Mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos pela Polícia Federal, nesta quinta-feira (14), nas casas do secretário de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, Carlos Avalone Júnior, do senador Aparecido dos Santos (PR), o Cidinho, do dono do jornal Diário de Cuiabá, Gustavo Capilé, de sócios da Construtora Três Irmãos, e na empresa Amaggi, do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, em Cuiabá.
Eles são investigados pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), diz na decisão, em que ele determinou os mandados de prisão que, entre 2014 e 2017, Maggi, Gustavo Capilé e Cidinho vêm tentando prejudiar a investigação no âmbito da Operação Ararath, que investiga crimes financeiros e lavagem de dinheiro.
Em nota, Maggi nega ações para tentar obstruir a Justiça. "Jamais vou aceitar qualquer ação para que haja 'mudanças de versões' em depoimentos de investigados. Tenho total interesse na apuração da verdade", diz. O G1 tenta contato com os outros citados na reportagem.
Ao todo, durante a Operação Malebolge, a Polícia Federal cumpre mandados de busca e apreensão em 64 endereços residenciais e órgãos públicos, em Mato Grosso, Brasília e São Paulo.
Destes, três endereços são do ministro Blairo Maggi, que é ex-governador de Mato Grosso. Na decisão, o ministro do STF determinou busca nas casas dele, em Brasília e em Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá, e na empresa dele, na capital.
Os agentes da PF também vasculham as casas do senador Cidinho, que assumiu vaga no Senado com a saída de Maggi para comandar o Ministério, no ano passado, localizada na Avenida Filinto Müller, no Centro de Cuiabá, e do empresário Gustavo Capilé, em uma chácara, na MT-251, na capital, e nas residências e empresas de Carlos Avalone e dos sócios e irmãos dele, Marcelo Avalone e Carlos Eduardo Avalone.
Consta na decisão que, em novembro de 2013, depois do cumprimento da apreensão de diversos títulos e documentos que implicavam direta e indiretamente Blairo Maggi, na 1ª fase da Operação Ararath, o ex-secretário de estado, Éder Moraes, e o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, teriam "unificado as linhas de defesa" e solicitado ao empresário Gércio Marcelino Mendonça Júnior, o Júnior Mendonça, que firmou acordo de delação premiada, que não citasse o nome do ministro.
Além disso, o ministro cita a mudança do depoimento de Éder Moraes afim de inocentar Blairo. Em depoimento à Procuradoria Geral da República (PGR), o ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB), disse que ele e Maggi pagaram R$ 6 milhões a Éder.
Silval Barbosa afirmou, na delação já homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que a parte de Blairo Maggi foi entregue ao ex-secretário por Gustavo Capilé, que, segundo ele, tinha relação próxima com o ministro. Disse ainda que o próprio Blairo confirmou que o pagamento foi feito em dinheiro vivo, entre 2014 e 2015.
A ligação de Gustavo Capilé com Maggi também foi mencionada por Júnior Mendonça, como o enfatizado pelo ministro na decisão. "(Júnior Mendonça) salientou, ainda, que Gustavo Capilé era sempre visto nos eventos e festividades na residência de Blairo Maggi e visitou Éder de Moraes Dias, por ocasião da prisão deste em Brasília", destaca.
O ministro afirma que, segundo Júnior Mendonça, Éder recebeu dinheiro de propina repassado pela empresa Três Irmãos Engenharia. Carlos Avalone e Marcelo Avalone teriam emitido cheques com valores oriundos de "retornos" devidos pelos contatos que a empresa mantinha com a Secretaria de Infraestrutura do estado.
"Depois dos pagamentos recebidos dos interessados Silval Barbosa e Blairo Maggi, efetivamente veio a se retratar dos depoimentos em que os incriminava", diz trecho da decisão.
Outro motivo apresentado para a busca e apreensão nas casas e empresa de Maggi é a suspeita de oferecimento de vantagem indevida ao ex-governador Silval Barbosa, por meio do senador Cidinho dos Santos, quando Silval estava preso no Centro de Custódia de Cuiabá. Segundo Silval, Cidinho o visitou em abril deste ano, com a promessa de ajudá-lo a deixar a prisão se evitasse firmar acordo de delação e entregou como prova um áudio de uma conversa entre ele e o senador.
Cidinho diz, em nota, não ter levado nenhum recado de Blairo Maggi a Silval Barbosa. "Sigo com a consciência tranquila e inteiramente à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos", afirma.