Barreiras culturais e dupla jornada: os desafios das mulheres que empreendem em Goiás

Conforme dados do Sebrae, Goiás conta com 369,6 mil donas do próprio negócio

09/03/2025 07h13 - Atualizado há 3 dias
Barreiras culturais e dupla jornada: os desafios das mulheres que empreendem em Goiás
Reprodução

O cenário do empreendedorismo feminino tem ganhado força em Goiás, nos últimos anos. As mulheres, que representam 50,9% da população goiana, segundo Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, desempenham um papel crucial na geração de empregos e no desenvolvimento econômico. Conforme expõem dados do Sebrae, o estado tem 369,6 mil donas do próprio negócio. Mesmo com tamanha importância, aquelas que embarcam nesta jornada ainda precisam lidar com preconceitos, barreiras culturais e dupla jornada de trabalho. A reportagem ouviu algumas dessas empresárias, que fazem revelações sobre suas rotinas e descrevem os desafios de quem precisa se desdobrar para manter tudo em ordem.

Bianca Deodato, de 27 anos; Tânia Magalhães, 62 anos, e Daniela Cordeiro Dianari, 35 anos. Três empreendedoras goianas que têm em comum dois grandes obstáculos: a gestão do tempo e o preconceito.

Pedagoga por formação, Bianca conta que presenciou se reinventar diante da desvalorização do salário do professor. Ela se especializou na área, mas não encontrou oportunidades com salários que agradassem. Em 2023, ela fez um curso gratuito de Corte e Costura e Modelagem, pelo Colégio Tecnológico do Estado (Cotec). A jovem passou a atuar com confecção de fantasias e roupas temáticas. O que era para ser apenas uma fonte de renda extra virou o novo negócio dela. “Hoje já tenho loja física e não preciso terceirizar costureiras, pois a demanda é muito grande”, afirma.

Sem medo de errar, ela avalia que hoje o maior desafio é dar conta de tudo. “Como mulher, preciso cuidar dos filhos, da casa e ainda da minha loja. Isso tudo sem tempo para reclamar para não ser taxada de fraca ou incapaz. Infelizmente ainda somos muito desacreditadas, às vezes até dentro da própria família. Temos que lidar com o pensamento machista de terceiros de que mulher tem de se contentar com pouco. Comigo é diferente”.

Conforme ressalta Bianca, a vida dela é um verdadeiro malabarismo. Corre daqui para cuidar de afazeres domésticos, acolá, para gerir um negócio e se especializar. “Além de todas as atividades de rotina, ainda preciso estudar. Preciso estar em constante atualização”, disse ao mencionar que a jornada exaustiva às vezes chega a 18h de trabalho.

Força que impulsiona mulheres empreendedoras em Goiás

A trajetória de luta e desafios é semelhante no caso de Tânia Maria Magalhães. Hoje ela tem a chamada ‘Empadão da Tânia’, um estabelecimento comercial que fica em Caldas Novas. Nem sempre foi assim. A mulher saiu da capital com três filhos pequenos e foi morar na cidade das águas quentes, onde enfrentou dificuldades financeiras. Foi preciso se reinventar para sustentar a família. A venda de salgados logo chamou a atenção dela.

“Meu maior desafio no início foi vender salgados de porta em porta. Mesmo diante das dificuldades, nunca pensei em desistir. Havia dentro de mim uma força enorme que me impulsionava a seguir em frente. Hoje, já são 22 anos à frente do Empadão Goiano da Tânia, e essa jornada tem sido de muito aprendizado e crescimento”, comenta.

À reportagem, ela revela que a cobrança em torno das mulheres é grande, principalmente daquelas que precisam conciliar a casa e o empreendedorismo. “Conciliar a empresa, a família, a igreja e o trabalho social não é fácil, é um grande desafio diário, mas com organização, disciplina e, principalmente, fé, é possível dar conta de tudo. Quando fazemos o que amamos, encontramos forças para superar qualquer obstáculo”, disse.

Sobre as barreiras culturais e o preconceito que mulheres ainda enfrentam ao empreender, Tânia é categórica ao afirmar: “as mulheres estão provando, todos os dias, que são tão ou mais capazes do que os homens em qualquer área. Acredito que nossa persistência e capacidade de nos reinventarmos fazem toda a diferença”.

Maternidade x emprego

A empreendedora Daniela montou o próprio negócio “na marra”. Depois de tornar-se mãe, ela tentou voltar ao mercado de trabalho convencional, mas teve retorno negado por várias vezes. Ela conta que, quando os recrutadores descobriam sobre a maternidade, os empecilhos para a contratação surgiam.

Após as negativas, a jovem se instalou no ramo de pipocas gourmet e festas. Na área há 3 anos, ela tinha o sonho de viver do empreendedorismo. “Hoje já realizei esse sonho. Vivo uma vida muito melhor do que quando era CLT. Compramos casa, carro e tivemos outras conquistas. Isso é gratificante. Você olha para trás e vê que tudo valeu a pena”, pontua.

Mas engana-se quem pensa que tudo é um mar de rosas. Para ela, a grande dificuldade é manter o equilíbrio entre ser mulher, mãe e empreendedora. “A gente se desdobra e faz acontecer. A cobrança para a mulher é muito maior, temos que ser melhores, fazer melhor sempre. Seguimos um dia de cada vez e tentando evoluir todos os dias”.

E para mulheres que desejam iniciar no empreendedorismo Daniela dá um conselho: “faça com amor, se dedique, seja constante, estude e não desista. Não se importe com o que digam. Você é capaz e os resultados virão”.


  • Ir para GoogleNews
Notícias Relacionadas »