Em recente artigo, a colunista Eliane Cantanhêde, do Estadão, revelou que, ao estourar o apartamento com os R$ 51 milhões do ex-ministro Geddel Vieira Lima, a Lava Jato chegou a uma outra frente de investigações, porque a moda agora é esconder dinheiro vivo em apartamentos, casas, depósitos e contêineres. Assinala a jornalista que essa nova forma de guardar dinheiro sujo está longe de ser exclusividade de Geddel, pois os políticos corrompidos estão fugindo de doleiros, laranjas, contas no exterior e paraísos fiscais.
“Os investigadores esfregam as mãos diante da delação do ex-poderoso Antonio Palocci, ansiosos para ele entregar onde estaria, afinal, a dinheirama que delatores atribuem ao ex-presidente Lula”, diz Eliane Cantanhêde.
CONTA “AMIGO” – “Segundo Marcelo Odebrecht e o próprio Palocci, era o ex-ministro, e só o ex-ministro, quem gerenciava os milhões da conta pessoal do “Amigo” Lula, cuidando da contabilidade de entradas e saídas, das retiradas em dinheiro vivo, dos envios até Lula. Quando os também ex-ministros Guido Mantega e Paulo Bernardo tentaram entrar na operação, Marcelo rechaçou. Quem metia a mão no dinheiro de Lula era Palocci, hoje o principal algoz do chefe”, diz o importantíssimo artigo da jornalista do Estadão, mostrando que está cada vez mais difícil lavar dinheiro sujo.
Antigamente era fácil, bastava abrir hotéis e restaurantes, declarar receita superfaturada, pagar os impostos e estava concluída a lavagem. Mas acontece que hoje em dia são raros os clientes que pagam em dinheiro, o movimento maior é no cartão de débito/crédito.
Poucas atividades empresariais ainda lidam com dinheiro vivo, e a tendência é irem diminuindo cada vez mais essa prática. Em breve, praticamente só sobrarão os doleiros e os banqueiros do jogo do bicho, embora até os bicheiros já tenham começado a usar essas maquininhas infernais.
RIGOR NA FISCALIZAÇÃO – Para os corruptos, a pior notícia é o início do funcionamento do supercomputador “Hal” na sede do Banco Central, com ligação direta com o “T-Rex da Receita Federal”, e o sistema está interligado a cartórios de registro de imóveis, aos Detrans e aos órgãos de registro de aeronaves e embarcações, conforme Mário Assis Causanilhas e Celso Serra revelaram aqui na “Tribuna da Internet”, com exclusividade.
Se o sistema funcionar a contento, monitorando 182 bancos, 150 milhões de contas de pessoas física e jurídicas, com cruzamento de informações, não haverá como esquentar o dinheiro sujo. Até os laranjas estarão sob rigoroso controle. Como diria o prefeito Odorico Paraguaçu, criado pela genialidade de Dias Gomes, “não adiantará nada, perfunctoriamente, querer lavar e enxaguar a alma com detergente e sabão em pó”.
POUCAS OPÇÕES – A corrupção é criativa, mas haverá poucas opções. Por enquanto, é possível lavagem em hotéis, restaurantes, lanchonetes e supermercados, que ainda trabalham com dinheiro vivo, mas o avanço do cartão eletrônico é inexorável, até camelôs e bicheiros estão se modernizando. Ficará cada vez mais difícil operar em dinheiro vivo, em breve só restarão as igrejas católicas e as seitas evangélicas, que faturam alto, mas não pagam impostos, o que dificulta a lavagem divina.
Em tradução simultânea, pode-se dizer que ser corrupto. será uma atividade de altíssimo risco e que exigirá muita mão de obra. Há quem sonhe com a reabertura dos bingos, mas não adianta, porque também terão de aceitar cartão de débito ou crédito.