19/09/2024 às 07h10min - Atualizada em 19/09/2024 às 07h10min

Damares acusa brigadistas de causarem incêndios florestais

Senadora defendeu o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal e atacou instituições federais como ICMBio e Ibama. Após Ibaneis criticar Lula, presidente negou que tenha falado dos bombeiros da capital

​Damares durante sessão deliberativa do Plenário no Senado Federal, nesta quarta-feira (18/9) - (crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)

A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) acusou brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de causarem os incêndios que assolam o país. Mais cedo, nesta quarta-feira (18/9), o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por supostamente atacar o trabalho do Corpo de Bombeiros de Brasília no combate aos focos de fogo.

“Querem acusar a direita e o agro de incendiários”, disse, durante sessão deliberativa do Plenário no Senado Federal, pedindo para que o governo federal reveja as práticas do Ibama e do ICMBio. “O Xingu está em chamas porque os brigadistas estão fazendo uso das queimas prescritas”, afirmou Damares.

A parlamentar pediu para que o presidente Lula “cuidasse do Ibama e do ICMBio, das Forças Armadas, e deixasse que o DF cuide do Corpo de Bombeiros”. E elogiou o CBMDF: “ouso dizer que são os melhores do mundo”.
Ambientalistas das instituições mencionadas como responsáveis pelos incêndios pela senadora Damares disseram ao Correio que essa prática não é feita nesta época do ano, portanto, as acusações não são verdadeiras.

Segundo especialistas, as queimas prescritas são recursos utilizados pelos brigadistas do Ibama e do ICMBio no fim da estação chuvosa e no início da seca, quando o solo ainda está úmido e frio por conta das chuvas. A técnica faz parte do Manejo Integrado do Fogo (MIF), e é utilizada para prevenção de incêndios.

O analista ambiental Bruno Cambraia, do ICMBio, conta que as queimas prescritas são como um remédio de prevenção aos incêndios, porque elas acabam com o ‘combustível’ presente em áreas de vegetação nativa para frear o fogo durante os períodos de seca crítica, “assim, quando o incêndio chega onde já foi queimado pela interferência do MIF, ele para”.

Cambraia, que participa da seleção e treinamento de brigadistas que atuam com o manejo integrado do fogo em unidades de conservação (UC), reforça que “essa prática jamais é utilizada durante períodos críticos de seca”.

Combate à desinformação
Citados por Damares, tanto o Ibama quanto o ICMBio se manifestaram. "É um absurdo e fantasiosa essa acusação. Os brigadistas florestais são profissionais treinados para prevenir e combater os incêndios florestais e estão trabalhando de forma árdua e corajosa", afirmou ao Correio Jair Shmitt, diretor de Proteção Ambiental do Ibama.

O ICMBio, por sua vez, quis destacar um pronunciamento do presidente do ICMBio, Mauro Pires, durante visita ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em 12 de setembro. Na ocasião, ele reforçou a importância do combate à desinformação e mencionou a existência de vídeos antigos que têm sido compartilhados on-line e que acusam os brigadistas de serem os causadores de incêndios.

“Algumas vezes, nos combates aos incêndios, utilizamos o equipamento chamada pinga-fogo, que serve para realizar queimas da vegetação em situações absolutamente controladas, para realizar o contrafogo. Essa é uma técnica utilizada internacionalmente e demanda conhecimento específico que faz parte do treinamento de nossas brigadas. Ela é reconhecida como efetiva nas situações em que o fogo avança em direção a áreas sensíveis. Para evitar o pior, é utilizado o fogo no capim para deter o avanço do incêndio. Mas de maneira nenhuma pode-se atribuir aos brigadistas, que estão colocando suas vidas em risco nos combates, a responsabilidade pelos incêndios”, declarou.

Professora da Universidade de Brasília (UnB), Isabel Schmidt, que é especialista em MIF pelo projeto de pesquisa científica Rede Biota Cerrado, reforça: “O objetivo das queimas prescritas é evitar incêndios, não causá-los e, por isso, são realizadas no fim da estação chuvosa e no início da seca”.

Os incêndios que ocorrem em diversas regiões do país estão sob investigação das polícias Federal e Civil por apresentarem indícios de serem criminosos. Segundo ambientalistas e cientistas ambientais, não há possibilidade de incêndios naturais nesta época do ano. Schmidt explica que as únicas causas de incêndios naturais são provenientes de ação de raios ou vulcões.

“Aqui, no Brasil, não temos o vulcão, então o raio é a única opção. No Cerrado, por exemplo, durante o período de chuva, há incidência de queimadas naturais por conta dos raios. Isso também serve para outros biomas, como o Pampas e o Pantanal. O que não acontece no período de seca, porque não há chuvas e, portanto, não há raios”, detalha.

Damares também responsabilizou, hoje, o governo federal pela greve do Ibama e do ICMBio nos últimos meses e afirmou que os bombeiros da capital não fizeram greve porque “o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB-DF), cuida bem deles”.


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