Durante as investigações da Polícia Federal sobre o esquema de importação de armamento usado pelo traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão, os agentes tiveram acesso a mensagens que revelam a intenção do criminoso de utilizar os equipamentos na guerra contra o Comando Vermelho (CV), facção rival. As mensagens foram encontradas após a quebra de sigilo do celular de Everson Vieira Francesquet, acusado de ser o armeiro do traficante.
Em uma das conversas, Francesquet informa a Peixão que, com a aquisição de um drone capaz de lançar granadas, ele poderá eliminar "Doca", apelido de Edgar Alves de Andrade, um dos chefes do CV. Na mensagem, Francesquet escreve: "Irmão, com esse drone, o senhor vai conseguir explodir o Doca, paizão. Ninguém vai entender nada". Peixão responde em seguida: "E a meta vai ser essa mesmo".
Integrante da cúpula do Comando Vermelho (CV), Doca também é um dos bandidos mais procurados do Rio. Em seu nome há, segundo dados do site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 24 mandados de prisão expedidos pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ).
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Cerca de seis dias depois, Peixão envia uma mensagem de áudio comemorando a funcionalidade do equipamento.
"Qual é, meu mano, bom dia com Jesus aí. Explodi ele lá também essa noite, joguei três bombas. Conseguimos acertar dois, machucou dois. Na verdade, joguei quatro, uma não explodiu e três explodiram. P*, que bagulho maneiro", disse ele.
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No mês seguinte, em julho de 2024, eles conversam novamente sobre a possibilidade de "explodir" os rivais. Durante o diálogo, Peixão relata que um morador do Complexo de Israel foi capturado por criminosos do Comando Vermelho e teria sido alertado de que, em breve, haveria um confronto entre as facções. Segundo um áudio enviado pelo traficante, o aviso foi dado a um morador que foi realizar uma entrega no Quitungo, região dominada pelo CV.
"Levaram o moleque lá para a Penha. Lá, o Gardernal [Carlos da Costa Neves] deu esse papo nele. Falou: 'Fala pro Peixão que já, já a gente vai ter um encontro, já, já a gente vai se encontrar'", disse Peixão. Gadernal é apontado como braço-direito do Doca.
Na conversa, Francesquet escreve: "Irmão, vamos explodir eles. Vamos perder tempo, não".
Esquema para comprar armas
A investigação revelou que a quadrilha de Peixão usa grandes transportadoras para receber em casa o armamento e outros equipamentos ilícitos que auxiliam na guerra e na resistência às operações policiais. Dessa maneira, os traficantes não precisavam se arriscar a serem presos ao cruzar fronteiras ou a esconder a carga ilícita em caminhões e porta-malas de carros, disseram os investigadores. Do Paraguai, por exemplo, eles importavam até fuzis AK47 e mandavam entregar pelos Correios.
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A investigação, revelada no Fantástico, começou com a prisão de Everson Vieira Francesquet em julho do ano passado, quando ele tentou buscar um fuzil antidrone em um Centro de Distribuição dos Correios, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ele foi solto depois pela Justiça, mas passou a ser monitorado pela PF.
Mensagens interceptadas mostram que Everson Francesquet cuidava da compra e envio do material, que vinha até com código de rastreamento online. Uma das táticas para tentar driblar o controle da alfândega, ao negociar na plataforma chinesa AliExpress, era limitar algumas compras a US$ 25. Ele se preocupava até com a valorização da moeda americana, que poderia encarecer a importação.
A Polícia Federal também encontrou quatro recibos de liberação alfandegária no telefone do armeiro. Os documentos foram emitidos pela empresa DHL para o transporte de produtos de Hong Kong, na China, para a casa de Everson, em Nova Iguaçu.
Os Correios disseram que mantêm uma atuação rigorosa no combate ao envio de objetos ilícitos por meio do serviço postal e estão trabalhando em parceria com órgãos de segurança pública e fiscalização. A DHL Express informou que não compactua com nenhum tipo de atividade criminosa e disse que acompanhará o caso, colaborando com a investigação. O AliExpress declara que repudia qualquer atividade criminosa e está disponível para colaborar com as autoridades responsáveis. A defesa do preso não foi encontrada.