25/12/2024 às 06h57min - Atualizada em 25/12/2024 às 06h57min

Associação vai doar 2 mil refeições para moradores de rua em Goiânia no Natal

Na noite de Natal, dia 25 de dezembro, voluntários da instituição vão doar quase 2 mil refeições a pessoas em situação de rua. Uma ação que já acontece tradicionalmente todas as quartas e domingos

​Cleobaldo Martins de Oliveira, de 81 anos, criou uma instituição que ajuda a matar a fome de pessoas em situação de rua em Goiânia, Goiás (Foto: Arquivo Pessoal/Associação Tio Cleobaldo)

“Amor é um prato de comida para quem tem fome”, essa frase é do fundador de uma associação que doa quase 30 mil marmitas por mês em ruas de Goiânia. Cleobaldo Martins de Oliveira, de 81 anos, criou uma instituição que leva o seu nome e ajuda a matar a fome de pessoas em situação de rua na capital. E na noite de Natal, dia 25 de dezembro, voluntários da instituição vão doar quase 2 mil refeições a pessoas em situação de rua. Uma ação que já acontece tradicionalmente todas as quartas e domingos.

“A associação surgiu quando a mãe do nosso presidente Cleobaldo, se mudou para Goiânia para realizar um tratamento de câncer, ao chegar aqui, encontraram muita pobreza próximo aos hospitais e a rodoviária, e iniciaram o trabalho preventivo de orientação social e de entrega de comida nas proximidades [desses locais]”, explica Mélcia Almeida, administradora da instituição..

As ações pela Associação Tio Cleobaldo começaram em uma época em que ainda funcionava uma entrada de ferro na capital de Goiás. “Mudei para Goiânia em 1970. Eu comecei em 1971 levando mingau de fubá no hospital do câncer e ajudando aquelas pessoas que chegavam a Goiânia pela estrada de ferro no setor ferroviário”, contou em entrevista para o documentário “Tio Cleobaldo, o homem que mata a fome”, de Mauro Eduardo Lima, lançado neste ano.

Há mais de 50 anos promovendo mudança social, a associação possui hoje três áreas principais de atuação: segurança alimentar, educação e assistência social. “Atendemos atualmente cerca de 5 mil moradores em situação de rua [em Goiânia e Região Metropolitana] com alimentação, atendimentos sociais, atendimentos psicológicos e encaminhamentos, além de atender 50 crianças de forma fixa em nosso projeto de educação (alfabetização e reforço escolar), e termos mais de 5 mil famílias em cadastramento em nossa sede”, afirma Mélcia Almeida.

Segurança alimentar
A fome ainda é um problema grave no Brasil. Um estudo feito por cinco agências especializadas da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado neste ano mostra que 8,4 milhões de brasileiros passaram fome no Brasil entre 2021 e 2023. Apesar do número mostrar uma queda em comparação a dados anteriores, o país ainda continua no Mapa da Fome, entrando durante a pandemia, do qual estava fora, pelo menos, desde o triênio de 2013 a 2015.

O combate à fome é um dos focos da associação. “Nosso público é mesclado, porém, a entrega das refeições que é feita às quartas-feiras e aos domingos, sendo focada na população que se encontra em situação de rua e em famílias que vivem em ocupações urbanas, público alvo que não possua o mesmo apoio que outros e que depende muita das vezes das refeições para não padecerem de fome”, disse a administradora.

São preparadas em média de 1 mil e 500 a 2mil refeições na Associação Tio Cleobaldo todas as quartas e domingos e esporadicamente em outros dias da semana. Com o apoio de parceiros, são entregues até 3.000 refeições por noite. As marmitas são preparadas por um grupo de voluntários em uma cozinha semi industrial que fica na sede da associação.

É o próprio presidente da associação, tio Cleobaldo que cuida de tudo de perto. Com a cozinheira da instituição, eles orientam a preparação das refeições. “O preparar das refeições se inicia pela manhã e são finalizadas e embaladas no período da tarde juntamente com os voluntários, as entregas são feitas no período do jantar”, disse a administradora.

As marmitas produzidas são distribuídas em 17 pontos de entrega e os beneficiários são pessoas em situação de rua, famílias em vulnerabilidade social e casas de apoio que atendem esses grupos. Para conseguir realizar o trabalho, a associação também enfrenta obstáculos. “A maior dificuldade que encontramos no dia a dia é manter os custos dos trabalhos, são quase 30 mil refeições ao mês, o que gera altos custos entre alimentos, gás de cozinha, insumos e gastos com as demais atividades, como os projetos de educação e assistência social”, disse Marina.

O voluntariado tem um papel primordial no trabalho da associação. São em média 100 voluntários, rotativos e fixos, que ajudam na produção e distribuição de marmitas, além de auxílio em outras atividades da instituição.

“Recebemos apoio e doações dos amigos, voluntários e colaboradores. Sejam pessoas públicas ou privadas. Buscamos também apoio mediante aos órgãos públicos municipais, estaduais e federais. Com o alto volume de refeições e atendimentos, toda doação faz diferença e é necessária”, explica a administradora.

Pandemia fez crescer o número de pessoas em situação de rua

Atualmente, há cerca de 2,5 mil pessoas em situação de rua em Goiânia, segundo um levantamento realizado pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO). Esse número é o dobro das pessoas que estavam em situação de rua que existia na capital antes da pandemia de Covid-19. Para Marina, que administra a associação, esse número aumentou, mas ainda não teve muita redução.

Apesar do crescimento, muitas pessoas ainda tratam com indiferença quem está na rua. “A gente está excluído pela sociedade. A sociedade quer que a gente morra”, diz jovem que viveu em situação de rua na praça Joaquim Lúcio, em Goiânia. O depoimento foi dado ao documentário “Tio Cleobaldo, o homem que mata a fome”.

Muito além de uma marmita, de uma comida. Para o fundador da associação, tio Cleobaldo como é carinhosamente conhecido, matar a forme do outro é um gesto de amor. “Amor é uma palavra belíssima. Amor é um sorriso, é um ato de caridade, é uma palavra amiga, é um prato de comida para quem tem fome”, disse ao documentário.

Educação e serviço social
A associação também mantém o Projeto Alfabetizar, que é um programa que atua diretamente no reforço escolar e alfabetização infantil de crianças e adolescentes que vivem em situação de vulnerabilidades sociais. A ação conta com uma pedagoga responsável por todo planejamento, voluntários de diversas áreas. O projeto foi criado na Ocupação Emanuelle, próximo ao Jardim Novo Mundo, na capital, e oferece atividades educacionais todos os sábados em período matutino.

‘Além disso, a instituição realiza serviço especializado com foco em abordagem social em que é ofertado de forma contínua e programada com a finalidade de assegurar o trabalho social de abordagem e busca ativa que identifique, nos território, a incidência de situações de risco pessoal e social, por violação de direitos, como: trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, situação de rua, uso abusivo de crack e outras drogas, dentre outros.


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