As unidades básicas de saúde (UBSs) do Distrito Federal registraram 179.450 atendimentos pediátricos entre março e julho de 2023. O número é 63,82% maior do que o contabilizado nos outros cinco meses subsequentes, quando foram atendidas 109.541 crianças. A vilã é a chamada sazonalidade, período em que ocorrem mudanças climáticas e, consequentemente, o aumento nos casos de doenças respiratórias relacionadas.
A sazonalidade nada mais é do que a definição de uma tendência ligada a um período. Com as doenças na chegada do outono, fatores climáticos e circunstanciais contribuem para a maior disseminação de vírus respiratórios. E isso ocorre todos os anos, sempre na mesma época, assim como o aumento dos casos de gripe no inverno. Por ainda não possuírem sistema imunológico fortalecido e estarem expostas a um maior contato interpessoal, as crianças são as principais acometidas por essas doenças.
Viroses
A maior parte dos casos de atendimento pediátrico está relacionada a sintomas de viroses respiratórias causadas pelos vírus sincicial respiratório (VSR), rinovírus humano (RVH), Sars Cov 2 e influenza. Dados da Secretaria de Saúde (SES-DF) mostram que entre o início do ano e março, quando começa a sazonalidade, o número dos atendimentos pediátricos nas portas dos hospitais e nas UPAs dobrou. Saltou de cerca de 19 mil, em janeiro, para aproximadamente 46 mil em março.
Com a alta demanda, a secretaria organizou uma força-tarefa para otimizar e qualificar seus serviços de cuidado crítico infantil nas regiões. A rede pública foi ampliada em 15 leitos de UTI pediátrica, passando para 107 unidades nos últimos quatro meses.
Além disso, o número de leitos de enfermaria pediátrica cresceu 17% em relação ao último ano. Foram abertos 15 leitos para atendimento de pacientes com doenças respiratórias no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), 14 no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), seis no Hospital Regional de Ceilândia (HRC) e sete no Hospital Universitário de Brasília (HUB).
“As unidades básicas de saúde são a porta de entrada do SUS”, reforça a pediatra Juliana Macêdo, da SES-DF. “Significa dizer que esses locais atuam como um filtro, organizando todo o fluxo de serviço na rede de saúde.”
Ampliação
No último ano também foram abertos serviços de atendimento pediátrico em três unidades de pronto atendimento (UPAs) – uma em São Sebastião, uma no Recanto das Emas e uma em Ceilândia, inaugurada em março.
Todos os leitos de UTI e enfermaria são equipados e têm equipes especializadas de alta performance, compostas por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas, além do suporte nutricional, psicológico e de serviço social. Desde o fim de 2023, foram nomeados mais de 110 pediatras para dar suporte à rede pública do DF.
Referência técnica distrital (RTD) de emergências pediátricas da SES-DF, Danielle Sampaio Lima da Cruz afirma que 2024 está sendo um ano atípico. “Tivemos a sobreposição com o surto de dengue, o que aumentou ainda mais a procura dos atendimentos e gravidade com as sobreposições das doenças”, explica.
“A busca da Secretaria de Saúde é pelo aumento da cobertura vacinal em todas as faixas etárias”
Lucilene Florêncio, secretária de Saúde
Caso a criança apresente sintomas de doenças respiratórias, orienta a especialista, devem ser procuradas as UBSs da região. “Se for necessário, a criança será encaminhada para as UPAs ou os hospitais, mas é na UBS que ela terá o primeiro e mais rápido atendimento”, pontua. “Porém, em casos com sintomas moderados a graves, como falta de ar, dificuldade para respirar ou para mamar – ou quando boca e a ponta dos dedos adquirem uma aparência azulada, ou se perceber a respiração rápida, uma sonolência excessiva -, deve-se procurar as UPAs ou os postos de emergência pediátrica hospitalares”.
O Governo do Distrito Federal (GDF) tem investido regularmente na estrutura da saúde, em corpo técnico e profissional. Ainda em 2023, cerca de 700 enfermeiros e médicos da Atenção Primária à Saúde (APS) participaram de oficinas de capacitação para o enfrentamento da sazonalidade de doenças respiratórias. O DF já alcançou a meta de capacitação dos seus profissionais, e atualmente está com mais de 70% (1.089) do corpo técnico de médicos e enfermeiros treinados para tratar, entre outros casos, infecções respiratórias agudas.
Prevenção
Um dos caminhos para prevenir os casos de doenças é o da imunização. A secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, lembra que há disponibilidade de doses de vacina contra a influenza (gripe) e covid-19 em mais de 100 locais do DF, de segunda a sexta-feira, e ações extramuros em parques, supermercados, shoppings, escolas e prédios públicos, além do Carro da Vacina, que percorre ruas de localidades isoladas. “A busca da Secretaria de Saúde é pelo aumento da cobertura vacinal em todas as faixas etárias”, explica.
Além da vacinação, é possível prevenir o aparecimento das doenças com a adoção de hábitos simples, como evitar lugares aglomerados, evitar tabagismo, ingerir líquidos e, especificamente para as mães, manter a amamentação.
Veja abaixo algumas dicas de especialistas.
→ Lavar as mãos com frequência, principalmente antes de tocar no bebê
→ Usar álcool gel sempre que possível
→ Evitar contato do bebê com pessoas que apresentam sintomas de gripe, como coriza e tosse
→ Manter objetos limpos
→ Evitar ambientes fechados
→ Evitar proximidade com fumaça de cigarro
→ Conversar sempre com o seu médico pediatra e ficar atento ao calendário vacinal.