23/08/2017 às 07h23min - Atualizada em 23/08/2017 às 07h23min

De golpes a rinhas: Helio Ortiz atuava desde 2005 na máfia dos concursos

Além de 10 passagens pela polícia, Helio Ortiz já recebeu, sem trabalhar, dois salários no Congresso Nacional e acabou exonerado da Justiça do DF. Durante a prisão de ontem, os agentes encontraram na casa dele 200 galos usados para brigas

Correioweb

 

Apontado como líder de esquemas dedicados à fraude de concursos públicos há décadas, apreciador de brigas de galo e dono de uma arena para a promoção de rinhas, guarda e treina centenas de aves, Helio Garcia Ortiz acabou preso, novamente ontem, pela Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado da Polícia Civil (Deco). Natural de Cárceres, no Mato Grosso, o homem de 63 anos acumula 10 passagens pela polícia.
 
Enquadrado institucionalmente por improbidade administrativa, lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional após a deflagração da Operação Galileu, em 2005, Ortiz acabou desligado do quadro de pessoal do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT), onde era servidor desde 4 de maio de 1984. Ele havia postulado a vaga em um concurso da Corte aos 21 anos. O salário bruto no tribunal era de R$ 4.738.72, e o líquido girava em torno de R$ 2,5 mil.
 
Mas os problemas do chamado “chefe” do esquema de fraude não param por aí — há envolvimento, ainda, com ex-servidores do Congresso Nacional e parlamentares. Requisitado à Câmara dos Deputados em 30 de dezembro de 2003, ele não trabalhou sequer um dia no gabinete dos dois políticos a quem deveria assessorar: Elaine Costa (PTB-RJ) e Severiano Alves (PDT-BA).
 
Apesar da nomeação, à época, a petebista afirmou nunca ter visto o técnico judiciário. “Fui eu quem o contratei. A responsabilidade é minha”, assumiu a então chefe de gabinete da deputada, Nívea de Oliveira Ribeiro. Ela alegou que conheceu Ortiz na Igreja Evangélica Tenda da Libertação, no Guará 2 — o local fica próximo à residência do ex-servidor do TJDFT, situada na QE 15 da região administrativa. “Ele parecia um homem muito bom. Disse que a mulher estava doente, e pedi para a deputada contratá-lo. Ela concordou”, afirmou Nívea.
 
A ex-funcionária acrescentou que, além do salário do TJDFT, Ortiz ganhava da Câmara uma gratificação de R$ 1,5 mil. O técnico judiciário foi dispensado em 3 de dezembro de 2004, porque o marido da deputada, Henry Charles, ex-prefeito de São Gonçalo (RJ), havia perdido as eleições. Dois meses depois, em fevereiro de 2005, Helio Ortiz estava lotado no gabinete do deputado Severiano Alves. “Eu nunca o vi na vida. Ele procurou o meu chefe de gabinete e disse que a mulher estava doente. Seu salário era de R$ 301, coisa insignificante. Por isso, concordei em empregá- lo sem que ele precisasse aparecer na Câmara”, disse o então deputado.
 
Na prática, Ortiz tinha dois empregos, recebia dois salários, mas não desempenhava qualquer função. De acordo com os agentes da Polícia Civil que, à época, o monitoraram durante cinco meses, ele acordava tarde e se dedicava a um hobby ilegal: rinhas de galo. Até viajava para competir em outras unidades da Federação. O velho hábito, inclusive, não ficou para trás. Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, ontem, agentes encontraram 200 galos na propriedade de Ortiz, localizada no Setor de Chácaras Veredão, no Park Way. Segundo a Polícia Civil, os animais eram obrigados a se enfrentarem durante os passeios ele realizava em Corumbá de Goiás. A prática é enquadrada como crime ambiental. Atualmente, ele dedicava-se apenas ao hobby e, supostamente, à fraude de concursos, destaca a Polícia Civil.
 
Família
A suposta prática de irregularidades é característica familiar. A Deco também cumpriu, ontem, mandado de prisão preventiva contra Bruno Ortiz, filho de Helio. Segundo a corporação, apesar do envolvimento na Operação Galileu, o rapaz segue a receber recursos públicos. Ele conquistou, em 2003, o cargo de oficial de Justiça, no Tribunal de Justiça do Pará, e, a despeito da própria prisão, foi apenas afastado das funções na Corte. Assim, continua a ter, todos os meses, o contracheque com um terço da remuneração descontado na conta.
 
Ademais, a primogênita de Ortiz, Caroline Garcia Ortiz, também em meados de 2005, foi presa em razão de ter sido beneficiada pela organização criminosa. A mãe dela e mulher de Helio também foi alvo da Operação. No fim das contas, da família, apenas Helio e a companheira foram condenados na esfera penal.
 
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