça que emana de uma potencial retaliação pelo ataque ao consulado em Damasco é bastante grave. O alvo não era apenas um prédio diplomático, geralmente protegido pelo direito internacional. A identidade dos oficiais da Guarda Revolucionária Iraniana mortos torna este ataque especialmente letal. Parece bastante improvável que a liderança iraniana olhe para o outro lado e nada faça", afirmou Saltzman ao Correio, em entrevista por e-mail.
O estudioso de Maryland sublinhou que o presidente Joe Biden se apressou em assegurar que o compromisso dos EUA com Israel é inabalável. "O chefe do Comando Central dos Estados Unidos, general Michael Erik Kurilla, está em visita a Israel para coordenar o apoio militar. É uma manobra desenhada para deter o Irã e deixar claro que um ataque iraniano resultará em uma intervenção americana", disse Saltzman.
O israelense Eytan Gilboa — especialista em relações Estados Unidos-Israel da Universidade Bar-Ilan (em Ramat Gan, subúrbio de Tel Aviv) — explicou ao Correio que o Irã construiu o chamado "círculo de fogo" contra o Estado judeu: os apoios à milícia xiita Hezbollah (no Líbano), ao grupo extremista Hamas (na Faixa de Gaza), aos rebeldes separatistas huthis (no Iêmen), e às milícias na Síria e no Líbano. "O Irã é a cabeça da serpente e não pode desfrutar de imunidade do direito de Israel à autodefesa contra as agressões realizadas pelos aliados."