Legendas pequenas se articulam para as próximas eleições do DF. Lideranças miram, inclusive, o Palácio do Buriti. Reforma política, em tramitação no Congresso, pode atrapalhar estratégias desses grupos
Entre os 24 deputados que integram a Câmara Legislativa, há representantes de 16 partidos. A miscelânea de siglas na Casa mostra a força das pequenas legendas na capital federal. Os partidos nanicos conquistaram espaço no Legislativo e, no ano que vem, vão tentar influenciar também as eleições majoritárias. Muitas lideranças partidárias já se organizam para formar grupos maiores e, assim, ganhar poder de barganha nas principais negociações de 2018.
Com essa força das pequenas legendas, não está descartada nem uma candidatura própria ao governo ou a alguma vaga majoritária. Nos bastidores, as tratativas ocorrem de forma intensa mas, em público, a maioria evita lançar nomes ainda em 2017. O PSC é uma das siglas que se articulam para ganhar espaço em 2018.
Surfando na alta popularidade do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à Presidência da República, o partido ganhou adeptos e hoje conta com 14 mil filiados. O desafio dos representantes da legenda no Distrito Federal é tentar manter esse número em alta, mesmo após Bolsonaro deixar o partido. O parlamentar já demonstrou insatisfação na legenda e tem sido cortejado para mudar de casa antes das eleições. Na semana passada, ele anunciou a intenção de se filiar ao PEN para concorrer à Presidência.
O secretário-geral do PSC no DF, Daniel Lemos, comemora as estatísticas e conta que os integrantes estão empenhados em manter os filiados, independentemente do futuro de Bolsonaro. “Estamos fazendo um grande trabalho para identificar e entender o perfil dos nossos filiados para tentar mantê-los. Brasília tem eleitores diferenciados e é preciso compreendê-los”, comenta Daniel.
A sigla pretende lançar uma nominata forte para a Câmara Legislativa e o principal candidato deve ser o presidente regional, pastor Daniel de Castro. Para a Câmara dos Deputados, o partido deve optar por nomes menos conhecidos. “O novo vai ditar a campanha de 2018. A população quer novidades. A gente não quer ficar falando em proposta, mas firmar compromissos, coisas que são atingíveis”, explica Daniel Lemos.
Em negociações
O PRB tem um representante na Câmara Legislativa: o distrital Júlio César. Se o parlamentar optar pela candidatura a deputado federal, surgirão novos nomes para a disputa de distrital. O presidente regional da sigla, Wanderley Tavares, é mencionado como possível candidato ao governo, mas não confirma a possibilidade. “Nenhum partido hoje está completamente fechado, todos estão negociando e avaliando o cenário”, diz Wanderley.
Ele conta que uma aliança de quatro partidos pequenos está se consolidando. O grupo, que conta com três distritais, terá poder para influenciar a formação de chapas em 2018. “A parceria entre o PRB, o PSC, o PHS e o Podemos é para organizar as proporcionais de deputado federal e distrital, em um primeiro momento. Se a gente conseguir ampliar essa aliança, naturalmente vamos pleitear uma vaga na majoritária”, diz o Wanderley Tavares.
O grupo, atualmente na base aliada, já se reuniu com o governador Rodrigo Rollemberg depois da formalização da aliança. “Tivemos uma boa conversa, mas ainda não podemos definir nada sobre 2018. O diálogo continua”, diz Tavares, sem confirmar, por ora, um possível apoio à reeleição de Rollemberg.
O Podemos, partido do deputado distrital Rodrigo Delmasso, terá candidato à Presidência da República. O senador Álvaro Dias (PR) se filiou à sigla recém-criada com o objetivo de disputar o Palácio do Planalto. “A gente não deve ter candidato ao governo, mas podemos ter ao Senado. O importante na negociação com os candidatos ao governo é que possamos ter palanque alternativo para o senador Álvaro Dias aqui em Brasília”, diz Delmasso.
Viabilidade
Segundo o parlamentar, a legenda quer aumentar o número de deputados distritais e escolher um nome forte para a disputa a deputado federal. Sobre um possível apoio a Rollemberg, o ex-líder do governo na Câmara não descarta a viabilidade do acordo. “Não fizemos a discussão interna. Apesar de discordâncias pontuais, é possível que isso ocorra”, afirma Rodrigo Delmasso.
No Pros, o principal nome do partido no DF acaba de decidir ficar fora da disputa. O deputado federal Ronaldo Fonseca, que chegou a ser cotado para um cargo de vice-governador ou de senador, optou por não concorrer. “Não serei candidato a nada em 2018. O sistema político brasileiro hoje não favorece o cidadão de bem. O cenário está complicado, incerto. Sou pastor e vou me dedicar a isso”, explica o parlamentar.
Fonseca, entretanto, não ficará de fora das articulações. Ele promete lançar um candidato a deputado federal e pelo menos um concorrente à Câmara Legislativa. “Espero definir esses nomes em até um mês”, promete o deputado do Pros. Ele também quer apoiar um candidato ao governo, mas ainda não tem nomes.
"O novo vai ditar a campanha de 2018. A população quer novidades. A gente não quer ficar falando em proposta, mas firmar compromissos, coisas que são atingíveis"
Daniel Lemos, secretário-geral do PSC no DF
"Se a gente conseguir ampliar essa aliança (PRB, o PSC, o PHS e o Podemos), naturalmente vamos pleitear uma vaga na majoritária"
Wanderley Tavares, presidente regional do PRB
Todos de olho na reforma política
O peso que os partidos nanicos terão nas eleições ainda depende da conclusão do debate sobre a reforma política, retomado este mês no Congresso Nacional. Além das propostas de mudanças no financiamento eleitoral, também tramita na Câmara dos Deputados uma proposta que acaba com as coligações nas eleições proporcionais.
O texto tem que ser aprovado pela Casa e pelo Senado até setembro para que as mudanças passem a valer no ano que vem. Apesar do empenho de alguns parlamentares em aprovar a proposição, o tema ainda suscita muita divergência. O eventual fim das coligações pode reduzir de forma expressiva a influência das legendas menores.
Na semana passada, a comissão da Câmara que debate as mudanças eleitorais concluiu as votações com a aprovação da emenda que adota o chamado “distritão” nas eleições de 2018 e de 2020. O colegiado também deu aval à criação de um fundo de R$ 3,6 bilhões com recursos públicos para financiar as corridas eleitorais. No modelo do distritão, a eleição torna-se majoritária, ou seja, são eleitos os candidatos mais votados, sem levar em conta os votos para o partido ou a coligação.
A proposta altera o sistema de eleição de deputados federais, distritais, estaduais e vereadores. No sistema proporcional, em vigor atualmente, o voto do eleitor vai para uma coligação de partidos, e não diretamente para o candidato escolhido. Quando o grupo atinge o quociente eleitoral, o mais votado da coligação é eleito. Isso contribui para a eleição de representantes de partidos nanicos, que teriam menos chances em um sistema majoritário.