Professor de economia na Universidade de Iowa (EUA), Luciano de Castro analisou a postura da mídia brasileira em relação à batalha entre Alexandre de Moraes e Elon Musk. De um lado, o ministro do Supremo Tribunal Federal impõe censura sobre cidadãos brasileiros, do outro, o dono do Twitter/X o acusa de infringir a Constituição.
Elon Musk diz que Alexandre de Moraes tentou envolver Twitter/X em corrupção no Brasil
“Diante disso, formadores de opinião têm de escolher de que lado ficar e quem defender”, escreveu Castro à Folha de S.Paulo, no artigo “Musk versus Moraes: o certo e o estratégico”. Para o professor, apoiar investigação contra o ministro deveria ser unanimidade na imprensa.
Ele diz que muitos estão apostando na defesa do ministro da Corte, “mas esta parece ser uma posição moral e estrategicamente equivocada”. Ao justificar seu ponto de vista, o economista parte da premissa de que existem “fortes indícios de excessos por parte de Moraes”.
O professor explica que a Constituição veda “toda e qualquer censura” (art. 220, §2). Apesar disso, o ministro da Corte mandou suspender dezenas de perfis em redes sociais. Isso já torna as acusações de Musk “bastante plausíveis”, o que pede uma correção.
Para o professor, uma democracia precisa “coibir autoritarismos ilegais”. “Apenas sociedades em estado de degeneração são incapazes de corrigir os excessos de quem exerce uma função pública”, alertou.
O especialista afirma ainda que muitos formadores de opinião se levantaram para desqualificar as acusações de Musk. A justificativa de que ele seria “mimado, bilionário ou estrangeiro não é razoável”. “Argumentos baseados na ética e na moral parecem não ter mais relevância num país em que apenas o fla-flu político importa”, condenou.
Imprensa ‘deve cobrar’ apuração
Aos jornalistas brasileiros, ele diz que os profissionais que cobrarem uma investigação sobre as acusações de Elon Musk não irão prejudicar em nada o statu quo. Pelo contrário, ganharão “credibilidade e respeito perante a opinião pública” e poderão apresentar-se como “independentes e confiáveis”.
Castro reitera que, se o desenrolar dos fatos levar à queda do ministro, os que tiverem defendido a investigação serão reconhecidos como “líderes de uma elite esclarecida” e despontarão como “defensores de instituições sólidas”.
“Defender uma apuração séria das denúncias não é apenas a única postura moralmente correta; é também o que pesquisadores de teoria de jogos chamam de estratégia dominante: é a melhor opção em qualquer caso”, instruiu. “É por isso que o apoio a uma investigação séria deveria se tornar unanimidade na mídia”.