Ao contrário da alegação de Wilmar Lacerda (PT), os pais da adolescente de 17 anos que supostamente se prostituía em troca de lanches não sabiam do envolvimento da filha com o petista. Em entrevista ao Metrópoles, a mãe da menina disse só ter tomado conhecimento do assédio do político à sua filha porque leu mensagens enviadas por ele via WhatsApp.
"Como ela não tinha celular, usava o meu. Não sabia mexer no telefone, mas um dia me ensinaram, e comecei a ver que ele a chamava pra sair e, pouco tempo depois, aparecia um carrão na porta"
Mãe da adolescente
O ex-secretário de Estado de Agnelo Queiroz (PT) se tornará senador da República em 1º de dezembro, pois o titular do posto, Cristovam Buarque (PPS-DF), se licenciará para fazer pré-campanha pelo país.
A mulher contou que, além de Wilmar, outros homens ofereciam vantagens para sair com a menina. Quando não iam apanhá-la na residência, em Planaltina, a garota era levada por uma suposta agenciadora de jovens bonitas da cidade. “Ela ficava horas e horas no celular, conversando. Daí, saía e, quando voltava, estava drogada, bêbada e nervosa”, disse.
O aparelho telefônico acabou apreendido para análise pela 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina) – unidade onde está registrada a Ocorrência nº 8355/2017 – e ainda não foi devolvido à dona. Desempregada, separada e sobrevivendo de doações, a mãe da garota relata que tentou por várias vezes alertá-la sobre os riscos de sair com homens que só queriam explorá-la sexualmente, mas não conseguia evitar as saídas da filha.
“Sou mãe solteira, doente, e não conseguia impedir que ela saísse de casa. Quando tentava segurá-la, ela quebrava as coisas”, narrou, enquanto mostrava a televisão danificada após um acesso de fúria da caçula de seis irmãos.
Com a despensa vazia parte do ano, ela acredita que as condições precárias da família motivaram a filha a se prostituir e aceitar as supostas ofertas de Lacerda.
Depois que a apertei, ela confessou que saía com ele [Wilmar Lacerda] porque podia comer em restaurantes. Aqui em casa, às vezes, não tinha o básico pra almoçar"
Mãe da adolescente que saía com Wilmar Lacerda
Ministério Público abre investigação
O processo que investiga o suposto envolvimento de Lacerda com prostituição de adolescentes corre em segredo de Justiça, mas o Metrópoles apurou que, após ouvirem o petista, os delegados da 31ª DP remeteram o inquérito policial ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Nesta segunda-feira (20/11), o pai da garota prestou depoimento no Núcleo de Atendimento à Família e aos Autores de Violência Doméstica (NAFAVD), na Promotoria de Planaltina. Ele não quis conversar com a reportagem, mas confirmou que não sabia do envolvimento da filha com Wilmar e outros homens que a exploravam sexualmente.
Wilmar se defende
Wilmar Lacerda disse estranhar o relato da mãe da garota, pois garante já ter dado carona para ela. “Eu a levei do Buritis 3 até uma parada do Jardim Roriz. Se ela negar, é um absurdo”, contou, na tentativa de justificar o relacionamento notório com a menina.
A mulher disse nunca ter entrado no carro do político. “Eu o conheci há muitos anos, mas, depois que virou político, passava aqui na frente e fingia que nem conhecia a gente”, rebateu.
O petista confirmou ser colega de uma mulher conhecida como Rebeca – apontada como aliciadora de adolescentes para homens endinheirados de Planaltina –, mas disse não se recordar se conheceu a adolescente com quem saía por intermédio dela.
“Conheço a Rebeca, assim como conheço muita gente em Planaltina, pois sou homem público e cresci na cidade. Sei que conheci a garota num bar, mas já faz um tempo, e não lembro quem me apresentou”, afirmou Lacerda.
Sem camisinha
De acordo com a adolescente, o primeiro encontro entre os dois ocorreu em um bar da Quadra 5 da cidade. Em outro, os dois teriam almoçado no Torre de Pisa, no Shopping Conjunto Nacional. O restaurante é especializado em doces e salgados, mas também vende comida a quilo.
Após a refeição, o petista teria convidado a jovem para o apartamento dele, ocasião em que aconteceu a primeira relação sexual entre os dois. Apesar das promessas de Rebeca de que seria bem remunerada, segundo relato da adolescente, Wilmar se recusava a lhe dar dinheiro.
“A declarante manteve relação sexual com Wilmar Lacerda por cinco vezes, o qual nunca pagou em espécie, pois dizia que não tinha dinheiro, mas sempre pagava um lanche”, consta num dos trechos do boletim policial.
Após o primeiro encontro, Wilmar e a menina trocaram mensagens pelo WhatsApp e teriam saído outras quatro vezes. Ela conta que, apesar de seus pedidos, o futuro senador se recusava a usar camisinha.
“Recorda que Wilmar não gostava de usar preservativo e dizia que não havia risco de a declarante engravidar, pois havia feito um procedimento de retirada de sêmen e guardado em uma clínica”, descreve a garota, em outra parte da ocorrência.