13/12/2024 às 14h24min - Atualizada em 13/12/2024 às 14h24min

Tem lobista extorquindo em meio à CPI das Aposta em investigação

A informação de que há empresários envolvidos foi revelada por Ciro Nogueira

Silvio Assis, figura carimbada nos círculos lobistas de Brasília / Reprodução/ Rede Social

A temperatura subiu na CPI das Apostas nesta semana. Um bate-boca marcou a sessão da CPI das Apostas, no Senado, entre Ciro Nogueira (PP-PI) e a relatora Soraya Thronicke (Podemos-MS), da terça-feira (3). A parlamentar declarou que iria convocar o “governo Bolsonaro” a fim de descobrir o motivo de o setor não ter sido regulamentado à época da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nogueira era ministro-chefe da Casa Civil e não se conteve. “Dá para a senhora me explicar por que chamar o governo Bolsonaro?”, questionou o senador. Em resposta Thronicke disparou: “O governo Bolsonaro tinha dois anos para regulamentar, mas não fez." 

“A senhora acha que isso vai ter algum ganho para o país, senadora?”, questionou o pepista. “Debruce-se sobre a legislação para entender”, disse Nogueira e acrescentou: “A senhora não é professora de ninguém.” Thronick retrucou com veemência: “Eu não lhe devo explicações.”

Em seguida, o senador então fez um alerta: “Daqui a pouco é a senhora que vai ter que prestar muitas explicações aqui.”

O diálogo mais do que ríspido resultou em uma conversa reveladora entre Nogueira e o presidente Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A pauta da reunião foi a denúncia de que, nos bastidores da comissão, no momento, acontece um fato “muito grave”.

Nogueira revelou a Pacheco que o lobista Silvio de Assis estaria extorquindo empresários ligados ao setor de apostas. Além disso, haveria parceria entre esse lobista e membros da CPI.


Segundo Nogueira, o esquema teria como partícipes parlamentares, não obrigatoriamente envolvidos com o achaque, que apresentam requerimentos convocando representantes de empresas para prestar depoimento.
Assis entra em cena, procura a empresa, informando que possui acesso e influência sobre determinados congressistas. Assim, pede dinheiro ao empresário para reverter a convocação. O crime está sob a lupa da Polícia Federal, após um empresário do ramo de jogos confirmou ter recebido o lobista, o qual teria cobrado R$ 40 milhões para livrá-lo de convocação e depoimento na CPI.

Nogueira informou a Pacheco que a vítima do achaque é dono de um site de apostas e foi alertado de que seria convocado a depor na CPI. Na sequência, o lobista se apresentou, disse que tinha como evitar o “constrangimento”, mas que isso teria um “custo”. O empresário se recusou a pagar. Em seguida, o requerimento de convocação foi aprovado.

Thronicke, segundo o pepista, não tem envolvimento com o suposto esquema. Ele lembrou que a relatora da comissão, não só conhece como mantém uma relação de proximidade com o lobista que teria tentado extorquir o empresário. Nogueira declarou que após a denúncia chegar ao seu conhecimento tomou “as providências cabíveis”.

Figurona carimbada
Silvio de Assis, o lobista, é um velho conhecido tanto da Polícia Federal quanto de personagens que orbitam o Congresso Nacional. Nesse âmbito o que se diz é que ele tem amigos poderosos e influentes em diversos partidos e em gabinetes da Esplanada dos Ministérios.

Em 2018, ele foi preso pela Polícia Federal. Reportagem da revista VEJA revelou a existência de uma rede de corrupção que operava no Ministério do Trabalho englobando políticos e servidores públicos com “venda” de registros sindicais.

À época, um empresário revelou que esperava havia mais de cinco anos o registro de uma entidade, quando foi procurado por Silvio de Assis, que lhe pediu R$ 3 milhões para “resolver” o problema. Como houve registro em áudios e vídeos usados como provas, Silvio foi acusado de corrupção, mas o processo até hoje não foi julgado.

"Documentário"
Assis alega inocência. Em relação à CPI, afirma que não sabe por que envolveram seu nome no caso. Ele sustenta que acompanha de perto os trabalhos da CPI afim de coletar conteúdo para realização de “um documentário” que está produzindo sobre as apostas no Brasil. Ao ser questionado se tem relação com Thronicke, respondeu de imediato que conhece “mais de 50% dos senadores”.

Já a senadora, ao repudiar insinuações de Nogueira, confirmou que conhece o lobista, mas ressalvou que não há relação de amizade entre eles. Também acrescentou que realmente há fortes indícios de que algo grave se passa nos bastidores da CPI, sem o envolvimento dela. Ela conta que ouviu uma mensagem de áudio enviada a um empresário convocado para depor em que um senador pedia R$ 100 milhões para “resolver o assunto com a Soraya”.

Ao contrário do que Nogueira concluiu, o tal parlamentar estaria usando o nome dela para achacar. Thronicke, no entanto, não revelou a identidade do colega criminoso e nem do empresário abordado, mas garantiu que encaminhou a denúncia à Polícia Federal.

A CPI das Apostas foi instalada em novembro e tem prazo de cinco meses para concluir os trabalhos. O total de requerimentos soma 360. Desse número, 230 foram aprovados e foram ouvidas seis testemunhas. Pacheco se manifestou. Inclusive avalia até encerrar os trabalhos da comissão antes que seja necessária a criaçao de uma CPI para apurar irregulares na CPI das Apostas. O sorte está lançada. 

Com informações da Veja.

 
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