A coincidência de valores e apostas na véspera do jogo entre Flamengo e Santos, pelo Brasileirão de 2023, é o que chama a atenção dos investigadores da suspeita de manipulação de partidas envolvendo o atacante rubro-negro Bruno Henrique.
A operação que resultou na busca e apreensão de um celular do jogador do Flamengo e trouxe o caso a público completa um mês nesta quinta-feira (5).
O processo tramita no Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) e começou após relatório da Associação Internacional de Integridade em Apostas (Ibia).
Um dos documentos inseridos pelo Ministério Público, ao qual o UOL teve acesso, descreve o comportamento dos dois núcleos de apostadores ligados ao caso. E um deles é o dos familiares do jogador.
OS ALVOS ENTRE OS PARENTES
No núcleo familiar são três personagens envolvidos: o irmão, Wander Nunes Júnior, o Juninho, a cunhada, Ludymilla, e a prima, Poliana. Todos tiveram os celulares apreendidos.
Na véspera da partida, eles apostaram que Bruno Henrique levaria cartão amarelo contra o Santos. O que de fato aconteceu.
Em duas casas de apostas, foram identificadas quatro movimentações dos parentes. O Ministério Público não descarta que sejam encontradas em outras.
Inicialmente, uma aposta na conta de cada um foi feita na Betano. As três com o mesmo valor. Depois, uma conta no nome de Ludymilla foi aberta na Galera.Bet, e aí veio a aposta de R$ 500.
Ainda que os valores de apostas e retorno sejam considerados baixos, chamou a atenção dos investigadores e das casas de apostas que os três apostaram exatamente o mesmo valor.
“Isso reflete uma prática comum entre apostadores, já que cada operadora impõe um limite máximo para uma mesma aposta”, pontuou a peça assinada por Daniel Cola, coordenador de repressão à corrupção da Polícia Federal.
Além disso, “o cadastramento de novas contas com propósito de se realizar apostas em um único quesito se torna intrinsecamente suspeito”, aponta a investigação.
E O OUTRO NÚCLEO DE APOSTADORES?
Outro núcleo de apostas no cartão amarelo de Bruno Henrique é alvo de investigação. Mas a polícia e o MP ainda não conseguiram, pelo que consta nos autos do processo, conectá-lo aos parentes do jogador.
De todo modo, os indícios citados apontam Claudinei Mosquete Bassan como figura central. O movimento de apostas dele, da esposa, Rafaela Bassan, e do irmão, Henrique Mosquete, foi o seguinte:
Claudinei Mosquete:
KTO – Aposta: R$ 375 / Retorno: R$ 1.125
Rafaela Bassan (mulher de Claudinei)
GaleraBet – Aposta: R$ 380 / Retorno: R$ 1.178
Betano – Aposta: R$ 380 / Retorno: R$ 1.178
Henrique Mosquete (irmão de Claudinei)
Betano – Aposta: R$ 380 / Retorno: R$ 1.178
KTO – Aposta: R$ 375 / Retorno: R$ 1.125
Mais uma vez, valores similares entre si, em casas e contas diferentes.
Os outros três apostadores do grupo – Douglas Pina Barcelos, Max Evangelista Amorim e Andryl Sales Nascimento Reis – seguem e são seguidos por Claudinei no Instagram, além de serem os quatro envolvidos com o meio do futebol. Eles foram jogadores de times pequenos e participaram de campeonatos profissionais e amadores.
As três contas suspeitas relatadas pela KTO (de Claudinei, Henrique e Douglas) foram criadas no dia do Flamengo x Santos.
As quatro contas suspeitas relatadas pela GaleraBet (Ludymilla, Max, Andryl e Rafaela) foram criadas na véspera do jogo.
E NA HORA DA OPERAÇÃO?
Os policiais fizeram relatos breves sobre o comportamento dos alvos da busca e apreensão no mês passado.
Bruno Henrique foi acordado às 6h pelos agentes e “apresentou comportamento cordial e colaborativo e forneceu a senha de acesso ao telefone”.
No Ninho do Urubu, onde também houve busca, “não foi encontrado qualquer objeto com pertinência investigativa, sendo o auto circunstanciado encerrado sem arrecadações”.
No endereço da empresa de Bruno Henrique em Minas, a BH27, os policiais encontraram o empresário e sócio dele, Denisson Ricardo de Souza.
Denisson foi entrevistado pelos policiais e negou conhecer os apostadores do outro grupo investigado.
Os policiais realizaram buscas na agenda de contato dos aparelhos e nos aplicativos de mensagens (Telegram e WhastsApp) do empresário, tentando identificar possível conexão e outros investigados.
Segundo relato dos policiais, só acharam diálogos entre Denisson e Juninho, irmão de Bruno Henrique. E mesmo assim, nada relacionado a apostas.
Em relação ao casal Claudinei e Rafaela, os agentes ressaltaram que a casa em que eles vivem é humilde e simples, e não há sinais de ostentação.
COMO A DEFESA DE BRUNO HENRIQUE REBATE
A defesa de Bruno Henrique nega que o jogador esteja envolvido em manipulação de partidas.
Sobre os valores das apostas dos investigados, os advogados do jogador ainda apontam: “os valores envolvidos nas apostas atribuídas a familiares não eram expressivos”.
A defesa ainda acrescenta que, “graças a uma vida de trabalho honesto e dedicação ao futebol”, Bruno Henrique “goza de situação financeira que lhe permitiria ajudar o irmão, a cunhada e a prima” com os valores atribuídos ao lucro das apostas. Sem que precisasse manipular qualquer evento.
A respeito do segundo grupo, a defesa de Bruno Henrique diz que o jogador não os conhece e repetiu que os valores “tampouco foram significativos”.
Segundo a peça da defesa, o lucro real ou potencial dos parentes seria de R$ 3.324,43. Do segundo grupo, R$ 7.242. Ou seja, o caso todo reportado até agora geraria R$ 10.566,43 de lucro.
A defesa de Bruno Henrique ainda trouxe ao processo no TJ-DF questões citadas quando o jogador foi alvo de inquérito no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Isso diz respeito ao fato de que o cartão que recebeu é questionável.
Diante da operação da Polícia Federal e a investigação do MP do Distrito Federal, o STJD pediu que os órgãos públicos futuramente compartilhem as informações do caso e ainda aguarda retorno.
Com informações do UOL/FOLHAPRESS