Morreu, nesta terça-feira (13/5), o ex-presidente do Uruguai José ‘Pepe’ Mujica, aos 89 anos. O político mais popular do país e um dos mais importantes da América Latina sofria de câncer no esôfago, anunciado em abril de 2024. O presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, confirmou, em postagem às 16h14, a morte de Mujica. "É com profundo pesar que anunciamos o falecimento do nosso colega Pepe Mujica. Presidente, ativista, líder e líder. Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que você nos deu e pelo seu profundo amor pelo seu povo."
Na última entrevista que deu à mídia uruguaia, publicada pelo jornal Búsqueda no dia 9 de janeiro, Mujica havia anunciado o agravamento da doença e a iminente partida: “Estou morrendo”.
“O câncer no esôfago está colonizando meu fígado”, informou. “Não consigo pará-lo com nada. Por quê? Porque sou um idoso e porque tenho duas doenças crônicas.” O corpo de Mujica, segundo ele próprio, não aguentaria tratamento bioquímico ou cirurgia para impedir o avanço da doença. Em novembro de 2024, o ex-presidente precisou passar por cirurgia que inseriu stent no esôfago.
Ele anunciou, porém, no dia 9 de janeiro, que não faria mais tratamentos nem entrevistas. Pediu, portanto, a médicos e a jornalistas que não o fizessem “sofrer demais”.
“Deixe que eles (os médicos) me cutuquem e, quando for parar morrer, eu morro”, afirmou. “Estou condenado, irmão. Cheguei até aqui.” Quanto aos repórteres, Mujica disse que a única coisa que desejava era utilizá-los para se despedir publicamente dos “compatriotas” e dos “companheiros”; no mais, pediu que os deixassem em paz, que não pedissem “mais entrevistas, nem nada mais”.
“Meu ciclo já terminou”, disse. “Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito a seu descanso.”
Ele havia dito, também, que, a partir de então, se dedicaria ao trabalho na lavoura enquanto o corpo permitisse. “A vida me deu muitos prêmios”, afirmou, com lágrimas nos olhos, em janeiro. “O principal deles é que estou a quatro meses de completar 90 anos.”
Mujica afirmou, portanto, àquela época, que morria “totalmente calmo e agradecido”, mas que se arrependia de muitas coisas, principalmente do fato de que, mesmo tendo sido presidente do Uruguai, ainda havia pessoas que passavam fome no país.
Finalizou dizendo que morreria em casa, onde deu a entrevista, e que desejaria ser enterrado abaixo da árvore sequoia onde jaz Manuela, a cadela de três patas morta em 2018.
Quem foi Pepe Mujica
Nascido em maio de 1935, em Montevidéu, no Uruguai, o agricultor José Alberto Mujica Cordano, mais conhecido como Pepe Mujica, foi presidente do país entre os anos de 2010 e 2015 e uma das figuras mais importantes da esquerda na América Latina.
A partir dos anos 1990, foi deputado, senador e ministro da Agricultura, mas, bem antes disso, era peça-chave na política uruguaia, principalmente no que diz respeito ao combate à ditadura militar que regeu o país entre 1973 e 1985 — período em que ficou, durante a maior parte, preso.
Ao todo, passou cerca de 15 anos na prisão, 11 deles em um calabouço como refém da ditadura. Após a última soltura, em 1985, devido à anistia decretada naquele ano, criou o Movimento de Participação Política (MPP) dentro da coalizão de esquerda Frente Ampla, pela qual foi eleito em 2009.
Também foi conhecido por episódios de guerrilha, mas, durante a entrevista ao Búsqueda, em janeiro deste ano, deixou claro que, ao fim da vida, acreditava que esse período da juventude havia sido um erro e lutava, desde então, pela democracia.
Durante o período em que foi presidente, tinha como meta prioritária a redução dos índices de miséria e pobreza do Uruguai e tornou-se mundialmente conhecido por declarações humanistas. Também se recusou a morar no palácio presidencial, e viveu durante os cinco anos da presidência no sítio onde morreu, na parte rural de Montevidéu.
De acordo com o Búsqueda, Pepe Mujica continua sendo, até os dias de hoje, o político mais popular do país, junto ao ex-presidente Luis Lacalle Pou.