As delações de Sérgio Cunha Mendes, ex-vice-presidente da Mendes Júnior, e de outros executivos da empreiteira deverão reforçar a denúncia de que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) usou dinheiro da empresa para pagar pensão alimentícia a Mônica Veloso, jornalista com quem o senador tem uma filha de uma relação extraconjugal. Em acordo que vem sendo negociado, Mendes se dispõe a esclarecer o caso que levou Renan a renunciar à presidência do Senado e a quase perder o mandato em 2007, segundo disse ao GLOBO uma fonte que acompanha as investigação.
Os acordos de delação de Mendes e outros executivos da empreiteira vêm sendo negociados desde novembro do ano passado e só não foram assinados, até o momento, porque os procuradores responsáveis pela Lava-Jato estão sobrecarregados. As tratativas para os acordos de delação de executivos da Odebrecht deixaram em segundo plano as demais delações. Sérgio Mendes e outros executivos da Mendes Júnior negociam acordo de delação com a força-tarefa de Curitiba e com o grupo de trabalho da Procuradoria-Geral da República, em Brasília.
A denúncia sobre o suposto suborno pago ao presidente do Senado foi apresentada pela PGR em 2013. Mês passado, o ministro Edson Fachin, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, anunciou que o relatório sobre o recebimento da denúncia estava pronto. Cabe agora à presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, decidir quando o caso, que se arrasta há quase uma década, será posto em votação. Renan foi indiciado por peculado, falsidade ideológica e uso de documentos falsos.
“O denunciado utilizou documentos ideologicamente falsos perante o Senado Federal para embasar a defesa apresentada”, diz a denúncia feita pelo ex-procurador-geral Roberto Gurgel e mantida pelo sucessor, Rodrigo Janot. A denúncia tramita em sigilo.
O caso teve origem em 2007, quando Renan foi acusado de usar dinheiro da Mendes Júnior para pagar pensão de R$ 12 mil mensais, em valores da época, a Mônica Veloso. A empreiteira teria bancado a pensão entre 2004 e 2006. Para despistar, os recursos teriam sido repassados pelo lobista Cláudio Gontijo diretamente à ex-amante do senador.
A empreiteira teria pago também despesas em um hotel de Brasília para o presidente do Senado. Ao se defender em processo por quebra de decoro, Renan apresentou documentos para comprovar que, como parlamentar e fazendeiro, tinha renda suficiente para pagar a pensão com recursos próprios.
A Procuradoria-Geral da República sustenta, no entanto, que alguns documentos apresentados pelo senador são falsos. Ele teria inflado o tamanho do rebanho vendido em determinado período para justificar pagamentos a Mônica.
Pela denúncia, Renan “não possuía recursos disponíveis para custear os pagamentos feitos a Mônica Veloso”. Em nota divulgada em 2007, a Mendes Júnior negou que tenha bancado a pensão de Mônica e defendeu a lisura dos contratos que mantinha com várias estatais, entre elas a Petrobras.
Num dos processos abertos a partir da investigação, Sérgio Mendes foi condenado a 19 anos e 4 meses de prisão.