Um policial civil aposentado há cerca de 15 anos é suspeito de informar a frequência da Polícia Civil para criminosos da máfia das funerárias. O homem é um dos suspeitos levados a depor na segunda fase da Operação Caronte, deflagrada pela PCDF na manhã desta sexta-feira (17). Foram cumpridos 21 mandados de busca e apreensão, além de 11 mandados de condução coercitiva, a maioria contra donos de funerárias.
Na ação, investigadores apreenderam 37 rádios transmissores que, segundo o apurado, já eram vendidos com a frequência da PCDF. Os equipamentos ficavam nos carros das funerárias ou com os chamados papa-defuntos. “Houve uma ampliação significativa no número de funerárias investigadas – uma vez que houve elementos suficientes para que se representasse pela expedição de novos mandados de buscas”, relatou o delegado Marcelo Zago, diretor da Divisão de Assuntos Internos da PCDF.
Segundo o delegado, todas as clínicas tinham autorização para funcionar. Ainda assim, depoimentos surpreendentes chamam a atenção pela falta de sensibilidade. “Há relatos de uma série de irregularidades praticadas dentro dessas clínicas, algumas até macabras, como mutilação de corpos para caberem em determinados caixões”, disse Zago.
Máfia das funerárias
Dois grupos criminosos ligados ao ramo de serviços funerários de Taguatinga e Samambaia (Pioneira, Universal e Santa Cruz), atuavam interceptando o rádio da polícia atrás de mortes naturais. Com dados das famílias, chegavam antes do IML, se passavam por agentes públicos e ofereciam o serviço. Segundo investigadores, criminosos afirmavam que o processo seria mais rápido e “menos doloroso”.
Assim, conseguiam convencê-las a cancelar a solicitação do Rabecão, o serviço de recolhimento de mortos do IML. Em outra frente, tinham informantes em hospitais, de onde partiam as notícias de mortes. Eles foram desarticulados e presos pela Corregedoria-Geral da PCDF, com apoio do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Caronte
Na mitologia grega, Caronte é o barqueiro do Hades, que carrega as almas dos recém-mortos sobre as águas dos rios Estige e Aqueronte, que dividiam o mundo dos vivos do mundo dos mortos. Uma moeda para pagá-los pelo trajeto, geralmente um óbolo ou dânaca, era por vezes colocado dentro ou sobre a boca dos cadáveres, de acordo com a tradição funerária da Grécia Antiga. Segundo alguns autores, aqueles que não tinham condições de pagar a quantia ou os corpos não haviam sido enterrados, tinham de vagar pelas margens por cem anos.