15/08/2024 às 08h07min - Atualizada em 15/08/2024 às 08h07min

Trump: como bilionário mais extravagante dos EUA deu volta por cima e tenta retornar à Presidência

A vida do magnata do setor imobiliário de Nova York esteve presente nos tabloides e na televisão por décadas, até a sua improvável candidatura à Casa Branca, nas eleições de 2016.

​Trump mudou o foco da empresa do Brooklyn e do Queens para a reluzente Manhattan - (crédito: Getty Images)

Muito antes das suas três candidaturas consecutivas à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump era o bilionário mais extravagante do país.

A vida do magnata do setor imobiliário de Nova York esteve presente nos tabloides e na televisão por décadas, até a sua improvável candidatura à Casa Branca, nas eleições de 2016.

Seu nome familiar e seu espalhafatoso estilo de campanha o ajudaram a vencer políticos experientes. Mas seu governo repleto de controvérsias fez com que as urnas o retirassem do cargo após um único mandato.

Agora com 78 anos de idade, o republicano está novamente desafiando as probabilidades. Ele prepara um surpreendente retorno político, que poderá acabar levando o ex-presidente de volta à cadeira que ele ocupava em Washington DC.

O herdeiro
Trump é o quarto filho do magnata do setor imobiliário de Nova York Fred Trump (1905-1999).

Ele foi matriculado em uma academia militar aos 13 anos de idade, por ter se comportado mal na escola. E, apesar da riqueza da família, estaria destinado a ocupar cargos de menor escalão na empresa do seu pai.

Depois disso, Donald Trump se formou na Escola Wharton de administração da Universidade da Pensilvânia e passou a ser o favorito para suceder o pai nos negócios, quando seu irmão mais velho, Fred Trump Jr. (1938-1981), decidiu se tornar piloto de aviões.

Fred Jr. morreu aos 43 anos de idade, vítima de alcoolismo. Seu irmão Donald conta que isso o levou a evitar álcool e cigarros por toda a vida.

Donald Trump conta que entrou no negócio imobiliário com um "pequeno" empréstimo de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,5 milhões, pelo câmbio atual) recebido do seu pai, antes de entrar para a companhia.

Ele ajudou a administrar o extenso portfólio do seu pai, com projetos de imóveis residenciais nos distritos de Nova York. E assumiu o controle da companhia em 1971, mudando seu nome para Organização Trump.

Fred Trump morreu em 1999. "Meu pai era minha inspiração", declarou Donald Trump, na época.

A marca
Nas mãos de Donald Trump, os negócios da família em Nova York rapidamente mudaram da construção de unidades residenciais no Brooklyn e no Queens para luxuosos projetos em Manhattan.

A famosa Quinta Avenida passou a abrigar a Trump Tower, certamente o imóvel mais famoso do magnata. O prédio foi sua casa por muitos anos. Já o decadente Hotel Commodore foi restaurado para se tornar o Grand Hyatt.

Foram construídos muitos outros imóveis com a marca de Trump. Cassinos, condomínios, campos de golfe e hotéis ocuparam cidades americanas como Atlantic City, Chicago e Las Vegas, além da Índia, Turquia e Filipinas.

Sua ascensão ao estrelato prosseguiu no mundo do entretenimento. Ele começou como dono dos concursos de beleza Miss Universo, Miss Estados Unidos e Miss Teen EUA e foi o criador e apresentador do reality show da rede americana NBC The Apprentice ("O Aprendiz").

Trump apresentou o programa por 14 temporadas. Os participantes competiam por um contrato de gestão no seu império comercial.

Paralelamente, o bordão "You're Fired!" ("Você está demitido") fez com que "Donald" se tornasse um nome familiar para as pessoas.

Trump escreveu diversos livros e participou de filmes e programas de luta livre profissional. Ele vendeu de tudo, de bebidas até gravatas. A Forbes calcula seu patrimônio líquido em US$ 7,5 bilhões (cerca de R$ 41,2 bilhões).

Mas houve seis empresas de propriedade de Trump que pediram falência em diferentes ocasiões. E diversos dos seus empreendimentos fracassaram, como a marca de carnes Trump Steaks e a Universidade Trump.

Ele também manteve em segredo suas informações fiscais. Em 2020, o jornal The New York Times revelou anos de sonegação de imposto de renda e prejuízos financeiros crônicos.

A família
A vida pessoal de Trump recebeu extensa publicidade, especialmente seus três casamentos.

Sua primeira esposa – e, certamente, a mais famosa – foi a atleta e modelo checa Ivana Zelnickova (1949-2022). O casal teve três filhos (Donald Jr., Ivanka e Eric) e se divorciou em 1990.

A feroz batalha jurídica da separação virou manchete nas colunas de fofocas. As acusações de violência doméstica apresentadas por Zelnickova – que ela minimizou posteriormente – fazem parte de um novo filme produzido sobre Trump.

Donald Trump se casou novamente em 1993, com a atriz Marla Maples, dois meses depois do nascimento da sua única filha, Tiffany. Eles se divorciaram em 1999.

A atual esposa de Trump é a ex-modelo eslovena Melania Knauss. Eles se casaram em 2005 e têm um filho, Barron William Trump, que completou 18 anos recentemente.

O candidato
Em uma entrevista em 1980, Trump descreveu a política como "uma vida muito cruel" e afirmou que "as pessoas mais capazes" preferem o mundo empresarial. Ele tinha então 34 anos de idade.

Trump começou a flertar com a ideia de se candidatar à Presidência em 1987. Ele participou brevemente da campanha de 2000 pelo Partido da Reforma e novamente em 2012, pelo Partido Republicano.

Trump foi um dos mais ativos divulgadores da teoria da conspiração que questionava se o ex-presidente Barack Obama havia realmente nascido nos Estados Unidos. Ele só admitiu que era mentira em 2016 e nunca se desculpou por isso.

Em junho de 2015, Trump anunciou formalmente sua candidatura à Casa Branca. Ele declarou que o "sonho americano" estava morto, mas prometeu "trazê-lo de volta, maior e melhor".

Seu discurso desenfreado o levou a ostentar sua riqueza e seu sucesso nos negócios. Ele acusou o México de enviar "drogas e estupradores" para os Estados Unidos e prometeu fazer o país vizinho pagar por um muro na fronteira.

Seu desempenho dominante nos debates e sua plataforma política repleta de controvérsias atraíram fãs que o adoram e críticos ferrenhos, além de imensa atenção da imprensa.

Com seu slogan Make America Great Again ("Tornar a América Grande Novamente", em tradução livre), Trump venceu facilmente seus rivais do Partido Republicano e partiu para enfrentar a democrata Hillary Clinton, na eleição presidencial de 2016.

Sua primeira campanha foi marcada por controvérsias, incluindo o vazamento de um áudio do então candidato se vangloriando sobre abusos sexuais. Ele ficou atrás nas pesquisas de opinião ao longo de toda a campanha.

Mas Trump riu por último frente aos analistas e pesquisadores, com sua surpreendente vitória sobre a veterana Hillary Clinton. Ele tomou posse como o 45º presidente americano no dia 20 de janeiro de 2017.

O presidente
Desde as primeiras horas do seu mandato, Trump trouxe lances dramáticos inigualáveis à Casa Branca. Ele costumava fazer anúncios formais no Twitter (atual X) e discutir abertamente com líderes estrangeiros.

Trump se retirou dos principais acordos comerciais e climáticos, proibiu a entrada de pessoas de sete países de maioria muçulmana, criou outras restrições à imigração, lançou uma guerra comercial contra a China, implementou cortes de impostos em níveis recorde e reformulou as relações dos Estados Unidos com o Oriente Médio.

Por cerca de dois anos, um conselho especial investigou o suposto conluio entre a campanha de Trump em 2016 e a Rússia. Foram 34 pessoas acusadas criminalmente sobre questões como hackear computadores até crimes financeiros.

Mas Trump não estava entre elas. As investigações não encontraram crimes de conspiração.

Pouco tempo depois, Trump foi acusado de pressionar um governo estrangeiro a descobrir irregularidades sobre seu rival democrata, Joe Biden. Com isso, ele se tornou o terceiro presidente da história americana a sofrer impeachment.

Trump foi condenado pela Câmara dos Deputados, com maioria democrata, mas absolvido pelo Senado, liderado pelos republicanos.

O ano das últimas eleições presidenciais americanas, 2020, foi dominado pela pandemia de covid-19. Os Estados Unidos lideraram as estatísticas globais de mortes e infecções pela doença.

Trump enfrentou intensas críticas pela sua gestão da crise e por seus comentários controversos. Ele sugeriu, por exemplo, a realização de pesquisas para descobrir se o vírus poderia ser tratado com injeções de desinfetante nas pessoas.

Em outubro, Trump foi obrigado a fazer um intervalo na campanha, quando ele próprio foi diagnosticado com covid-19.

Ao final da campanha, ele recebeu 74 milhões de votos, mais do que qualquer outro presidente em exercício na história americana. Ainda assim, ele perdeu a eleição para Joe Biden por mais de sete milhões de votos.

Entre novembro de 2020 e janeiro de 2021, Trump se queixou de roubo de votos e fraudes eleitorais generalizadas. Estas alegações foram desmentidas em mais de 60 ações na justiça.

O então presidente se recusou a aceitar os resultados e convocou seus apoiadores na capital americana, Washington, no dia 6 de janeiro de 2021. Ele os estimulou a se reunirem no Capitólio, onde a vitória de Biden seria certificada formalmente pelo Congresso.

A convocação se transformou em um tumulto que colocou em perigo os legisladores e o próprio vice-presidente, levando a um histórico segundo impeachment. Trump foi novamente absolvido pelo Senado, desta vez com margem mais estreita.

Suas ações naquele dia geraram duas investigações criminais.

O retorno
Depois da invasão do Capitólio, a carreira política de Trump parecia morta e enterrada. Seus doadores prometeram nunca mais apoiá-lo e até os seus aliados mais próximos o repudiaram.

Trump não compareceu à posse do seu sucessor e se mudou com a família para a Flórida. Mas, com um exército leal de admiradores continuando a defendê-lo, manteve enorme influência sobre o Partido Republicano.

Seu legado mais duradouro como presidente talvez tenha vindo após o término do mandato, quando os três juízes de direita nomeados por ele para a Suprema Corte ajudaram a pôr fim a cerca de 50 anos de direito ao aborto em todo o país.

Mesmo sendo considerado responsável pelos maus resultados dos republicanos nas eleições de meio de mandato em 2022, Trump anunciou nova candidatura à presidência – e logo passou a liderar com folga a corrida republicana.

Mais de uma dezena de oponentes – incluindo seu ex-vice-presidente, Mike Pence – desafiaram Trump e perderam. O ex-presidente evitou os debates e praticou sua artilharia contra Joe Biden.

Historicamente impopular, o atual presidente democrata teve seu governo reconhecido pela recuperação econômica após a pandemia e pelos progressos no setor de infraestrutura. Mas também ficou marcado pela alta da inflação, pela crise na fronteira e pelo caos na política externa.

Em 18 de julho, os republicanos confirmaram oficialmente a candidatura presidencial de Donald Trump, pela terceira vez consecutiva. Seria uma repetição das eleições de 2020, não fosse pela desistência de Biden no dia 21/7, abrindo caminho para a candidatura de sua vice, Kamala Harris.

Uma pesquisa conduzida pelo jornal The New York Times e pelo Siena College entre 5 e 9 de agosto coloca Kamala Harris à frente de Trump por 50% a 46% em três Estados-chave da disputa — Wisconsin, Pensilvânia e Michigan.

Os números foram divulgados após uma recente pesquisa do instituto YouGov, realizada entre 4 e 6 de agosto. Seus números indicam que Harris venceria o voto popular — 45% dos entrevistados responderam que votariam na atual vice-presidente, em comparação com 43% de eleitores de Trump.

Trump vem novamente atraindo controvérsias durante a campanha eleitoral. Atualmente, ele enfrenta 91 acusações em quatro ações na justiça criminal.

No dia 30 de maio, um júri de Nova York considerou Trump culpado de falsificar registros financeiros. Foi a primeira vez na história que um ex-presidente americano foi condenado por um crime.

Donald Trump prometeu aos seus apoiadores que o dia das eleições presidenciais, 5 de novembro de 2024, será "o dia mais importante da história do nosso país".

 
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