24/06/2024 às 06h49min - Atualizada em 24/06/2024 às 06h49min

Com deputado mais conciliador, troca no comando da bancada evangélica do Congresso aproxima governo

Aberto ao diálogo com o Planalto, Silas Câmara considera o PL Antiaborto ‘um debate externo encerrado' e vai evitar pautas ideológicas

Silas Câmara - Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Ao tomar posse como presidente da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional na quarta-feira passada, o deputado federal Silas Câmara (Republicanos-AM) colocou fim a um período de atritos com o governo federal. Mais conciliador e aberto ao diálogo que seu antecessor, Eli Borges (PL-TO), Câmara ficará no cargo até fevereiro de 2025, quando a bancada elegerá o novo comando.

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A troca na bancada ocorre em meio à repercussão do PL Antiaborto, que equipara a interrupção da gravidez após a 22ª semana ao crime de homicídio. Enquanto Borges é um dos autores do texto, Câmara diz que a proposta precisa de maior tempo de maturação:

— Dou o debate externo deste assunto por encerrado, já que a Câmara reposicionou a tramitação formando uma comissão. Sou a favor, mas o projeto deve ser analisado com tempo e ponderação. Se tivesse tramitado nas comissões, sem ser a toque de caixa, não teria dado o que deu.

O presidente da bancada evangélica se refere à grande mobilização da sociedade civil contra o projeto, com manifestações em todas as capitais. Além do PL Antiaborto, um outro texto demonstra o desalinhamento entre o antigo e atual líder da frente — o PL das Redes Sociais. No ano passado, Câmara votou pela urgência da tramitação do projeto, enquanto Borges foi contra.

Na ocasião, 18 parlamentares ligados à bancada evangélica compartilharam desinformações, a fim de consolidar uma narrativa de que o texto colocaria em risco a liberdade religiosa no país. Neste ano, enquanto presidente da Comissão de Comunicação, Câmara tem defendido com frequência a regulamentação das redes sociais e, inclusive, elabora um projeto paralelo visando às big techs. Em 22 de maio, quando falava sobre a iniciativa no colegiado, aproveitou para citar o PL das Redes Sociais.

— Muita fake news abateu o PL 2630, narrativas completamente desvirtuadas da verdade — afirmou, na ocasião.

Silas Câmara e Eli Borges são de alas diferentes da bancada evangélica. Borges é mais próximo de parlamentares do núcleo duro do bolsonarismo, como Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ligado ao pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

Já Câmara tem como aliados nomes mais moderados, como Cezinha de Madureira (PSD-SP), além de manter um bom relacionamento com o presidente do Republicanos e bispo licenciado da Igreja Universal, Marcos Pereira, que apoiou suas candidaturas a líder da frente nos últimos anos.

Usualmente, o mandato de presidente da bancada evangélica dura um biênio. No início de 2023, contudo, Borges e Câmara costuraram um acordo para que cada um ocupasse um semestre de cada ano. Essa é a terceira vez que Câmara assume o comando da bancada. Ele esteve na presidência no segundo semestre do ano passado e entre 2019 e 2021, durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Apesar de ter defendido a reeleição de Bolsonaro, Câmara nem sempre vota contra o Palácio do Planalto.

— Não tenho alinhamento ou aliança (com o presidente Lula), mas não sou oposição ao Brasil. O governo precisa ter as aprovações necessárias para o país funcionar — diz Câmara, que evitará pautas ideológicas.


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