08/09/2024 às 05h30min - Atualizada em 08/09/2024 às 05h30min

A eleição que põe Tarcísio no meio da disputa entre Bolsonaro e Kassab

Disputa eleitoral em São José dos Campos divide Tarcísio de Freitas entre o partido do vice-governador Ramuth e o do ex-presidente Bolsonaro

​Governo do Estado de São Paulo

A menos de um mês para o primeiro turno, os ânimos das eleições em São José dos Campos estão exaltados. Em uma briga acirrada pela liderança nas pesquisas de intenções de votos, o ex-deputado Eduardo Cury (PL) e o atual prefeito da cidade Anderson Farias (PSD) disputam em uma espécie de microcosmos da guerra travada entre Jair Bolsonaro (PL) e Gilberto Kassab (PSD).

De um lado, o candidato do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, Eduardo Cury, já recebeu visitas dos correligionários Eduardo Bolsonaro, Guilherme Derrite, Marcos Pontes e Nikolas Ferreira. Investimento que é proporcional ao medo dele de que a cidade fique com o representante da ala de Kassab no governo paulista, Anderson Farias.

Anderson era vice-prefeito do atual vice-governador, Felício Ramuth (PSD), e chegou à Prefeitura quando Tarcísio de Freitas (Republicanos) ganhou as eleições em 2o22

Assim, o centro do campo de batalhas é Tarcísio de Freitas, que tem o apoio disputado pelos dois candidatos. Para evitar desgastes com Kassab e seu vice ou seu padrinho político, o governador se declarou neutro na disputa. Mas na prática, sua imagem é explorada nas propagandas dos dois lados e virou motivo de briga na Justiça.

Por que São José dos Campos?
Ter a imagem associada ao governador em São José dos Campos, pode ser um diferencial decisivo. Natural do Rio de Janeiro, Tarcísio transferiu seu local de votação para São José às vésperas das eleições de 2022.

Na época, ele alegava ter vínculos afetivos e familiares que vivem na cidade e o movimento bastou para que a capital do Vale do Paraíba ganhasse a alcunha de “cidade do Tarcísio”.

O vínculo cresceu quando Felício Ramuth, então prefeito de São José, foi escolhido para ser vice de Tarcísio no pleito de 2022. Na época, Ramuth estava à frente da cidade desde 2016 e havia recém trocado seu partido de carreira, o PSDB, pelo PSD de Gilberto Kassab após desavenças com o então governador, João Doria, sobre a condução da pandemia. O então vice-prefeito, Anderson Faria, seguiu a migração.

No PSD, Ramuth previa uma indicação para a vice governança na chapa de Kassab ao governo do estado. Mas, no decorrer do ano eleitoral, Kassab se aliou com Tarcísio, e Ramuth passou a compor a chapa daquele que era ministro da infraestrutura de Jair Bolsonaro. Juntos, eles receberam 63,46% dos votos dos joseenses no segundo turno contra Fernando Haddad (PT) e Lúcia França (PSB).

As mãos do PSD no governo do estado
A aliança nas eleições de 2022 com Gilberto Kassab custou a Tarcísio a indicação do cacique político a Secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado de São Paulo.

Na função, Kassab se tornou responsável pela articulação da gestão com os municípios, a Assembleia Legislativa e o Congresso Nacional, acumulando influência no governo paulista — e incomodando Jair Bolsonaro.

Nesse ponto, Bolsonaro já havia perdido as eleições presidenciais e nutria um desgaste com Kassab desde que o cacique se aliou a Lula (PT) no pleito — apoio que lhe garantiu a indicação de três ministros na nova gestão federal. O desgaste piorou com a suspeita de que o ex-presidente que o psdebista estava por trás dos votos favoráveis dos senadores e deputados no seu indiciamento na CPMI do 8 de Janeiro.

Irritado com onipresença de Kassab nos níveis municipal, estadual e federal, Bolsonaro chegou a declarar que não apoiaria nenhum candidato do PSD na eleições municipais de 2024- mas depois voltou atrás em alguns casos. No meio da richa, Tarcísio fica entre a cruz e a espada sobre quais candidatos apoiar.

Republicanos, PSD e PL
Para sobreviver à briga, o governador mantém um sistema de “morde a assopra” entre os dois lados. Desgastado com o Republicanos após o partido iniciar negociações para compor a base de Lula, Tarcísio começou a estudar uma eventual migração de sigla.

No início do ano, o líder do PL, Valdermar Costa Neto, garantiu que o governador irá mudar para o partido de Bolsonaro após o fim das eleições municipais. Até lá, ele tem compromisso com as alianças do Republicanos, que, no caso de São José dos Campos, compete com o próprio PL.

Na cidade, o Republicanos faz parte da coligação São José do Jeito Certo, que reúne o partido com o PP, MDB, PODE, PRD, PSD e Solidariedade pela reeleição do atual prefeito, Anderson. Com base nessa relação, a campanha do candidato luta na justiça pela imagem de Tarcísio, ainda que ele se recuse a declarar o voto.

Na última segunda-feira (2/9), os advogados de Anderson entraram com uma ação na Justiça Eleitoral questionando o uso de imagens do governador em um um vídeo de propaganda de Cury. O caso ainda está sendo analisado.


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