A filha do servidor público Marcelo Arcêncio, 47 anos, estava desde segunda-feira com um sangramento. Evellyn Brandão Arcêncio, 22 anos, estava grávida de um mês e havia descoberto a gravidez há pouco tempo. Na segunda-feira (09), ela foi ao Hospital Regional de Santa Maria tentar atendimento. “Só faziam a triagem. A prioridade era para quem estava na ambulância”, critica. Evellyn conseguiu atendimento no dia só 22h30.
Na madrugada de terça-feira (10), a garota voltou a ter sangramento, desta vez mais forte. “Tivemos que retornar de manhã ao hospital. Chegamos e estava lotado. Só conseguimos atendimento às 23h”, relembra Marcelo. O médico que atendeu Evellyn na terça-feira pediu uma ecografia e que retornasse no dia seguinte.
Evellyn descobriu que o feto estava morto na clínica. “A médica disse que ela precisaria voltar ao hospital para fazer uma curetagem (limpeza no útero)”, lamenta o pai da jovem. Os dois retornaram à unidade de saúde, quarta-feira (10), para a menina fazer o procedimento, mas, após 48 horas, o feto continua dentro do útero, já que até o fechamento desta edição Evellyn não tinha feito a limpeza.
A esposa do mecânico Carlos Leandro de Menezes Silva, 34 anos, passou por situação semelhante. Adriana Evangelista da Silva, 23 anos, gestante de quatro meses, chegou ao hospital com dores, por volta das 7h de quinta-feira (10). “Depois de uma hora a enfermeira a chamou para fazer triagem. Aí, depois de um tempo, o médico chamou e pediu para fazer um exame e tomar uma medicação para dor”, conta Leandro.
Mesmo depois de ter tomado a medicação, Adriana sentia dores, mas só podia retornar ao médico se tivesse com o resultado dos exames. “O exame não saía. A gente ficou dependendo do exame para ver o que era e não conseguimos mais atendimento”, relata.
Boletim de ocorrência agiliza o caso
Revoltados com a demora para o atendimento no centro obstétrico do Hospital Regional de Santa Maria, Leandro, Marcelo e mais um grupo de oito pessoas, que também aguardavam por atendimento, resolveram registrar um boletim de ocorrência na polícia.
“Só quando chegamos da delegacia, que já era quase 23h, foi que as pessoas começaram a ser atendidas”, aponta Leandro. A esposa dele precisou ficar internada para ficar em observação, pois ela está com uma infecção.
Evellyn também conseguiu o atendimento após as reivindicações. “Agora, ela está internada e foi medicada. Os remédios são para forçar a saída do resto de placenta que tem dentro do útero dela. Eles esperam que até hoje (ontem) saia, mas caso não, aí que eles vão fazer a curetagem”, conta o pai, Marcelo Arcêncio.
O mecânico Leandro conta que o que viu pode ser resumida em uma palavra: caos. “Vi mulher sangrando, mulher perdendo líquido. Os seguranças e enfermeiros só falavam que tinha só três médicos… O período que fiquei lá, vi muita mulher chorando de dor”, relembra.
Posicionamento
Em nota, a Secretaria de Saúde informa que o médico que atendeu Evellyn prestou todo o atendimento adequado, porém, o estado clínico evoluiu para o aborto.
“A pasta esclarece que os médicos estavam em procedimentos com outras pacientes, que são atendidas de acordo com a gravidade. Apenas durante à noite, entre os procedimentos principais, foram realizados cinco césares, um parto normal e uma curetagem. Já ao longo de toda quarta-feira (11), foram feitos 105 atendimentos nessa especialidade, sendo que havia em todos os turnos três plantonistas.”
A pasta reconhece que existe um déficit de recursos humanos. “Uma das medidas tomadas foi a nomeação de todos os 120 ginecologistas/obstetras do último concurso, sendo que a última nomeação ocorreu em julho de 2017”, conclui.