O governo da Venezuela convocou, nesta quarta-feira (30/10), o embaixador venezuelano em Brasília para retornar ao país e dar explicações acerca de "declarações intervencionistas e grosseiras" do governo brasileiro, como definiu Ministério das Relações Exteriores venezuelano.
Convocar um embaixador é uma espécie de repreensão de um país a outro, na linguagem diplomática internacional.
Celso Amorim, assessor especial da Presidência brasileira, foi citado pelo governo Maduro em um comunicado. As declarações dadas por Amorim "constituem uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países".
"Amorim, comportando-se mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano, tem se dedicado, de maneira impertinente, a emitir juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas. Tais declarações constituem uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países", disse o comunicado.
Em audiência na Câmara na terça-feira (29/10), Celso Amorim afirmou que as autoridades venezuelanas estão "acusando injustamente" o Brasil por barrar a entrada do país aos Brics. O assessor acrescentou que a decisão do bloco não foi ideológica, pois o Brasil acredita que, para ingressar no grupo, é preciso ter influência e ajudar a representar a região.
"E a Venezuela de hoje não preenche essas condições, na nossa opinião. Isso não foi um veto, foi expresso. As decisões são por consenso", finalizou Amorim.
O Correio entrou em contato com o Itamaraty em busca de um posicionamento sobre a convocação do embaixador. Em caso de respostas, a matéria será atualizada.
Leia na íntegra o comunicado do Ministério das Relações Exteriores Venezuelano:
"O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela convocou, hoje, o encarregado de negócios da República Federativa do Brasil, com o objetivo de manifestar seu mais firme repúdio às recorrentes declarações intervencionistas e grosseiras de representantes autorizados pelo governo brasileiro, em particular as feitas pelo assessor especial de Assuntos Exteriores, Celso Amorim, que, comportando-se mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano, tem se dedicado, de maneira impertinente, a emitir juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas. Tais declarações constituem uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países.
Da mesma forma, foi manifestado o total repúdio à atitude antilatino-americana, contrária aos princípios fundamentais da integração regional expressos na Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e na longa história de unidade na nossa região. Essa atitude foi consumada pelo veto aplicado pelo Brasil na cúpula dos BRICS em Kazan, pelo qual a Venezuela foi excluída da lista de convidados como membros associados da referida organização.
Denunciamos, também, o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros que, contrariando a aprovação do restante dos membros dos BRICS, adotaram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e de punição coletiva ao povo venezuelano.
Foi expressado que a Venezuela reserva-se, no marco de sua política exterior, o direito de tomar as ações necessárias em resposta a essa postura, que compromete a colaboração e o trabalho conjunto desenvolvidos até então em todos os espaços multilaterais.
Por fim, informamos à comunidade nacional e internacional que, seguindo instruções do presidente Nicolás Maduro Moros, decidiu-se convocar imediatamente para consultas o embaixador Manuel Vadell, que exerce nossa representação em Brasília."