Um dia depois de uma série de ocupações de propriedades rurais pelo país, o governo atendeu a um pedido do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e exonerou Wilson César de Lira Santos, primo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do cargo de superintende regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Alagoas. Essa era uma reivindicação antiga dos sem-terra, que promoveram ontem 24 invasões em 11 estados, como ações do "abril vermelho", mês de protestos por reforma agrária.
A demissão de Lira Santos saiu no Diário Oficial desta terça-feira. Ele ocupava o cargo desde 2017, no governo de Michel Temer. A exoneração foi assinada pelo presidente do Incra, Cesar Aldrighi.
A dispensa do superintendente do Incra ocorre em um momento de tensão na relação do presidente da Câmara com o governo, após o imbróglio que envolveu o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), alvo de ataques de Lira, um dia após a votação da manutenção da prisão de Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), ocorrida na semana passada. O deputado alagoano chamou o ministro de "incompetente" e afirmou que Padilha se tratava de um "desafeto pessoal". O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa de seu auxiliar e que, "só por teimosia", o manteria no cargo.
Lira se irritou com mudança
Desde a última sexta-feira, Lira e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, vinham conversando sobre a exoneração do superintendente. Falavam sobre a pressão dos movimentos sociais para o afastamento de Lira Santos. Segundo foi apurado houve acordo para a substituição no cargo, mas acabou ocorrendo um desencontro e o ministro exonerou o primo do presidente da Câmara, que ficou incomodado.
Teixeira foi nesta manhã a residência oficial conversar com Lira e teria falado que houve um "mal-entendido". E ficou acertado que Lira indicará o novo superintendente do Incra de Alagoas e até já começou a ouvir entidades patronais que têm vínculo com o campo.
O presidente da Câmara chegou a acionar o ministro Rui Costa, da Casa Civil, que levou o caso ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.