05/07/2024 às 07h21min - Atualizada em 05/07/2024 às 07h21min

EUA: Em queda nas pesquisas, Biden insiste na disputa pela Casa Branca

A Casa Branca e o próprio presidente voltam a descartar desistência da disputa em 5 de novembro. Mais um deputado pede ao democrata que abandone a campanha. Sondagem mostra avanço do republicano Donald Trump

​Joe Biden chega ao Salão Leste da Casa Branca para participar de cerimônia da Medalha da Honra: futuro político em xeque - (crédito: Jim Watson/AFP)

O suspense tomou conta da campanha democrata. Uma semana depois da atuação desastrosa de Joe Biden no debate com o magnata republicano — o presidente teve dificuldades para concluir o raciocínio e para se articular —, a Casa Branca foi veemente em esclarecer que ele não desistirá da reeleição. "Absolutamente, absolutamente não", respondeu a jornalistas a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, ao ser questionada se Biden abandonará a corrida presidencial. Ela assegurou que a mesma mensagem "vem diretamente da campanha". A declaração da assessora de imprensa parece ter sido providencial e foi complementada por uma fala do próprio Biden.

Em mensagem enviada por e-mail a assessores de campanha, ele avisou: "Deixe-me dizer isso da maneira mais clara e direta possível: estou concorrendo". "Ninguém está me expulsando, não vou embora. Estou nessa corrida até o fim e nós venceremos", declarou Biden. Horas antes, o jornal The New York Times havia divulgado que, em conversa com aliados, Biden teria afirmado que os próximos dias serão cruciais e que compreende sobre a impossibilidade de salvar a própria candidatura, se não conseguir convencer os eleitores sobre a aptidão para o novo mandato. A rede de televisão CNN também entrevistou uma fonte próxima ao democrata de 81 anos. Sob a condição de anonimato, ela disse que Biden está "lúcido" e reiterou o caráter decisivo dos próximos dias. Jean-Pierre desmentiu que o presidente estaria aberto a pensar sobre a desistência. "É absolutamente falso", comentou a assessora.

O tempo se esvai. Em apenas 46 dias, a Convenção Nacional Democrata reunirá delegados, ativistas e líderes do partido para confirmar o político que terá a missão de confrontar o magnata Donald Trump nas eleições de 5 de novembro. Nas fileiras do Partido Democrata, um segundo congressista sugeriu a Biden que dê lugar a um novo candidato. "Se ele for o candidato, eu o apoiarei. Mas acho que é uma oportunidade para buscar outro lugar. O que ele precisa fazer é assumir a responsabilidade de manter o cargo — e parte dessa responsabilidade é sair dessa disputa", defendeu Raúl Grijalva, deputado pelo estado do Arizona.

Na terça-feira (2/7), o também deputado Lloyd Doggett, do Texas, tinha recomendado ao presidente renunciar à chapa. Entre os doadores de campanha, Reed Hastings, cofundador da plataforma de filmes e séries Netflix, disse que Biden "precisa se afastar para que permitir que um líder democrata vigoroso derrote Trump" e mantenha os EUA "prósperos e seguros". 

Uma nova pesquisa do NY Times e do Siena College mostra que Trump ampliou a vantagem em relação a Biden. Caso as eleições fossem hoje, o republicano teria 49% dos votos, enquanto o democrata ficaria com 43%, a maior diferença desde o começo da campanha. Entre os norte-americanos entrevistados, 74% dos eleitores externaram preocupação com a idade do atual presidente.

Decisão final
Especialista em política pública da Universidade da Cidade de Nova York, Heath Brown explicou ao Correio que a decisão sobre manter a candidatura ou não é "incrivelmente difícil". "Foi uma decisão dura para ele disputar em 2016 e continua sendo assim. O presidente Biden serviu aos EUA durante décadas e isso certamente pesa neste momento", comentou. Ele destacou que a decisão final cabe, única e exclusivamente, a Biden. "Os democratas não o substituirão na Convenção Nacional, a menos que ele mesmo peça", observou. 

O historiador político James Naylor Green, professor da Universidade Brown (em Rhode Island), afirmou à reportagem que acredita na determinação de Biden de levar a campanha até o fim. "Ele tem isso em mente. Por isso, foi candidato em 2020. Se ele renunciar, não sei quem poderia assumir, neste momento, e apresentar condições de derrotar Trump. Falam sobre a ex-primeira-dama Michelle Obama, mas ela não quer ser candidata.

Kamala Harris, a atual vice, também não tem capacidade de assumir", avaliou. Green alertou que os democratas não têm escolha a não ser apoiar Biden. Ele lembrou que Barack Obama e George W. Bush tiveram desempenhos ruins em debates, mas recuperaram prestígio. "Há um pânico aumentado, especialmente porque o NY Times pediu a renúncia dele. Isso não ocorrerá, pois não existe alternativa."

Kamala tem se esforçado em um equilíbrio político, na tentativa de defender o colega de chapa. "Joe Biden é nosso candidato, derrotamos Donald Trump uma vez e vamos derrotá-lo novamente", disse ela, na terça-feira, à emissora CBS News, afirmando estar "orgulhosa" de fazer campanha ao lado do presidente dos EUA. "O candidato democrata em 2024 deveria ser Kamala", escreveu o ex-democrata Tim Ryan em um artigo na revista Newsweek.


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