O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) revogou a prisão preventiva de Henrique Moreira Lelis, suspeito de participar da emboscada que matou um torcedor do Cruzeiro e deixou outros 11 feridos na Rodovia Fernão Dias, em Mairiporã, na região metropolitana de São Paulo, no dia 27 de outubro.
De acordo com a defesa do investigado, liderada pelo advogado Arlei da Costa, foram apresentados documentos como cartão de embarque de viagem no trecho entre Goiânia e Rio de Janeiro, comprovantes de táxi e imagens de Henrique em um supermercado no estado fluminense.
O advogado afirmou que a decisão do juiz Cristiano César Ceolin, da 1ª Vara de Mairiporã, foi tomada em menos de 24 horas após o pedido de revogação da prisão temporária ter sido protocolado pela defesa “corrigindo a injustiça contra um trabalhador que não possui antecedentes criminais”, afirmou Arlei da Costa.
Na decisão, o magistrado determinou que o investigado mantenha nos autos o endereço, o número de telefone e os e-mail atualizados.
“Revogo a decretação da prisão temporária de Henrique Moreira Lelis, aplicando-lhe a medida cautelar diversa da prisão consistente em manter nos autos o endereço, número de telefone e e-mail atualizados”.
Além disso, a defesa também entregou o celular do investigado à Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade), que investiga o caso.
Foragidos
Henrique foi considerado foragido pela emboscada. Além dele estão sendo procurados o presidente da organizada palmeirense Mancha Alvi Verde, Jorge Luiz Sampaio Santos, o vice-presidente, Felipe Matos Dos Santos e outros membros que foram identificados como Leandro Gomes dos Santos, Aurélio Andrade de Lima e Nélio Ferreira da Silva. Os cinco ainda são alvo de mandados de prisão expedidos pela Justiça.
Segundo o pedido de prisão, Jorge seria “o mentor intelectual de toda ação delituosa”, sendo citado o ataque de cruzeirenses contra palmeirenses em setembro de 2022, do qual ele foi a maior vítima, tendo até seus documentos pessoais levados.
Os policiais fizeram buscas e apreensões na capital paulista, em Taboão da Serra, na região metropolitana, e São José dos Campos, no Vale do Paraíba, interior do estado. Ao todo, 10 endereços dos investigadores foram alvo dos mandados — um deles, a sede da torcida organizada, na zona oeste paulistana.
As ordens judiciais foram cumpridas por policiais do Departamento de Operações Estratégicas (Dope), Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra), Grupo Especial de Reação (GER) e Antissequestro. Integrantes do Ministério Público de São Paulo (MPSP) também acompanharam as buscas.
A emboscada
Por volta das 5h da manhã do dia 27 de outubro, no km 65 da Rodovia Fernão Dias, no centro de Mairiporã, membros da Mancha Alvi Verde, torcida do Palmeiras, fizeram uma emboscada contra torcedores do Cruzeiro. Durante o ataque, um homem foi morto carbonizado e 17 ficaram feridos.
Em um dos vídeos do ataque, é possível ouvir um homem falando “É a Mancha, car****. Aqui é a Mancha, por**”, fazendo referência à torcida organizada.
Agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) foram acionados para a ocorrência e, no local, encontraram um ônibus incendiado e outro depredado. Foram apreendidos rojões, fogos de artifício, barras de ferro e madeiras, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Com a aproximação das equipes da PRF e da Polícia Militar de São Paulo, os agressores envolvidos fugiram pelas vias locais.
Como mostrado pelo Metrópoles, a organizada palmeirense teria monitorado e interceptado os cruzeirenses, que viajavam em dois ônibus na Rodovia Fernão Dias. Os torcedores mineiros voltavam de Curitiba (PR), onde o Cruzeiro jogou no sábado (26/10) contra o Athletico Paranaense e perdeu por 3 a 0.
Investigações
Os membros da Mancha Alvi Verde (antiga Mancha Verde) serão investigados pela Polícia Civil e vão responder criminalmente por homicídio, incêndio, associação criminosa, lesão corporal e promover tumulto, praticar ou incitar a violência em eventos esportivos.
Segundo a SSP, a polícia apreendeu imagens de monitoramento e solicitou exames do Instituto Médico Legal às vítimas para realizar as investigações. A ocorrência foi encaminhada à Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (DRADE) para identificação e responsabilização dos envolvidos, diz a nota.
O Ministério Público de São Paulo (MPSP) também vai investigar a torcida organizada do Palmeiras, como facção criminosa. “Tal episódio é inaceitável e representa uma grave afronta à segurança pública e à convivência pacífica em nossa sociedade. Por isso, esta Procuradoria-Geral de Justiça determinou que, para além do promotor Fernando Pinho Chiozzotto, de Mairiporã, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado [Gaeco] entre no caso”, disse Oliveira e Costa.
“Há firmes evidências de que algumas torcidas organizadas atuam como verdadeiras facções criminosas, o que justifica a intervenção do GAECO”, acrescentou o chefe do MPSP.
Possível vingança do presidente da Mancha
A emboscada realizada por torcedores palmeirenses pode ter sido vingança a um ataque semelhante que aconteceu em 28 de setembro de 2022.
Na ocasião, o confronto entre os torcedores do Cruzeiro e do Palmeiras aconteceu na altura do km 593 da mesma rodovia Fernão Dias, em Minas Gerais. Em imagens publicadas nas redes sociais, era possível ver palmeirenses armados com paus e barras de ferro. Rojões também foram usados no confronto. Alguns envolvidos na confusão apareceram ensanguentados.
Em maior número, os torcedores do Cruzeiro espancaram diversos membros da torcida do Palmeiras, entre eles Jorge Luis, atual presidente da Mancha Alvi Verde (veja abaixo).
Naquele dia, os palmeirenses estavam indo para Belo Horizonte, onde o Verdão jogaria contra o Atlético-MG pela 28ª rodada do Campeonato Brasileiro. Os cruzeirenses se deslocavam para Campinas, onde a equipe tem jogo contra a Ponte Preta pela 32ª rodada da série B.