A Polícia Federal tem tudo para assumir a Operação Sacerdote, deflagrada nesta sexta, 22, pela Polícia Civil de Brasília, que desbaratou um esquema de roubo de lotes ‘Classe A’ da Terracap.
Motivos não faltam:
1) A União, coproprietária da estatal de terras de Brasília e maior imobiliária do País, sentiu-se lesada;
2) Gustavo Adolfo, o ex-diretor preso, agiria em nome de ao menos uma personalidade com foro privilegiado;
3) Na ação de busca e apreensão surgiram papéis com nomes e números comprometedores em alto escala.
Esses três itens – para ficar, por ora, só nesses – são motivos suficientes para que as investigações mudem de mãos, revelou a Notibras um integrante do Ministério Público do Distrito Federal que participou do desenho da operação.
E tem mais: a grilagem não estaria ligada apenas a valorizados lotes do Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul.
Embora toda a investigação esteja sendo feita com cautela, é sabido que dados obtidos durante a fase de coleta de informações e outros detalhes surgidos nas buscas e apreensões, apontam para o possível envolvimento de gente muito importante. Seriam figuras tão expressivas, que Gustavo Cabeça Branca – alcunha do ex-diretor da Terracap preso nesta sexta-feira -, não passaria de peixe miúdo.
Mesmo que ainda não existam fatos concretos ligando outras autoridades às práticas criminosas, os investigadores querem saber se essa ou aquela pessoa se beneficiou, direta ou indiretamente, com os lucros obtidos com a grilagem.
Segundo a mesma fonte do MP, uma das autoridades, que só pode ser investigada com autorização do STJ, teria patrocinado a indicação de Gustavo Adolfo Moreira Marques para o cargo de Diretor de Gestão Administrativa e de Pessoas da Terracap.
Aí reside o problema maior. É que o indicador do indicado, ocupa cargo relevante hoje por indicação de pessoas que têm foro bem mais acima do umbigo do STJ – é questão, portanto, envolvendo diretamente o Supremo Tribunal Federal.
Até agora há ao menos uma certeza: o MP pretende analisar com profundidade toda a documentação apreendida. Caso surja algum dado que aponte para a possibilidade de envolvimento de outras autoridades, todo material deverá ser encaminhado ao STJ, a quem caberá autorizar a Polícia Federal a prosseguir com as investigações. E no caso de piabas se transformarem em garoupas, o assunto passa para a alçada do Supremo.
A proximidade entre Gustavo e seu “padrinho” – que por sua vez era afilhado de outros capos – já vinha chamando a atenção de muita gente. Para alguns servidores do TCDF e da Terracap, a relação de ambos era mais do que perigosa.
Esses mesmos interlocutores consideram como favas contadas o fato de que Gustavo Cabeça Branca contará tudo o que sabe, arrastando muita gente encastelada nos palácios com vistas para a Praça do Buriti.
Mas a Polícia Federal, diante de tantas suspeitas, precisa estar atenta. Temendo ver o sol nascer quadrado, ao menos um dos alvos tem o passaporte carimbado para dar uma volta ao mundo, como fez importante navegador português. Entre se deixar arder como fogo, ele vai preferir bronzear o corpo na piscina de um transatlântico.