O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Tofolli homologou a primeira delação premiada na operação Maus Caminhos, que desbaratou uma organização criminosa acusada pelo Ministério Público Federal no Amazonas (MPF) de desviar R$ 100 milhões da área de Saúde do Estado, por meio da Organização Social ICN (Instituto Novos Caminhos).
Conforme o procurador da República Alexandre Jabur, a delação homologada foi da ex-funcionária do Instituto Novos Caminhos, a enfermeira Jennifer Naiyara Yochabel da Silva.
Acusado de ser líder da organização criminosa, o médico Mouhamad Moustafa, dono da OS ICN, foi libertado, nesta quarta-feira (30), após pagar R$ 28 mil.
A delação precisou da homologação do STF porque a ação envolvem autoridades com foro privilegiado, como deputados federais e senadores. No início deste ano, Tofoli determinou a abertura de inquérito para investigar o senador Omar Aziz (PSD-AM), com o desmembramento da ação da operação Maus Caminhos.
A decisão foi tomada após a juíza da 4ª Vara Federal no Amazonas, Ana Paula Serizawa Silva Podedworny, enviar ao STF o inquérito da operação, por envolver alvos com foro privilegiado.
Durante audiência, ontem, na Justiça Federal no Amazonas, em que foi ouvido como testemunha de defesa o deputado estadual Belarmino Lins (PROS), o procurador Jabur requereu à juíza Ana Paula que pedisse urgência ao ministro Toffolli no encaminhamento da delação para o Amazonas, a fim de ser incluída no processo em tramitação no Estado.
O MPF pretende que a delação seja incluída no processo antes do depoimento do médico Mouhamad Moustafa, acusado de ser o líder da organização criminosa, e da advogada Priscila Marcolino, ainda sem data para ocorrer.
Durante depoimento realizado nesta quarta, o deputado estadual Belarmino Lins respondeu a perguntas referentes à tramitação do projeto de lei n° 196/2013, que levou à qualificação do Instituto Novos Caminhos como organização social, em apenas 23 dias, fato que causou estranheza ao MPF.
Libertação
Mouhamad e Priscila, que estavam presos desde setembro do ano passado, foram libertados, ontem, após pagamento de fianças determinadas pela Justiça no valor de R$ 28 mil para cada acusado.
Os dois não podem sair de suas respectivas casas após as 18h e que eles entregariam seus passaportes. Outra medida é que eles devem avisar a Justiça Federal sempre que forem se ausentar do Estado.
Entenda o caso
Nas ações, Mouhamad e mais oito pessoas são acusadas de se beneficiarem de dispensa indevida de licitação em dezenas de situações diferentes.
Além do empresário, foram denunciados a enfermeira Jennifer Naiyara Yochabel Rufino Correa da Silva, o farmacêutico Paulo Roberto Bernardi Galacio, os empresários Priscila Marcolino Coutinho, Alessandro Viriato Pacheco, Davi de Azevedo Flores, Erhard Lange e Gilberto de Souza Aguiar, além da médica Karina Moustafa – irmã de Mouhamad.
Todos responderão pelo crime de dispensa indevida de licitação, previsto no artigo 89 da Lei de Licitações (Lei 8.666/93), praticado várias vezes e de forma continuada.
Mouhamad é réu nas sete ações e, se consideradas as penas máximas a que está sujeito, pode ser condenado a até 96 anos de prisão. Jennifer e Paulo respondem a seis ações e, pelas penas máximas, podem ser condenados a 71 anos de prisão, diante de uma série de agravantes a serem avaliados pela Justiça na sentença.
As investigações que deram origem à operação Maus Caminhos demonstraram que, dos quase R$ 900 milhões de reais repassados, entre 2014 e 2015, pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS) ao Fundo Estadual de Saúde (FES), mais de R$ 250 milhões de reais teriam sido destinados unicamente à Sociedade de Humanização e Desenvolvimento de Serviços de Saúde Novos Caminhos – Instituto Novos Caminhos (INC).
Qualificada como organização social, a entidade era responsável pela gestão de apenas três unidades de saúde no Estado: UPA 24 horas Campos Sales, em Manaus, UPA 24 horas e Maternidade Enfermeira Celina Villacrez Ruiz, em Tabatinga, e Centro de Reabilitação de Dependentes Químicos (CRDQ), em Rio Preto da Eva.
Os órgãos de fiscalização e controle apuraram ainda que os maiores fornecedores do Instituto Novos Caminhos eram apenas três empresas: Salvare Serviços Médicos Ltda., Total Saúde Serviços Médicos e Enfermagem Ltda. e Sociedade Integrada Médica do Amazonas (Simea).
De acordo com as denúncias do MPF, embora não fosse proibida a contratação de empresas para o fornecimento de serviços e materiais, foi verificado que o INC e as empresas privadas constituíam, na verdade, um mesmo grupo econômico, comandado por Mouhamad Moustafa.
Com informações Do site Ataque aos Cofres Públicos, com informações da D24 AM