A taxa média de infecção nas unidades de terapia intensiva (UTIs) dos hospitais do Distrito Federal – da rede pública, complementar e nas unidades de administração militar – apresenta índice abaixo do registrado na média nacional, além de apontar melhoria frente aos anos anteriores. É o que revela o relatório da Diretoria de Vigilância Sanitária (Divisa) da Secretaria de Saúde (SES-DF).
“As infecções relacionadas à assistência e à resistência microbiana são consideradas emergências de saúde pública e exigem responsabilização e muita dedicação para que sejam prevenidas”, explica a gerente de Risco em Serviços de Saúde (GRSS) da Vigilância Sanitária, Fabiana de Mattos Rodrigues.
Todos os 41 hospitais que possuem UTIs, segundo a profissional, já reportaram dados à Divisa. A meta estabelecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) era de alcançar o índice de 95% no próximo ano.
Menores taxas de infecção no DF
Os resultados mostram evolução. De acordo com a Divisa, que utiliza um índice de cálculo baseado em número de casos por cada 1 mil pacientes por dia de internação, em 2023, foram 4,3 registros de pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV) na média das UTIs do DF. Em 2021, o número havia atingido um pico de 7. Em 2022, havia caído para 5,5, abaixo da média nacional de 12,5. Ainda não há os números nacionais de 2023.
“Há uma melhora nos índices, mas precisamos contar sempre com o esforço das equipes dos hospitais e de um acompanhamento contínuo”
Fabiana de Mattos Rodrigues, gerente de Risco em Serviços de Saúde (GRSS) da Vigilância Sanitária
Já as infecções do trato urinário associada a cateter vesical de demora (ITU-AC) caíram de 3,2, em 2014, para 1, em 2023, na mesma base de cálculo. A média do DF se manteve ao longo de todo o período abaixo da nacional, que foi de 3,5 em 2022. Já para infecção primária de corrente sanguínea associada à cateter central (IPCSL), em 2022 a média nacional havia sido de 4 e a do DF de 2,4. Em 2023, o índice local caiu para 2,2.
Nos 14 hospitais com UTIs pediátricas também há diminuição de infecções. A capital federal apresenta queda dos índices para cesarianas, cirurgias de implante mamário, cirurgias de derivação interna neurológica e nos casos de IPCSL e PAV da maioria das faixas de peso dos bebês internados em unidades neonatais.
Trabalho constante
Apesar das boas notícias, Rodrigues ressalta a importância de um trabalho constante de vigilância. “Há uma melhora nos índices, mas precisamos contar sempre com o esforço das equipes dos hospitais e de um acompanhamento contínuo”, afirma. Uma das maiores preocupações é a existência de “superbactérias”, resistentes à maioria dos tratamentos, bem como alastramento de infecções ao ponto de ser necessário fechar alas inteiras de hospitais, em caso de surtos.
Para evitar o cenário, a GRSS realiza uma análise minuciosa dos dados reportados e mantém contato próximo aos serviços de controle de infecção hospitalar de cada estabelecimento. As unidades que não cumprem a legislação estão sujeitas a sanções.
Um exemplo desse trabalho é visto no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde há treinamentos de rotina para todos os envolvidos na assistência, desde as chefias até os responsáveis pela limpeza, passando por profissionais de saúde, seguranças e visitantes. Também há instruções específicas de preparo e distribuição de alimentos, troca de roupas de cama, vestimentas e asseio do ambiente.
A chefe do núcleo de Controle de Infecção Hospitalar do HRC, Franciely Pabline, diz que diariamente há um cuidado com todos os pacientes ocupantes dos 359 leitos do hospital, entre UTIs, enfermarias, centro obstétrico e outros setores. “Atuamos principalmente nas áreas críticas do hospital, em UTIs adulta e neonatal, centro obstétrico, centro cirúrgico e no centro de material esterilizado”, conta.
Os números do hospital revelam o tamanho do desafio. Só em 2023, o HRC registrou mais de 77 mil atendimentos na emergência, 6,1 mil cirurgias na internação, 2,5 mil diárias de UTIs e quase 4 mil partos. Após cada alta hospitalar, há uma limpeza chamada de “terminal”, quando há troca e higienização das roupas de cama e desinfecção de todas as superfícies, incluindo o teto e as paredes. Mesmo os pacientes que dão entrada no centro cirúrgico em estado grave, como vítimas de acidentes ou de violência, passam por assepsia antes dos procedimentos.
Dentro do hospital, também há limites invisíveis respeitados por servidores. Antes de entrar no centro cirúrgico ou nas UTIs, por exemplo, é necessário trocar de roupa. Depois disso, para sair, é preciso fazer uma nova troca. A oferta de álcool em gel, o uso de máscaras nos casos necessários e um rígido regulamento sobre adereços e acessórios também compõem a lista de medidas para evitar infecções.
*Com informações da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF)