A moda, muitas vezes associada aos grandes centros como São Paulo, tem encontrado um espaço em Brasília. O Governo do Distrito Federal (GDF), por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF), está abrindo caminhos para um novo horizonte na moda local, especialmente com a aplicação de recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) em projetos voltados às mulheres da periferia da capital. Desde 2019, foram destinados mais de R$ 5 milhões do FAC a iniciativas relacionadas à moda.
O investimento evidencia a riqueza cultural e o potencial criativo do DF, que estão emergindo como uma nova força na moda nacional. Segundo o secretário de Cultura e Economia Criativa, Claudio Abrantes, o trabalho do GDF promove a diversidade e a inovação no setor, e fortalece o tecido econômico e social da região.
“A moda é uma expressão vibrante e um setor essencial da economia criativa do Distrito Federal. Somos um celeiro de talentos excepcionais, e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa tem orgulho de apoiar nossos produtores e fazedores de moda”, afirma. “Por meio de incentivos como o Fundo de Apoio à Cultura, reconhecemos o papel vital que o setor da moda desempenha na construção de um cenário cultural diverso e inovador, destacando nossa cidade como um polo de criatividade e inovação.”
Ao investir em projetos de moda liderados por mulheres da periferia, o GDF além de abrir as portas para novos criadores, estimula a criação de empregos e o fortalecimento da economia local. A ideia é viabilizar um desenvolvimento econômico e social. Foi justamente esse incentivo que possibilitou que a estilista Thalita Lobo, de 36 anos, tirasse do papel um projeto que homenageia Planaltina, sua cidade natal.
Por meio do FAC, Thalita promove um desfile neste sábado (17) que une moda à valorização do contexto cultural e histórico da cidade. O GDF investiu R$ 80 mil no projeto, o que permitiu a contratação de profissionais e o pagamento de 20 modelos moradoras da região.
“O Brasil tem um eixo enorme de moda, mas o movimento no DF está em crescimento, nós temos profissionais locais para impulsionar esse mercado e trazer a experiência de moda para Planaltina e para o DF”
Thalita Lobo, estilista
“O apoio deste GDF é parte fundamental, senão principal. Sem ele, esse projeto não seria viabilizado. Ele possibilitou que nós pudéssemos ir além de um desfile, um projeto. Ele viabilizou que nós possamos formar mulheres e ter essa oportunidade”, conta a estilista. “O FAC é uma ferramenta incrível que pode transformar o mercado da moda em Brasília. O apoio deste GDF a projetos periféricos ajuda de muitas formas. O Brasil tem um eixo enorme de moda, mas o movimento no DF está em crescimento, nós temos profissionais locais para impulsionar esse mercado e trazer a experiência de moda para Planaltina e para o DF.”
O desfile contará com 20 looks de alfaiataria autoral, que levarão à passarela referências a pontos históricos de Planaltina, como a Igreja de São Sebastião.
“O grande feito deste projeto é proporcionar que Planaltina seja protagonista. Ser uma mulher periférica e estar fazendo isso dá uma visão diferenciada do espaço que podemos e somos capazes de ocupar no mundo da moda. É um olhar diferenciado que coloca a mulher como protagonista para que também outras mulheres sejam protagonizadas”, relata Thalita.
Moda e literatura nacional
Outro projeto que recebeu o apoio da Secec foi o Trajes e Tramas, exposição que ocupa a Biblioteca Nacional de Brasília (BNB) durante o mês de agosto. Kristie Ribeiro, estilista e organizadora da mostra, é uma mulher da periferia e reuniu outras quatro mulheres periféricas para montar uma coleção que une moda e obras da literatura nacional.
A exposição é baseada nos livros Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus; Mandingas da Mulata Velha na Cidade Nova, de Nei Lopes; Obscena Senhora D, de Hilda Hilst; e Capitães da Areia, de Jorge Amado. Todas as obras têm um ponto em comum: a relação do corpo com a vida urbana das cidades.
“Os espaços da moda e da literatura ainda são vistos como lugares muito cultos. E nós, mulheres periféricas, em muitas ocasiões não nos achamos validadas para ocupar esses lugares”
Kristie Ribeiro, estilista
“Os espaços da moda e da literatura ainda são vistos como lugares muito cultos. E nós, mulheres periféricas, em muitas ocasiões não nos achamos validadas para ocupar esses lugares. O apoio deste GDF ao ceder o espaço da Biblioteca Nacional de Brasília também passa pelo trabalho de trabalhar a arte e o incentivo à leitura”, ressalta Kristie.
“A exposição trabalha os sentidos humanos, uma vez que, quando a gente lê um texto literário, a gente está lendo a descrição de um personagem, as vestimentas, os trajes. E isso instiga o leitor a procurar os livros. Para nós, isso é muito importante porque estimula e incentiva a leitura. A literatura é uma das linguagens usadas no teatro, na música e na moda. É muito importante porque essa área do DF se destaca”, reforça a diretora da BNB, Marmenha Rosário.
Moda circular
Em tempos em que a preocupação com o planeta e com o impacto das grandes produções em massa está cada vez mais em voga, o projeto Ao Desapego impulsiona uma tendência mundial que fortalece uma relação diferente com o consumo, promovendo o desapego das velhas maneiras de consumir.
Nascido de forma despretensiosa, o projeto se prepara para a quinta edição. Para 2025, o evento, que reúne brechós com acervos dos mais diversos, pequenos empreendedores da moda autoral, arte e design sustentável, cosmetologia natural e gastronomia artesanal, receberá um aporte de R$ 100 mil por meio do FAC.
Mais de 70% dos expositores são da periferia do DF, sendo a maior parte deles de Ceilândia e Taguatinga. Mulheres negras, transexuais e com algum tipo de deficiência ganham visibilidade para expor e contar suas histórias e realidades distintas, contribuindo para um cenário de moda mais inclusivo e inovador.
“É um recorte muito nítido de uma parcela da população que viveu da moda. Temos a Feira dos Goianos e a comercial de Taguatinga. Você vai a Ceilândia e a quantidade de brechós que existem na região é absurda. O nosso projeto tem o intuito de pautar a moda circular como algo sério”, explica Carol Monteiro, produtora do festival de moda.
Ela ressalta o apoio deste GDF, que garante a realização de um projeto com potencial e impacto na cidade inteira. “O FAC faz com que a gente consiga fazer desse evento um hubby de negócios e projetar na população um olhar de futuro”, complementa.