15/08/2017 às 18h56min - Atualizada em 15/08/2017 às 18h56min

'Dodge tem de se explicar'

Procurador Carlos Fernando Lima, da Lava-Jato em Curitiba, diz que futura PGR tem de ser cobrada pela visita a Temer fora da agenda

Correio Braziliense

Carlos Fernando Lima disse que a força-tarefa recusou convite para visitar Temer em 2016: Não teria repercussão positiva

 

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba, afirmou ontem, em São Paulo, que “todo funcionário público é responsável pelos atos que tem”. Ele se referiu à visita da futura procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ao Palácio do Jaburu, num encontro na noite de 8 de agosto, fora da agenda, com o presidente Michel Temer.

 

“É claro que ela tem de se explicar. Ela deu uma explicação, ela que deve, então, ser cobrada das consequências desse ato”, disse o procurador da Lava-Jato. “Infelizmente, não há como fugir da responsabilização das pessoas perante a sociedade”, comentou.

Raquel Dodge vai substituir o atual procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em setembro. Ela foi escolhida por Temer na lista tríplice eleita pela classe — pegou o segundo lugar no pleito, suplantada pelo preferido de Janot, Nicolao Dino.

 

Elogios

Lima contou que a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba teve “muitos conflitos com o dr. Rodrigo Janot nesse período”. “Maior parte resolvido internamente, sem nenhum tipo de problema. Dra. Raquel Dodge tem um histórico muito bom e muito forte na área criminal, inclusive no Ministério Público Federal. A equipe dela é excelente, é a equipe, inclusive, que atuou no caso do mensalão. Não acreditamos que haja uma mudança na essência. O Ministério Público só tem uma atividade: investigar e acusar quem for o responsável”, afirmou. “Nós temos, na verdade, duas investigações da Lava-Jato. Nossa, sob responsabilidade da força-tarefa em Curitiba, e agora, talvez, espalhada pelo Brasil. Cada grupo da Lava-Jato pelo Brasil tem inteira responsabilidade pelos atos que toma. O procurador-geral pouco pode influenciar nas decisões.”

 

Temer recebeu a futura PGR em encontro marcado fora da agenda oficial. Ela chegou por volta das 22h, no carro oficial. Na ocasião, a assessoria do Planalto disse que o presidente atendeu a um pedido de Raquel para conversar sobre a posse dela no cargo, em 18 de setembro, um dia depois do encerramento do mandato do algoz de Temer, Rodrigo Janot.

 

O procurador da Lava-Jato participa do Fórum de Compliance da Amcham, na sede da entidade, em São Paulo. O seminário trata da construção da cultura de integridade e anticorrupção nos setores público e privado brasileiro.

 

Loures convidou Lava-Jato para visitar Temer

 

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima revelou ontem que o ex-assessor especial de Michel Temer Rodrigo Rocha Loures convidou a força-tarefa da Operação Lava-Jato de Curitiba para encontrar o então vice-presidente no Palácio do Jaburu. Segundo o procurador, o convite ocorreu em 2016, durante um evento da Associação Nacional dos Procuradores da República, em Brasília.

 

“Nós estávamos recebendo um prêmio. Houve um emissário do presidente, que não era presidente ainda, que nos convidou no palácio. Nós acreditamos que não era conveniente, porque naquele momento não havia por que conversar com o presidente ou eventual presidente. Nós acreditávamos que esse tipo de reunião, naquele momento, não teria uma repercussão positiva para a Lava-Jato”, afirmou.

 

De acordo com Carlos Fernando, o emissário era Rocha Loures, pivô da crise política na qual mergulhou o presidente — o ex-assessor foi filmado com uma mala preta estufada com R$ 500 mil em propina do grupo JBS, dinheiro supostamente destinado a Temer, segundo a Procuradoria-Geral da República.

 

Em 10 de maio do ano passado, a força-tarefa recebeu um prêmio da entidade pelo combate à corrupção. No dia seguinte, o plenário do Senado deu início à votação do parecer da Comissão de Constituição e Justiça sobre o impeachment da então presidente, Dilma Rousseff. Em 12 de maio, a petista foi afastada da Presidência. “Foi nesse momento que recebemos o convite, por meio do interlocutor. Ele nos convidou a ir até o palácio, e nós dissemos não”, relatou o procurador. “Muitas vezes, a decisão decorre do momento. Nós, naquele momento, entendemos que não era o caso de conversarmos com o eventual presidente.”


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