O Brasil já enfrentou 108 tremores de terra desde o início do ano, mas apenas nove tiveram a magnitude superior a 3 na Escala Ritcher, de acordo com dados do Censo de Sismologia da USP. Os registros representam menos da metade do total de 264 ocorrências contabilizadas ao longo do ano passado. Cidades do Sudeste e Nordeste estão entre as localidades que apresentaram o maior número de casos. Goiás acumula três registros de terremoto.
Entre os meses de janeiro e julho deste ano, Minas Gerais foi o estado que teve a maior quantidade de abalos sísmicos, liderando o ranking com 55 pequenos tremores de terra registrados. Foram contabilizados 25 terremotos somente em Frutal, localizado no sul do estado, e outros 20 ficaram espalhados por municípios como Matozinhos, Lagoa Santana, Carai e Sete Lagoas.
Treze abalos sísmicos também foram registrados na Bahia, concentrados em Uauá, município de 24 mil habitantes situado próximo a Juazeiro. Já os estados do Rio Grande do Sul e Paraná contabilizaram sete tremores cada até o momento.
Terremotos com magnitude acima de 4 no Brasil em 2024
Local/Magnitude
Frutal/MG – 4
Fronteira Peru-Brasil – 5
Fronteira Peru-Brasil – 4.4
Oeste brasileiro – 6.2
Oeste brasileiro – 6.6
Pacaraima/RR – 4.5
Fonte: Censo de Sismologia da USP
Tremores de magnitude de 4.4 e 5 também foram contabilizados na região da fronteira entre o Brasil e o Peru em março deste ano. Já a cidade de Pacaraima, no extremo norte de Roraima e fronteira com a Venezuela, registrou um abalo de 4.5 no dia 7 de janeiro.
As magnitudes mais elevadas foram registradas somente entre os dias 25 e 27 de janeiro deste ano, alcançando a máxima de 6.6. O local do registro, no entanto, não foi disponibilizado no sistema do Centro de Sismologia da USP, sendo identificado apenas pela expressão “Western Brazil”.
Terremotos em Goiás e outros estados
Estado/Quantidade
MG – 55
BA – 3
CE – 7
RS – 7
SP – 4
MT – 4
PR – 3
GO – 3
Fonte: Censo de Sismologia da USP
Tremores são imprevisíveis, diz especialista
Professor do Instituto de Geociências da UnB e especialista em terremotos, Juraci de Carvalho explica que, diferente de países como EUA, Chile e Japão, o Brasil não fica na borda de uma placa tectônica. Por isso, a ocorrência de terremotos é menor.
Ainda assim, há pressões que causam abalos, a maioria de baixa magnitude.
— Estamos completamente dentro da placa. Mas tem a Cadeia Mesoatlântica empurrando o Brasil em direção ao Pacífico, e a placa de Nazca empurrando de volta. Então é um corpo pressionado, e de vez em quando há uma falha — explicou Carvalho, que lembra ser inviável prever quando acontecerá um terremoto. — Nem países que investem muito, como EUA e Japão, conseguem antecipar esses eventos.
Tremor no Chile sentido em São Paulo
Um tremor de terra assustou moradores das zonas Oeste e Sul de São Paulo na noite desta quinta-feira. Nas redes sociais, internautas relataram que prédios foram evacuados na capital paulista por conta de reflexos de um abalo sísmico de 7,3 graus na Escala Richter no Chile, que teve início na região próxima ao deserto do Atacama.
De acordo com o professor Bruno Colaço, pesquisador do Centro de Sismologia da USP, o abalo teria sido causado por uma tensão tectônica dentro da Placa Sul-Americana, em uma profundidade de 100 quilômetros da superfície. Por conta da alta magnitude, ele explica que a sensação de tremor, sentida na capital paulista e em cidades dos estados de Santa Catarina e Paraná, teria sido ocasionada pela passagem das ondas do evento chileno por bacias sedimentares.
— O que acontece é que esses sedimentos encontrados nas bacias do Paraná e de São Paulo têm a característica de amplificar a passagem das ondas sísmicas. Então, se as pessoas estão em lugares altos como prédios ou bairros, elas têm uma chance de sentir esse tremor — explica ele.
Abalos sísmicos no Brasil não tinham potencial de causar danos ou riscos
Colaço também explicou que os tremores foram mais percebidos por terem acontecido à noite, por volta das 23h desta quinta-feira, um horário em que as pessoas poderiam estar se recolhendo para dormir. Apesar da “sensação estranha”, ele afirmou que o tremor sentido em cidades brasileiras não apresentou nenhuma chance de causar danos estruturais ou riscos para as pessoas.
Tremores sentidos no Brasil a partir de terremotos em países vizinhos, na Costa do Pacífico, não são raros, afirma Juraci de Carvalho. No Sul e Sudeste, na região entre Santa Catarina, Paraná e São Paulo, há possibilidade de impactos vindo de eventos de Chile, Argentina e Bolívia. O mesmo acontece na Amazônia, principalmente no Acre e Amazonas, com epicentros no Peru.
— Acontece mais ou menos uma vez a cada ano. Mas também é possível acontecer terremoto de grande magnitude dentro da placa. Já houve registro de um caso de magnitude 7 nos EUA, em área dentro da placa. O terremoto do Mato Grosso, o maior da história, de 6.2, teve epicentro no próprio estado. Em Minas e no Nordeste há mais registros de magnitudes próximas a 5 — disse Carvalho, que reforçou que pessoas em prédios mais altos sentem mais os tremores. — Prédio mais alto atua como pêndulo. Pode tremer menos na base, mas em cima oscila mais.
A Defesa Civil do estado informou que foram registrados “tremores leves” e “de baixa intensidade”, com riscos de danos mínimos. Ainda segundo o órgão, “não há registro de vítimas ou ocorrências relacionadas ao evento”,.
A Defesa Civil continua monitorando a situação.
Recorde brasileiro
Terremotos podem ser eventos rasos, quando são percebidos na superfícies, ou eventos profundos, quando ocorrem em distâncias a centenas de quilômetros de profundidades e a população não percebe os tremores. Entre os eventos rasos, o evento de maior magnitude da história do país aconteceu em 9 de dezembro de 1955, em Mato Grosso, na Serra do Trombador, com magnitude 6.2.
Há outro estudo que aponta um evento de magnitude 7 na foz do Rio Amazonas que teria acontecido há milhares de anos. Mas esse registro não é totalmente aceito pela comunidade acadêmica, explica Juraci de Carvalho.
Já entre os eventos profundos, há terremos que já superaram a magnitude 7, a maioria no Acre. O maior registro foi na cidade do Cruzeiro do Sul, em 2003, com um evento 7.1. Carvalho explica que a placa tectônica de Nazca (do pacífico) entra por baixo da placa sulamericana e, no Acre, já está a uma profundidade de cerca de 600 quilômetros, causando eventos profundos.