Artista em performance na frente do Museu Nacional, em Brasília (Foto: Reprodução)
A Polícia Militar do Distrito Federal afirmou, por meio de nota, que o artista paranaense Maikon Kempinski foi interrompido durante performance de nu artístico no Museu Nacional da República no último sábado (15) porque a produção "não adotou os cuidados necessários para que a classificação indicativa de 16 anos fosse respeitada".
O Sesc, responsável pelo evento, afirma que tinha a autorização do museu e que tomou todas as providências para informar a indicação da obra (veja nota completa abaixo). O artista conversou com o G1 e afirmou que não viu crianças no local durante a performance.
Segundo a nota da PM, os militares foram acionados por pessoas que estavam na praça do museu – onde a ação ocorria ao ar livre – que "não tinham conhecimento de que se tratava de uma performance artística".
Ainda de acordo com a polícia, os produtores não apresentaram autorização da Secretaria de Segurança Pública ou da Administração Regional, "valendo-se apenas de uma permissão da direção do Museu da República" – documento que, segundo o próprio governo, bastava.
"A falha portanto, não foi provocada pelo artista, muito menos pelos policiais, mas sim pelos responsáveis por organizar a apresentação, uma vez que não providenciaram qualquer tipo de estrutura que pudesse evitar a presença de crianças e adolescentes no local", diz a nota.
A obra "DNA de Dan" foi uma das 20 selecionadas em todo o Brasil para o festival "Palco Giratório", do Sesc. O circuito artístico começou as exibições em maio em diferentes estados, tendo passado por Santa Catarina, Rio de Janeiro, Mato Grosso e pelo DF.
Durante a performance, o artista aplica uma substância líquida sobre o corpo que, com o passar do tempo, começa a secar. Imóvel dentro de uma bolha inflável, ele começa a se mexer e romper as camadas da substância, como uma cobra, que troca de pele.
Artista paranaense Maikon Kempinski encena a performance Artista paranaense Maikon Kempinski encena a performance
A criação de Kempinski também fez parte da exposição “Terra Comunal”, da artista sérvia Marina Abramovic – uma das principais referências internacionais em performances – realizada em São Paulo, em 2015.
Em Brasília, no entanto, a performance foi interrompida nos primeiros 30 minutos – a obra tem duração de 4 horas. "Houve uma censura com violência de um sujeito específico que interrompeu e que ninguém sabe o nome", disse o artista ao G1.
"Ele rasgou a bolha, me botou num camburão com duas motos de sirene ligada. Ele está muito bem protegido, mas todo mundo sabe meu nome."
Depois do ocorrido, o governador, Rodrigo Rollemberg, e o secretário de Cultura, Guilherme Reis, fizeram um pedido de desculpas público no domingo (16). "O governo de Brasília destaca a importância da cultura. Rollemberg e Reis lembram que a cultura é sempre bem-vinda à capital da república e lamentam o desconforto causado ao artista, pois o governo acredita, apoia e incentiva a livre manifestação artística."
Bolha rasgada
Produtores da obra "DNA de Dan", do performer Maikon Kempinski, medem tamanho de rasgo feito por PM em bolha de plástico (Foto: Maikon Kempinski/Arquivo pessoal)
Para fazer a apresentação, a bolha de plástico onde o artista ficava era inflada com ar. Os espectadores entravam agachados pela base da estrutura a partir da abertura de um zíper. Segundo Kempinski, quando os policiais interromperam a perfomance, rasgaram o plástico para tentar tirá-lo de lá.
"Foi como se tivessem entrado num espaço de arte do museu e destruído uma obra."
Com o estrago provocado, o artista disse ao G1 que precisará de uma nova bolha, que vai custar R$ 10 mil para ser feita em tempo hábil para as próximas apresentações. Ele ainda tem uma performance marcada em Florianópolis e outras duas em São Paulo.