23/04/2024 às 09h24min - Atualizada em 23/04/2024 às 09h24min

Deputado que pediu 'liberdade' em inglês em ato de Bolsonaro responde imprensa com receita de bolo.

Gayer era professor de inglês antes de se eleger para a Câmara

​O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) Imagem: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados.

O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) defendeu a "liberdade" e a "democracia" em um discurso em inglês no ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo, 21. No dia a dia do trabalho no Congresso, o parlamentar costuma responder aos pedidos de informação feitos pela imprensa e solicitações de prestação de contas sobre seu trabalho com receitas de bolo.
 
O Estadão procurou a assessoria do parlamentar nesta segunda, 22, mas também obteve como resposta uma mensagem com ingredientes culinários.
 
O parlamentar, que é pré-candidato à prefeitura de Goiânia, disse que discursou em outra língua porque o empresário Elon Musk, dono da rede social X, estaria "olhando" a manifestação realizada na Praia de Copacabana, no Rio. Gayer era professor de inglês antes de se eleger para a Câmara.
 
"É uma mensagem para o mundo. Olhem o que está acontecendo no Brasil hoje. O que vocês veem aqui são pessoas que amam a liberdade lutando por democracia. São pessoas que amam a liberdade e não desistem, que não se curvam à ditadura. São pessoas dispostas a dar as suas vidas e que nunca vão desistir. Nós seremos a esperança do mundo", disse o aliado de Bolsonaro.
 
Desde que assumiu o mandato de deputado federal, em fevereiro do ano passado, Gayer envia receitas de bolo perante qualquer questionamento da imprensa, que envolvem atuação parlamentar, questões no Judiciário e até mesmo a pré-candidatura dele nas eleições deste ano. A medida remete ao período da ditadura militar (1964-1985), quando as receitas substituíam as matérias censuradas pelo governo.
 
Na época, reportagens que relatavam acontecimentos sobre a política nacional eram trocadas por receitas de bolo ou poemas literários nos jornais. A prática era uma forma de os veículos de imprensa protestarem contra o cerceamento da liberdade de informação.
 
No final de junho, Gayer relacionou a existência de ditaduras em países da África à falta de "capacidade cognitiva" da população do continente. Respondendo ao apresentador de um podcast que afirmou que o QI dos africanos era menor que o de macacos, o parlamentar disse que o "Brasil está emburrecido" e "segue o mesmo caminho das nações africanas".
 
Na época, o Estadão entrou em contato com o parlamentar para apurar a sua versão sobre o ocorrido, mas ele enviou outra receita de bolo. Em vídeo no X, Gayer negou ter dito frases racistas e disse que a repercussão da declaração no podcast foi motivado por uma "distorção" feita pela imprensa.
 
A declaração motivou um pedido de cassação do parlamentar por racismo no Conselho de Ética da Câmara. A proposta não chegou a ser votada pelo colegiado. Em novembro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou denúncia no STF pedindo a condenação de Gayer por injúria e racismo e a cassação do mandato dele, em caso de pena superior a quatro anos de prisão. O caso está no gabinete da relatora, ministra Cármen Lúcia, e ainda não foi concluído.


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